terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Colabaroção de Coccienelle




O SONHO
(Pedro Ayres Magalhães)

Quem contar
um sonho que sonhou
não conta tudo que encontrou
Contar um sonho é proibido

Eu sonhei
um sonho com amor
e uma janela e uma flor
uma fonte de água e o meu amigo

E não havia mais nada...
só nós, a luz e mais nada...
Ali morou o amor

Amor,
que trago em segredo
num sonho que não vou contar
e cada dia é mais sentido

Amor,
eu tenho um amor bem escondido
num sonho que não sei contar
e guardarei sempre comigo.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Ei, Pessoa!







Quando Fecho os Olhos
( Chico César/Carlos Rennó)



E aí você surgiu na minha frente,


E eu vi o espaço e o tempo em suspensão.Adicionar imagem


Senti no ar a força diferente


De um momento eterno desde então.


E aqui dentro de mim você demora;


Já tornou-se parte mesmo do meu ser.


E agora, em qualquer parte, a qualquer hora,


Quando eu fecho os olhos, vejo só você.


E cada um de nós é um a sós,


E uma só pessoa somos nós,


Unos num canto, numa voz.


O amor une os amantes em um ímã,


E num enigma claro se traduz;


Extremos se atraem, se aproximam


E se completam como sombra e luz.


E assim viemos, nos assimilando,


Nos assemelhando, a nos absorver.


E agora, não tem onde, não tem quando:


Quando eu fecho os olhos, vejo só você.


E cada um de nós é um a sós,


E uma só pessoa somos nós,


Unos num canto, numa voz.

Para a vida que Anda Louca!! PAZ!!




Onde Deus Possa Me Ouvir
(Vander Lee)

Sabe o que eu queria agora, meu bem...?

Sair chegar lá fora e encontrar alguém

Que não me dissesse nada

Não me perguntasse nada também

Que me oferecesse um colo ou um ombro

Onde eu desaguasse todo desengano

Mas a vida anda louca

As pessoas andam tristes

Meus amigos são amigos de ninguém.

Sabe o que eu mais quero agora, meu amor?

Morar no interior do meu interior

Pra entender porque se agridem

Se empurram pro abismo

Se debatem, se combatem sem saber

Meu amor...Deixa eu chorar até cansar

Me leve pra qualquer lugar

Aonde Deus possa me ouvir

Minha dor...Eu não consigo compreender

Eu quero algo pra beber

Me deixe aqui pode sair.

Adeus...



Socorro
(Arnaldo Antunes)

Socorro!

Não estou sentindo nada

Nem medo, nem calor, nem fogo

Não vai dar mais pra chorar

Nem pra rir...Socorro!

Alguma alma

Mesmo que penada

Me empreste suas penas

Já não sinto amor, nem dor

Já não sinto nada...Socorro!

Alguém me dê um coração

Que esse já não bate

Nem apanhaPor favor!

Uma emoção pequena

Qualquer coisa!

Qualquer coisaQue se sinta...Tem tantos sentimentos

Deve ter algum que sirva

Qualquer coisa

Que se sintaTem tantos sentimentos

Deve ter algum que sirva...Socorro!

Alguma rua que me dê sentido

Em qualquer cruzamento

Acostamento, encruzilhada

Socorro!

Eu já não sinto nada...Socorro!

Não estou sentindo nada

Nem medo, nem calor, nem fogo

Nem vontade de chorarNem de rir...Socorro!

Alguma almaMesmo que penada

Me empreste suas penas

Já não sinto amor, nem dor

Já não sinto nada...Socorro!

Alguém me dê um coração

Que esse já não bate

Nem apanhaPor favor!

Uma emoção pequena

Qualquer coisa!

Qualquer coisa

Que se sinta...Tem tantos sentimentos

Deve ter algum que sirva

Qualquer coisaQue se sinta

Tem tantos sentimentos

Deve ter algum que sirva...

Trago Clarice Lispector para desejar Feliz Aniversário a uma nova amiga!! Uma Amazona, mulher guerreira!! Parabéns Hipólita!!



Lindinha!!
Desejo a você muita sorte e muita saúde hoje e sempre!!
Foi uma grande prazer conhecer você, moça!!
Beijos no coração!!

Mas há a vida
(Clarice Lispector)

Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida, há o amor.


Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.


http://zezepina.utopia.com.br/poesia/poesia041.html

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Colaboração de Bel.




Corridinho


O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,

com seus olhos cediços,

põe caco de vidro no muro

para o amor desistir.

O amor usa o correio,

o correio trapaceia,

a carta não chega,

o amor fica sem saber se é ou não é.

O amor pega o cavalo,

desembarca do trem,

chega na porta cansado

de tanto caminhar a pé.

Fala a palavra açucena,

pede água, bebe café,

dorme na sua presença,

chupa bala de hortelã.

Tudo manha, truque, engenho:

é descuidar, o amor te pega,

te come, te molha todo.

Mas água o amor não é.


REFERÊNCIA: ADÉLIA PRADO em Poesia Reunida 1991 pág. 181

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Contribuição de Coccinelle para o Natal de Bienvenue-Ami.





Poema do Menino Jesus
(Fernando Pessoa na pessoa do Alberto Caeiro – O guardador de Rebanhos)

Num meio dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia
Vi Jesus Cristo descer à terra,
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.


Tinha fugido do céu,
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras,
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem


E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas -
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.


Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!


Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três,
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz


E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.
Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz no braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras nos burros,
Rouba as frutas dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas
Que vão em ranchos pelas estradas
Com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.


A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas,
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.


Diz-me muito mal de Deus,
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia,
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.


Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou -
"Se é que as criou, do que duvido" -
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
mas os seres não cantam nada,
se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres".
E depois, cansado de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
E eu levo-o ao colo para casa.
..........................................................................

Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.
E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.


A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.


A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direcção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos a dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.


Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.


Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade


Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer aos olhos os muros caiados.
Depois ele adormece e eu deito-o
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.


Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos,
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
.................................................................................

Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu no colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
....................................................................................

Esta é a história do meu Menino Jesus,
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Para vocês!!




Saudade...



"Um dia a maioria de nós irá se separar.

Sentiremos saudades de todasas conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos.

Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim... do companheirismo vivido.

Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje não tenho mais tanta certeza disso.

