domingo, 13 de novembro de 2011



 O Instituto ABCD, em parceria com o Instituto Cefac, disponibilizará o acesso a uma série de vídeos informativos sobre Dislexia, com a participação de especialistas da área. Os temas e vídeos abordados são os seguintes:

1) Dificuldades ou Transtornos de Aprendizagem? Renata Mousinho e Jaime Zorzi.



2) Transtorno específico de aprendizagem: Dislexia