Em breve cada um vai pra seu lado, seja pelo destino, ou por algum desentendimento, segue a sua vida, talvez continuemos a nos encontrar quem sabe...... nos e-mails trocados.

Podemos nos telefonar conversar algumas bobagens....Aí os dias vão passar, meses...anos... até este contato tornar-se cadavez mais raro.

Vamos nos perder no tempo....Um dia nossos filhos verão aquelas

fotografias e perguntarão? Quem são aquelas pessoas?

Diremos...Que eram nossos amigos. E...... isso vai doer tanto!

Foram meus amigos, foi com eles que vivi os melhores anos de minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito.Vai dar uma vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente......Quando o nosso grupo estiver incompleto... nos reuniremos para um último adeus de um amigo. E entre lágrima nos abraçaremos.

Faremos promessas de nos encontrar mais vezes daquele dia em diante.Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a sua vidinha isolada do passado.

E nos perderemos no tempo.....Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo : não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades não sejam a causa de grandes

tempestades....Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os

meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"




HOJE ME DEI CONTA



Hoje me dei conta de que as pessoas vivem a esperar por algo

E quando surge uma oportunidade

Se dizem confusas e despreparadas,

Sentem que não merecem,

Que o tempo certo ainda não chegou,

E a vida passa e os momentos se acumulam

Como papéis sobre uma mesa.

Estamos nos preparando para qualquer coisa

Mas ainda não aprendemos a viver,

A arriscar por aquilo que queremos,

A sentir aquilo que sonhamos.

E assim adiamos nossos dias

E nossas vidas por tempo indeterminado

Até que a vida se encarregue de decidir por nós mesmos,

E percebemos o quanto perdemos

E o tanto que poderíamos ter evitado.Como somos tolos em nossos pensamentos limitados,

Em nossas emoções contidas,

Em nossas ações determinadas.

O ser humano se prende em si mesmo

Por medo e desconfiança vive como coisa

Num mundo de coisas

O tempo esperado é o agora,o hoje tem o nome de "presente" porque é isso que ele é.

Sua consciência lhe direciona,

Seus sentidos lhe alertam,

E suas emoções não mais são desprezadas.

Antes que tudo acabe é preciso fazer iniciar,

É preciso saber reiniciar mesmo com dor e sofrimento,

Antes arriscar do que apenas sonhar,

Ou o pior: ficar esperando...




" Soneto da Separação"



De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto.




De repente da calma fez-se o vento

Que dos olhos desfez a última chama

E da paixão fez-se o pressentimento

E do momento imóvel fez-se o drama.




De repente, não mais que de repente

Fez-se de triste o que se fez amante

Fez-se de triste o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante.



Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais do que de repente.



Quero ser teu amigo


Quero ser teu amigo

Nem demais e nem de menos

Nem tão longe e nem tão perto

Na medida mais precisa que eu puder

Mas amar-te como próximo, sem medida,

E ficar sempre em tua vida

Da maneira mais discreta que eu souber

Sem tirar-te a liberdadeSem jamais te sufocar

Sem forçar a tua vontade

Sem falar quando for a hora de calar

E sem calar quando for a hora de falar

Nem ausente nem presente por demais,

Simplesmente, calmamente, ser-te paz.

É bonito ser amigo,Mas confesso,

É tão difícil aprender,Por isso, eu te peço paciência

Vou encher este teu rostoDe alegrias, lembranças!
Dê-me tempoDe acertar nossas distâncias!

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Por Nossa Colaboradora Bel 2 Poemas


Depois das merecidas férias litorâneas!!
Ela volta ao lar!!
Bem vinda minha Linda Amiga e o espaço é todo seu!!



Digo Sim


Poderia dizer
que a vida é bela, e muito,
e que a revolução caminha com pés de flor
nos campos de meu país,
com pés de borracha
nas grandes cidades brasileiras
e que meu coração
é um sol de esperanças entre pulmões
e nuvens
Poderia dizer que meu povo
é uma festa só na voz
de Clara Nunes
no rodar
das cabrochas no carnaval
da Avenida.
Mas não. O poeta mente.
A vida nós a amassamos em sangue
e samba
enquanto gira inteira a noite
sobre a pátria desigual. A vida
nós a fazemos nossa
alegre e triste, cantando
em meio à fome
e dizendo sim
- em meio à violência e a solidão dizendo sim -
pelo espanto da beleza
pela flama de Tereza
pelo meu filho perdido
neste vaso continente
por Vianinha ferido
pelo nosso irmão caído
pelo amor e o que ele nega
pelo que dá e que cega
pelo que virá enfim,
não digo que a vida é bela
tampouco me nego a ela:
-digo sim


Ferreira Gullar em Na vertigem do dia. 1980




A primeira vez que entendi


A primeira vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na infância
cortei o rabo de uma lagartixa
e ele continuou se mexendo.
De lá pra cá
fui percebendo que as coisas permanecem
vivas e tortas
que o amor não acaba assim
que é difícil extirpar o mal pela raiz.
A segunda vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na adolescência me arrancaram
do lado esquerdo três certezas
e eu tive que seguir em frente.
De lá pra cá
aprendi a achar no escuro o rumo
e sou capaz de decifrar mensagens
seja nas nuvens
ou no grafite de qualquer muro.


Referência: Affonso Romano de Sant´anna em Vestígios de 2005

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

De Coccinelle para Bienvenue-Ami.



O MUNDO É GRANDE
(Carlos Drummond de Andrade)

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

(do livro AMAR SE APRENDE AMANDO)

Protesto contra a Censura no Blogger

Por Mari no LESBOSFERA.


Lesblogueiras,

Vocês andam acompanhando a discussão sobre a censura indiscriminada aos blogs lésbicos pelo Blogger / Blogspot. Caso ainda não estejam inteiradas sobre o assunto, basta clicar aqui, aqui e aqui.

Estamos dando início a um abaixo-assinado protestando contra a exclusão e censura de nossos blogs, sem razões justificadas. Os blogs censurados não infringem a Política de Conteúdo do Blogger nem os Termos de Serviço do Blogger.

Nossos blogs são censurados porque falamos do amor entre mulheres? Por que colocamos fotos de mulheres se beijando ou se acarinhando? É essa a razão? E os blogs heteros? Fotos de casais heteros são permitidas? Contos, textos ficcionais e poesias homoeróticas também estão sendo censurados!!

Se assim fosse, o que seria de escritores como Anais Nin, Henry Miller, Hilda Hist, D. H. Lawrence, Vladimir Nabokov e outros que se consagraram com maravilhosos livros de literatura erótica?

Não somos contra a censura de blogs que promovem a Pedofilia, a Zoofilia, a Discriminação, a Violência, o Racismo, entre outros. Que não respeitam os direitos autorais e nem publicam as fontes utilizadas nos textos.

Porém toda e qualquer punição do Blogger é atribuída à reclamação de usuários. Reclamações que nunca foram feitas para as autoras dos blogs, pessoamente. A política do Blogger é a de excluir ou censurar um blog a partir do momento que ocorre uma reclamação? Não há contato com a autora do blog, uma mensagem de advertência, nada? Simplesmente, o blog em questão tem sorte se não é excluído prontamente. Perde-se todo o trabalho feito ao longo do tempo. Além dos contatos, links, widgets, etc.

O que queremos é que o Blogger / Blogspot não ceda à pressões / reclamações homofóbicas para tirar do ar, blogs com conteúdo lésbico, em um ato de discriminação e desrespeito a liberdade de expressão da homoafetividade.

Para participar da nossa campanha, clique aqui e assine o abaixo-assinado.

A seguir, coloque em seu blog o selo da campanha.

Divulgue por toda a internet!!




Atenção: o selo foi feito para adaptar-se a qualquer cor e fundo do blog. Quando for colocado, ele irá aparecer com a cor do fundo da sua página.

A url do abaixo-assinado é: http://www.abaixoassinado.org/abaixoassinados/3338

Cole na sua página!!

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Colabaroção de Paula. Dedicado a Papillon.



A vida são deveres que trouxemos para fazer em casa.


Quando se vê, já são seis horas...
Quando se vê, já é sexta-feira...
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê, já não sabemos mais por onde andam nossos amigos.
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, passaram-se 50 anos.


Agora é tarde demais para ser reprovado.


Se me fosse dado um dia, uma oportunidade, eu nem olhava o relógio.Adicionar imagem
Seguiria sempre em frente e iria jogando, pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Seguraria todos os meus amigos, que já não sei onde e como estão, e diria: vocês são extremamente importantes para mim.


Seguraria o meu amor, que está, há muito, à minha frente e diria: Eu te amo.


Desta forma, eu digo: não deixe de fazer algo que gosta devido à falta de tempo.Não deixe de ter agluém ao seu lado, ou de fazer algo por puro medo de ser feliz.A única falta que terá, será desse tempo que infelizmente...não voltará mais.







Mario Quintana.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Colaboração de Bel!! Ah! Ainda de férias!!



NINGUÉM

Ninguém se engane se soar a hora,
se todos os relógios, de repente,
gaguejarem nem sei que dor fremente
que nunca veio e não se foi embora.


Ninguém se engane se souber quem chora,
que um grande choro convulsivo e quente
virá das coisas como espada ardente
atravessando a carne ontem, agora.


Ninguém se engane se dos seus papéis,
dos seus livros inertes, um lamento
terrível se levante como um vento
de maldição e de intenções cruéis.


Tudo, a este instante, é como um grande grito
quase a romper as cercas do infinito.


REFERÊNCIA: Alphonsus de Guimaraens Filho em Só a Noite é que Amanhece — Poemas Escolhidos e Versos Esparsos, de 2003.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Colabaroção de Coccienelle





Quero dedicar esse Poemeto Erótico do Manuel Bandeira a ela que brilha, que fascina e que cheira feito uma flor de laranjeira em botão. Ela que tem pela macia e mora no meu coração. Para você Peh Noir, de Coccinelle.

Poemeto Erótico
(Manuel Bandeira)

Teu corpo claro e perfeito,
- Teu corpo de maravilha
Quero possuí-lo no leito
Estreito da redondilha...

Teu corpo é tudo o que cheira...
Rosa... flor de laranjeira...
Teu corpo branco e macio
É como um véu de noivado...

Teu corpo é pomo doirado...
Rosal queimado do estio,
Desfalecido em perfume...
Teu corpo é a brasa do lume...

Teu corpo é chama e flameja
Como à tarde os horizontes...
É puro como nas fontes
A água clara que serpeja,
Que em cantigas se derrama...
Volúpia de água e da chama...

A todo momento o vejo...
Teu corpo... a única ilha
No oceano do meu desejo...

Teu corpo é tudo o que brilha,
Teu corpo é tudo o que cheira...Rosa, flor de laranjeira...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Bel, a colaboradora em férias!! Mas, continua colaborando!!! Boas férias Belzinha!!


TEMPO DE PERDER

Algo nos falta
E já não sabemos o quê.

Vestimo-nos
Com a nossa melhor camisa,
Calçamos sapatos novos,
Ainda podemos correr
Como se houvéssemos
Vinte anos a menos.

Mas estamos doentes.

Pensamos sem amor,
Sentimos sem amor,
E toda a intrepidez do mar
É apenas o nosso rugir de dentes.

As pernas estão nuas,
Os braços estão nus,
Acabou-se o mistério.

À mesa do jantar,
Não há mais comunhão.
Vamos juntos ao teatro
E talvez não retornemos.

Na penumbra do acaso,
Os massacres acontecem.
O tempo arde, o tempo urge:
Somos os sobreviventes.


REFERÊNCIA: Mariana Ianelli em Fazer Silêncio de 2005

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Colabaroção de Coccienelle


Uma canção do Chico Buarque e do Ruy Guerra para a peça Calabar. Adoro essa música. Principalmente as estrofes cinco e seis. Amo paixões vadias. A Simone e a Gal Costa fazendo dueto é tudo de lindo.


Bárbara(Chico Buarque - Ruy Guerra)


Bárbara, Bárbara


Nunca é tarde, nunca é demais

Onde estou, onde estás

Meu amor, vem me buscar


O meu destino é caminhar assim

Desesperada e nua

Sabendo que no fim da noite serei tua


Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva

Acumulando de prazeres teu leito de viúva


Bárbara, Bárbara

Nunca é tarde, nunca é demais

Onde estou, onde estás

Meu amor vem me buscar


Vamos ceder enfim à tentação das nossas bocas cruas

E mergulhar no poço escuro de nós duas


Vamos viver agonizando uma paixão vadia

Maravilhosa e transbordante, feito uma hemorragia


Bárbara, BárbaraNunca é tarde, nunca é demais

Onde estou, onde estásMeu amor vem me buscar

sábado, 29 de novembro de 2008

Para você pessoa!!! Thiago de Mello




Poema perto do fim


A morte é indolor.

O que dói nela é o nada que a vida faz do amor.

Sopro a flauta encantada e não dá nenhum som.

Levo uma pena leve de não ter sido bom.

E no coração, neve.





Ninguém me habita


Ninguém me habita. A não ser

o milagre da matéria

que me faz capaz de amor,

e o mistério da memória

que urde o tempo em meus neurônios,

para que eu, vivendo agora,

possa me rever no outrora.

Ninguém me habita. Sozinho

resvalo pelos declives

onde me esperam, me chamam

(meu ser me diz se as atendo)

feiúras que me fascinam,

belezas que me endoidecem.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bel, Colaboradora em férias e colaborando!!! Boas férias Belzinha!!




A Hora do Cansaço



As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poderde respirar a eternidade.


Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.


Do sonho de eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.



REFERÊNCIA: Carlos Drummond de Andrade em Corpo de 1984

Contribuição de Aleph.





Amar


Que pode uma criatura senão;
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e mal
amar,amar,
desamar,amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar tambem, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisao de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inospito, o áspero,um vaso sem flor,
um chao de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas perfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidao,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implicita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Sobre o poema de Drummond, a liberdade poetica foi demais, sorry...conseguiresgatá-lo na integra, foi publicado em Claro enigma, econsta da Seleta em Prosa e Verso p.163, 1973. Record



O que lembra Cecilia,

"Pus meus sonhos num barquinho,
e meu barquinho em cima do mar
abri o mar com as maos,
para o meu barquinho navegar..."



Fico devendo Cecilia...

domingo, 23 de novembro de 2008

Contribuição de Aleph


Leitura em Braille


É estranho escrever um poema, sem que meus dedos reconheçam o traçado das letras, sem que minhas mãos não se sujem, com a tinta queteima em sair da caneta. É estranho escrever um poema, sem que estas letras, apesar declaras, denunciem que não são as minhas próprias letras que, nomínimo, agora estariam trêmulas, quase como as de uma criança.
Assim é estranho também, quando percorro com meus dedos o seucorpo. Seu corpo duro, seu corpo áspero, o seu queijo quadrado, seuslábios grossos, os pêlos em seu peito, seguindo até sua virilha, enela encontrando o gozo, um gozo sim, porque não dizer, mas de gostoamargo, gosto forte, um gozo que sempre me deixa mais só, ao final damadrugada, mesmo estando ali, deitada ao seu lado, colada à sua pele.
Agora, percorrendo com as pontas destes meus mesmos dedos, commeus olhos fechados, os longos fios que descem em seu rosto, marcandoseu testa, tocando a sua pele macia, cheirando a orvalho... e com otoque dos meus dedos reconhecendo seus seios, passo a ler o seu corpopelas minhas mãos, pelos meus lábios, como se seu corpo fosse umaescrita em Braille.
Ah! Como é fácil e familiar esta leitura... eu chego a metocar ao te tocar, tamanha é a cumplicidade dos nosso corpos, tamanhaé a união de nossa pele. Da suavidade de suas formas, ao final donosso gozo, o sentimento é um estado de "sollitude", de comunicaçãonão verbal, de cumplicidade.
Do toque dos seus lábios, ao encontro de nossos ventres, tudoé feroz e familiar, num cavalgar de desejos.
São duas escritas, duas leituras, feitas pelos mesmos dedos,pelas minhas mesmas mãos.
Mas quando passamos da leitura em Braille de nossos espíritos,para a escrita de nossos amores, tudo fica borrado. De difícilentendimento.
Se da leitura em Braille do seu corpo eu chego à minha alma,da convivência diária, áspera, do dia- a- dia, tudo se perde.
Eu me perco.
Este é o meu meio do caminho, sagitarianamente como sou.
Estou continuando a escrever, para me reconhecer em Braillequem sou eu. Confusa, atrapalhada, uma mulher que se vê e se querdiante do espelho.
Mas volto à repetir, esta metade do caminho não percorrido,do desejo que é feminino dói. É solitária.


Texto de Aleph.

Colabaroção de Coccienelle




Segue abaixo um conto retirado do livro CUENTOS PARA PENSAR, do escritor-psicanalista argentino Jorge Bucay. Esse é o meu conto preferido, o que mais me emociona. Espero que apreciem.


O BUSCADOR


Esta é a história de um homem que poderia ser chamado de Buscador. Um buscador é alguém que busca, não necessariamente alguém que encontra. Tampouco é alguém que sabe o que está procurando. É simplesmente alguém cuja vida é uma eterna busca.


Certo dia, o buscador sentiu que deveria ir para o povoado de Kammir. Ele havia aprendido a ouvir sua intuição. Assim, deixou tudo e partiu.


Depois de dois dias trilhando caminhos poeirentos, ele avistou Kammir, ao longe. Um pouco antes de chegar ao povoado, uma colina à sua direita lhe chamou a atenção. Estava recoberta por um verde maravilhoso e havia muitas árvores, pássaros e flores encantadoras; era rodeada por uma espécie de cerca pequena de madeira lustrada. Uma porta de bronze cerrava a entrada. Prontamente, esqueceu o povoado e sucumbiu perante a tentação de descansar por um momento naquele lugar.


O buscador atravessou o portão e começou a caminhar lentamente entre as pedras brancas que estavam aleatoriamente dispostas entre as árvores. Deixou seus olhos pousarem como mariposas em cada detalhe daquele paraíso.


Seus olhos eram olhos de um buscador e talvez por isso descobriram, sobre uma das pedras, a seguinte inscrição:


ABDUL TAREG, viveu 8 anos, 6 meses, 2 semanas e 3 dias.


Surpreendeu-se ao se dar conta de que aquela pedra não era uma pedra qualquer, mas sim uma lápide. Sentiu pena ao pensar que um garoto de tão pouca idade estava enterrado naquele lugar. Observando ao seu redor o buscador se deu conta de que a pedra ao lado também tinha uma inscrição que dizia:



YAMIR KALIB, viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas.



O buscador se sentiu terrivelmente comovido. Aquele lugar tão bonito era um cemitério e sob cada pedra havia uma tumba. Uma por uma leu as lápides. Todas tinham inscrições similares. Um nome e o tempo de vida exato do falecido. Para seu espanto, a pessoa mais velha ali enterrada tinha pouco mais de onze anos. Tomado por uma grande dor, sentou-se e pôs-se a chorar.


O administrador do cemitério que por ali passava, aproximou-se. Vendo-o chorar, perguntou-lhe se chorava por algum parente.


– Não! Nenhum parente, disse o buscador. O que aconteceu a esse povo? Que coisa terrível se abateu sobre esta cidade? Por que tantas crianças mortas enterradas neste lugar? Que horrível maldição pesa sobre esse povo que o obrigou a construir um cemitério só para crianças?


O administrador do cemitério sorriu e disse:


– Calma. Não existe maldição nenhuma. Acontece que aqui temos um velho costume. Quando um jovem completa quinze anos, seus pais o presenteiam com uma caderneta, como esta que trago pendurada ao pescoço. É uma tradição entre nós que a partir daí, cada vez que desfrutamos intensamente de algo, abrimos a caderneta e anotamos na margem esquerda o que foi desfrutado; na margem direita, quanto tempo durou o gozo que tal desfrute proporcionou. Conheceu uma garota e se apaixonou por ela. Quanto tempo durou essa paixão e o prazer em conhecê-la? A emoção do primeiro beijo. Quanto durou? Um minuto e meio? Dois dias? Uma semana? E a gravidez ou o nascimento do primeiro filho? E as festas com os amigos? E a viagem mais desejada? E o reencontro com o irmão que retorna de um país distante? Quanto tempo durou o desfrutar dessas situações? Horas? Dias? Assim, vamos anotando na caderneta cada momento que desfrutamos. Quando alguém morre, é nosso costume, abrir sua caderneta para somar o tempo desfrutado a fim de escrevê-lo sobre sua tumba, porque esse é, para nossa tradição, o único e verdadeiro tempo vivido.



Jorge Bucay (In: Cuentos para pensar). Tradução Coccinelle (http://www.jesuiscoccinelle.blogspot.com/)


Coccinlle pregunta: ¿Cuanto tiempo hemos vivido?

sábado, 22 de novembro de 2008

Para Tia Charlotte. Finalmente!!




Ainda Uma Vez Adeus
(Gonçalves Dias)


I

Enfim te vejo! - enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhado A não lembrar-me de ti!


II

Dum mundo a outro impelido, Derramei os meus lamentos Nas surdas asas dos ventos, Do mar na crespa cerviz! Baldão, ludíbrio da sorte Em terra estranha, entre gente, Que alheios males não sente, Nem se condói do infeliz!


III

Louco, aflito, a saciar-me D'agravar minha ferida, Tomou-me tédio da vida, Passos da morte senti; Mas quase no passo extremo, No último arcar da esperança, Tu me vieste à lembrança: Quis viver mais e vivi!


IV

Vivi; pois Deus me guardava Para este lugar e hora! Depois de tanto, senhora, Ver-te e falar-te outra vez; Rever-me em teu rosto amigo, Pensar em quanto hei perdido, E este pranto dolorido Deixar correr a teus pés.


V

Mas que tens? Não me conheces? De mim afastas teu rosto? Pois tanto pôde o desgosto Transformar o rosto meu? Sei a aflição quanto pode, Sei quanto ela desfigura, E eu não vivi na ventura... Olha-me bem, que sou eu!


VI

Nenhuma voz me diriges!... Julgas-te acaso ofendida? Deste-me amor, e a vida Que me darias - bem sei; Mas lembrem-te aqueles feros Corações, que se meteram Entre nós; e se venceram, Mal sabes quanto lutei!


VII

Oh! se lutei!... mas devera Expor-te em pública praça, Como um alvo à populaça, Um alvo aos dictérios seus! Devera, podia acaso Tal sacrifício aceitar-te Para no cabo pagar-te, Meus dias unindo aos teus?


VIII

Devera, sim; mas pensava, Que de mim t'esquecerias, Que, sem mim, alegres dias T'esperavam; e em favor De minhas preces, contava Que o bom Deus me aceitaria O meu quinhão de alegria Pelo teu, quinhão de dor!


IX

Que me enganei, ora o vejo; Nadam-te os olhos em pranto, Arfa-te o peito, e no entanto Nem me podes encarar; Erro foi, mas não foi crime, Não te esqueci, eu to juro: Sacrifiquei meu futuro, Vida e glória por te amar!


X

Tudo, tudo; e na miséria Dum martírio prolongado, Lento, cruel, disfarçado, Que eu nem a ti confiei; "Ela é feliz (me dizia) "Seu descanso é obra minha." Negou-me a sorte mesquinha... Perdoa, que me enganei!


XI

Tantos encantos me tinham, Tanta ilusão me afagava De noite, quando acordava, De dia em sonhos talvez! Tudo isso agora onde pára? Onde a ilusão dos meus sonhos? Tantos projetos risonhos, Tudo esse engano desfez!


XII

Enganei-me!... - Horrendo caos Nessas palavras se encerra, Quando do engano, quem erra. Não pode voltar atrás! Amarga irrisão! reflete: Quando eu gozar-te pudera, Mártir quis ser, cuidei qu'era... E um louco fui, nada mais!


XIII

Louco, julguei adornar-me Com palmas d'alta virtude! Que tinha eu bronco e rude C'o que se chama ideal? O meu eras tu, não outro; Stava em deixar minha vida Correr por ti conduzida, Pura, na ausência do mal.


XIV

Pensar eu que o teu destino Ligado ao meu, outro fora, Pensar que te vejo agora, Por culpa minha, infeliz; Pensar que a tua ventura Deus ab eterno a fizera, No meu caminho a pusera... E eu! eu fui que a não quis!


XV

És doutro agora, e pr'a sempre! Eu a mísero desterro Volto, chorando o meu erro, Quase descrendo dos céus! Dói-te de mim, pois me encontras Em tanta miséria posto, Que a expressão deste desgosto Será um crime ante Deus!


XVI

Dói-te de mim, que t'imploro Perdão, a teus pés curvado; Perdão!... de não ter ousado Viver contente e feliz! Perdão da minha miséria, Da dor que me rala o peito, E se do mal que te hei feito, Também do mal que me fiz!


XVII

Adeus qu'eu parto, senhora; Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo, Ter sepultura entre os meus; Negou-me nesta hora extrema, Por extrema despedida, Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus!


XVIII

Lerás porém algum dia Meus versos d'alma arrancados, D'amargo pranto banhados, Com sangue escritos; - e então Confio que te comovas, Que a minha dor te apiade Que chores, não de saudade, Nem de amor, - de compaixão.

Lindinha, dedicado a você com todo carinho!!




Arte de amar


(Thiago de Mello)


Não faço poemas como quem chora,

nem faço versos como quem morre.

Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira

quando muito moço; achava que tinha os dias contados pela tísica

e até se acanhava de namorar.

Faço poemas como quem faz amor.

É a mesma luta suave e desvairada

enquanto a rosa orvalhada

se vai entreabrindo devagar.

A gente nem se dá conta, até acha bom,

o imenso trabalho que amor dá para fazer.

Perdão, amor não se faz. Quando muito, se desfaz.

Fazer amor é um dizer

(a metáfora é falaz)

de quem pretende vestir

com roupa austera a beleza

do corpo da primavera.

O verbo exato é foder.

A palavra fica nua para todo mundo ver

o corpo amante cantando a glória do seu poder.


La main de le destinée.


Colaboração de Christiane Viens.




Un vieux paysan chinois avait un cheval.Un jour, l’animal s’enfuit et ne rentra pas.Les voisins disent : " C’est pas de chance ! "L’homme répond :" Chance ou malchance, qui pourrait le dire ? "
Et voilà que quinze jours plus tard,le cheval revient à la ferme suivi d’une dizaine de chevaux sauvages.On dit au paysan : " Tu as bien de la chance ! "L’homme déclare :" Chance ou malchance, qui le sait ? "
Le fils du paysan saute sur une des montures,part à fond de train, tombe et se casse la jambe.Pour sûr, c’est de la malchance.Mais le père branle la tête :" Chance ou malchance, on verra bien. "
La guerre civile faisait rage dans la province.Une bande de soldats passe dans le village,emmenant de forcetous les jeunes gens en âge de porter un fusil.Seul le garçon à la jambe brisée ne part pas.Chance ou malchance, qui pouvait le dire ?
" Les choses ne sont pas toujours ce qu’elles semblent être. "
On ne sait jamais si tel événement est chance ou malchance,il faut attendre la fin de l’histoire et peut-être la fin de la vie.Alors, en se retournant, on verra mieux ce qu’il en était.
Em effet, souvenons-nous de cette parabole :
" Les choses ne sont pas toujours ce qu’elles semblent être. "
On ne sait jamais si tel événement est chance ou malchance,il faut attendre la fin de l’histoire et peut-être la fin de la vie.Alors, en se retournant, on verra mieux ce qu’il en était.

(Rapporté par D.H. Munich)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Por Nossa Colaboradora Bel





EQUILÍBRIO

Por amar e sofrer e ser feliz
sei que tive da vida o natural
e se ela não me deu tudo o que quis
foi, talvez, porque eu quis sempre o irreal.

Ao lhe pedir amor nunca supus
Que lhe estava pedindo o bem e o mal,
que ora teria aos ombros uma cruz
ora ao céu subiria, imaterial.

Pois o amor tem nuances imprevistas
quem dele vive nunca faz conquistas
que possam ter feição definitiva.

São premissas do amor: o céu, o inferno;
e entre os dois sofro e gozo o amor eterno
e é por amar demais que inda estou viva.

REFERÊNCIA: Maria Braga Horta em Caminho de Estrelas 1996

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Esse Poema é Colabaroção de Coccienelle




GOVERNAR


(Carlos Drummond de Andrade)


Os garotos da rua resolveram brincar de Governo, escolheram o Presidente e pediram-lhe que governasse para o bem de todos.
- Pois não - aceitou Martim. - Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a minha segurança. Januário será meu Ministro da Fazenda e pagará o meu lanche.
- Com que dinheiro? - atalhou Januário.
- Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do Governo.
- E o que é que nós lucramos com isso? - perguntaram em coro.
- Lucram a certeza de que tem um bom Presidente. Eu separo as brigas, distribuo tarefas, trato de igual para igual com os professores. Vocês obedecem, democraticamente.
- Assim não vale. O Presidente deve ser nosso servidor, ou pelo menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.
- Eu sou o Presidente e não posso ser igual a vocês, que são presididos. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser Presidente é moleza? Já estou sentindo como este cargo é cheio de espinhos.
Foi desposto e dissolvida a República.

Como te amo?



Como te amo? Deixa-me contar de quantas maneiras.

Amo-te até ao mais fundo, ao mais amplo e ao mais alto que a minha alma pode alcançar buscando, para além do visível dos limites do Ser e da Graça ideal.

Amo-te até às mais ínfimas necessidades de todosos dias à luz do sol e à luz das velas.

Amo-te com liberdade, enquanto os homens lutampela Justiça;

Amo-te com pureza, enquanto se afastam da lisonja.

Amo-te com a paixão das minhas velhas mágoase com a fé da minha infância.

Amo-te com um amor que me parecia perdido - quando

perdi os meus santos - amo-te com o fôlego, os

sorrisos, as lágrimas de toda a minha vida!

E, se Deus quiser, amar-te-ei melhor depois da morte.






Elizabeth Barrett Browning

Lua adversa(Cecília Meireles )






Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Por Nossa Colaboradora Bel 3 Poemas





Se ela quisesse


Se ela tivesse
A coragem de morrer de amor
Se não soubesse
Que a paixão traz sempre muita dor
Se ela me desse
Toda devoção da vida
Num só instante
Sem momento de partida

Pudesse ela me dizer
O que eu preciso ouvir
Que o tempo insiste
Porque existe um tempo que há de vir
Se ela quisesse, se tivesse essa certeza
De repente, que beleza
Ter a vida assim ao seu dispor
Ela veria, saberia que doçura
Que delícia, que loucura
Como é lindo se morrer de amor
REFERÊNCIA: Vinícius de Moraes em Poesia Completa e Prosa “Cancioneiro” editora nova aguilar 1998



CONFISSÃO

Sejamos sinceros,
meu bem,
dispamos o pijamadas mitologias:
a eternidade não conhece o amor.



O amor também não sabe
verdadeiramente
o que é o amor


e, no fundo, nós nunca acreditamos muito
em parto
sem dor.

REFERÊNCIA: Iacyr Anderson Freitas em A soleira e o Século 2002



LXII


Que as barcaças do Tempo me devolvam
A primitiva urna de palavras.
Que me devolvam a ti e o teu rosto
Como desde sempre o conheci: pungente
Mas cintilando de vida, renovado
Como se o sol e o rosto caminhassem
Porque vinha de um a luz do outro.


Que me devolvam a noite, o espaço
De me sentir tão vasta e pertencida
Como se as águas e madeiras de todas as barcaças
Se fizessem matéria rediviva, adolescência e mito.
Que eu te devolva a fome do meu primeiro grito.


REFEFÊCIA: Hilda Hist em Amavisse de 1989

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Plagiando a saudade de lá estou com saudade aqui!!


Saudade.
(Iara Gonçalves!)

Sentimento que acompanha situações diferentes.


Saudade de quem partiu para não mais voltar e deixou lembranças doces guardadas como tesouro em nossos corações.




Saudade dos amores que perdemos e gostaríamos de ter guardado para sempre.


Saudade dos momentos que vivemos e das coisas que fizemos, e de muitas outras coisas que gostaríamos de ter feito.




Saudade do amigo que aos poucos foi partindo, como se lhe fosse permitido ir embora e deixar vazio seu espaço em nossas vidas.




Saudade para sempre, aquele sentimento que volta e meia nos faz parar no tempo e sussurrar ao vento, para que ele leve ao ouvido de quem perdemos, as palavras mágicas que acreditamos ser capazes de aliviar a saudade:

Volta logo, volta.







Acalanto
(Ada Ciocci.)

Vai amado.
Busca por onde quiseres,
com quem quiseres,
como quiseres,
o prazer.
Até mesmo,
aquele prazer que um dia alguém apelidou de amor.
E, se por acaso te cansares e,
do compromisso que um dia nos uniu te lembrares,
se desejares, volta.
Serei a que conforta.
Não saberás da dor, da saudade,
das lágrimas sentidas que tua ausência causou.

domingo, 9 de novembro de 2008

MOMENTOS NATIVOS




Walt Whitman
(Tradução: Coccinelle)

Momentos nativos – quando vens a mim – ah vós que aqui estais agora,
Dai-me neste instante tão somente diversões libidinosas,
Banhai-me com o líquido de minhas paixões, dai-me uma vida áspera e rançosa,
Ao dia eu me uno aos elementos da natureza, também noite a fora,
Eu estou para aqueles que acreditam em deleites livres, eu participo das orgias noturnas dos jovens varões,
Eu danço com os dançarinos e bebo com os beberrões,
Os ecos ressoam nossos clamores indecentes, eu escolho alguém frágil para meu amigo querido,
Ele deve ser delinqüente, rude, iletrado, deve ser alguém condenado pelos outros por suas faltas,
Não mais interpretarei papel algum, por que devo exilar-me de meus companheiros?
Oh vocês, marginais de toda espécie, eu não os evito,
Eu estou entre vocês, eu serei vosso poeta,
Estarei para vós mais que para os outros.

Para você lindinha!!!




Eu....
(Florbela Espanca)

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!


Florbela Espanca, Livraria Martins Fontes Editora, 1996 - S.Paulo, Brasil

sábado, 8 de novembro de 2008

Não sei




de Fátima Andersen

Não sei de mim
se daquilo que parece ser
me perdi.

Deixei que a vida me vivesse e,
perdendo-me da vida,
a vida perdeu-se.


E menti muito,
para ser melhor
poeta

sexta-feira, 7 de novembro de 2008



Para Peh e Cocci....Cora Coralina!!!






(Cora Coralina)

Nas palmas de tuas mãos


leio as linhas da minha vida.


Linhas cruzadas, sinuosas,


interferindo no teu destino.


Não te procurei, não me procurastes


– íamos sozinhos por estradas diferentes.


Indiferentes, cruzamos


Passavas com o fardo da vida...


Corri ao teu encontro.


Sorri. Falamos.


Esse dia foi marcado com a pedra branca


da cabeça de um peixe.


E, desde então, caminhamos


juntos pela vida...










Saber Viver


(Cora Coralina)




Não sei... Se a vida é curta Ou longa demais pra nós,


Mas sei que nada do que vivemos Tem sentido,


se não tocamos o coração das pessoas.




Muitas vezes basta ser:


Colo que acolhe,


Braço que envolve,


Palavra que conforta,


Silêncio que respeita,


Alegria que contagia,


Lágrima que corre,


Olhar que acaricia,


Desejo que sacia,


Amor que promove.


E isso não é coisa de outro mundo,


É o que dá sentido à vida.


É o que faz com que ela


Não seja nem curta,


Nem longa demais,


Mas que seja intensa,


Verdadeira, pura...


Enquanto durar





Por nossa colaboradora Bel 3 lindos poemas:


Poema da Eternidade

Eternidade...
Os que vão morrer te saúdam
Com as mãos crispadas de frio
E os olhos vidrados pela contemplação da noite;
Nós que sentimos a solidão crescer na alma,
Planta vinda das raízes do ser,
Regada pelo pranto que nunca chega aos olhos;
Nós que possuímos a intuição do efêmero,
A seiva das árvores seculares
E a tristeza dos lobos da floresta;
Nós que deixamos nossos corpos
Plantados como marcos
À beira das estradas;
Nós, os transitórios caminheiros,
Que morremos na arena do espaço
Dilacerados pelos búfalos do tempo;
Nós, os escravos da vida e o alimento da morte,
Que entramos no anfiteatro de pedra
Com os pulsos atados pela dúvida,
Com os olhos cobertos pela poeira dos séculos
E a palavra cimentando os lábios partidos
-Nós, os mortos de amanhã,
Te saudamos,
Primeira e última Rainha do Silêncio!

Paulo Bonfim em 50 Anos de Poesia pág. 63 de 2000




PRESENÇA



É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,

teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento

das horas ponha um frêmito em teus cabelos

...É preciso que a tua ausência trescales

utilmente, no ar, a trevo machucado,

as folhas de alecrim desde há muito guardadas

não se sabe por quem nalgum móvel antigo

...Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janelae

respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu sentir

como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida

...Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista

que nunca te pareces com o teu retrato

...E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


Mario Quintana em Apontamentos de História Natural de 1976




Amém


Hoje acabou-se-me a palavra,

e nenhuma lágrima vem

Ai, se a vida se me acabara

também.



A profusão do mundo, imensa,

tem tudo, tudo - e nada tem.

Onde repousar a cabeça?

No além?



Fala-se com os homens, com os santos,
Consigo com Deus

...E ninguém entende o que se está contando

e a quem...



Mas terra e sol, luas e estrelas

giram de tal maneira bem

que a alma desanima de queixas.

Amém.


Cecília Meireles em Vaga Música de 1942

terça-feira, 4 de novembro de 2008




Poemas dos Dois Exílios


Análogo começo

(Fernando Pessoa)


Análogo começo.

Uníssono me peço.

Gaia ciência o assomo

— Falha no último tomo.




Onde prolixo ameaço

Paralelo transpasso

O entreaberto haver

Diagonal a ser.




E interlúdio vernal,

Conquista do fatal,

Onde, veludo, afaga

A última que alaga.




Timbre do vespertino.

Ali, carícia, o hino

O utonou entre preces,

Antes que, água, comeces.



segunda-feira, 3 de novembro de 2008




A contribuição de Coccinelle para o blog‏.
Um verso que é pura lascívia dedicado a BEL.

Como Adão ao amanhecer

Como Adão ao amanhecer
Deixando a sombra dos arvoredos, refrescado pelo sono,
Observa-me quando eu passar, ouça minha voz, aproxima-te
Toca-me, coloca a palma da tua mão sobre meu corpo quando eu passar
Não tenhas receio de meu corpo.

Walt Whitman (Folhas da relva / Leaves of grass). Tradução Coccinelle.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008




Por nossa Colaboradora Bel 2 lindos Poemas:


Amar!

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além ...
Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!...
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disser que se pode amar alguém
Durante a vida inteira é porque mente!

Há uma primavera em cada vida:
É preciso cantá-la assim florida,
Pois se Deus nos deu voz, foi pra cantar!

E,se um dia hei -de ser pó, cinza e nada,
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... pra me encontrar...
REFERÊNCIA: FLORBELA ESPANCA em Charneca em Flor de 1930


Para Coccinelle.

Lascívia

Quero tê-la nos braços delirante,
Nesse calor que à carne dá ao desejo,
Quero-a impetuosa, lúbrica, ofegante,
Insatisfeita ao beijo, ansiando o beijo¦

Que você seja só e toda amante,
Nada mais, nada, sem rubor nem pejo...
Confusa, estranha, pálida, um instante...
É assim que a quero, e penso, e sinto, e vejo¦

E tudo se dará num só momento,
Que durará o nada, o tudo, o nada,
E será a luz, a flor, a força, o vento¦

Fará do agora toda a eternidade,
Fará da eternidade toda o agora,
E de nós dois fará uma só vontade¦

REFERÊNCIA: OSCAR DIAS CORRÊA em Antologia dos Poetas Brasileiros organizado por Mariazinha Congílio Pág. 162


Esse foi dedicado a Coccinelle(É de colaboradora para colaboradora nada mais...)


domingo, 26 de outubro de 2008



Uma Colaboração da "MITOLÓGICA" criatura Coccinelle.


O Jardim do Amor (de Sons da Experiência)
(William Blake - Tradução Coccinelle)

Eu fui ao Jardim do Amor,
E vi o que jamais imaginei:
Uma Capela fora erguida em meio,
Ao verdor onde sempre brinquei.

E os portões dessa capela estavam cerrados,
“Tu não podes” era o escrito sobre a entrada;
Então eu me voltei para o Jardim do Amor
Onde nasciam muitas flores delicadas;

E vi o jardim repleto de sepulturas,
E lápides onde as flores deveriam estar;
E padres em vestes pretas andavam em círculos,
E atavam com espinhos minhas alegrias e desejos.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008


Assim eu vejo a vida
(Cora Coralina)

A vida tem duas faces:Positiva e negativa

O passado foi duro

mas deixou o seu legado

Saber viver é a grande sabedoria

Que eu possa dignificar

Minha condição de mulher,

Aceitar suas limitações

E me fazer pedra de segurança

dos valores que vão desmoronando.

Nasci em tempos rudes

Aceitei contradições

lutas e pedras

como lições de vidae delas me sirvo

Aprendi a viver.





HOJE ME DEI CONTA
(Fernando Pessoa)


Hoje me dei conta de que as pessoas vivem a esperar por algo

E quando surge uma oportunidade

Se dizem confusas e despreparadas,

Sentem que não merecem,

Que o tempo certo ainda não chegou,

E a vida passa e os momentos se acumulam

Como papéis sobre uma mesa.

Estamos nos preparando para qualquer coisa

Mas ainda não aprendemos a viver,

A arriscar por aquilo que queremos,

A sentir aquilo que sonhamos.

E assim adiamos nossos dias

E nossas vidas por tempo indeterminado

Até que a vida se encarregue de decidir por nós mesmos,

E percebemos o quanto perdemos

E o tanto que poderíamos ter evitado.

Como somos tolos em nossos pensamentos limitados,

Em nossas emoções contidas,

Em nossas ações determinadas.

O ser humano se prende em si mesmo

Por medo e desconfiança vive como coisa

Num mundo de coisas

O tempo esperado é o agora,

o hoje tem o nome de "presente" porque é isso que ele é.

Sua consciência lhe direciona,

Seus sentidos lhe alertam,

E suas emoções não mais são desprezadas.

Antes que tudo acabe é preciso fazer iniciar,

É preciso saber reiniciar mesmo com dor e sofrimento,

Antes arriscar do que apenas sonhar,

Ou o pior: ficar esperando...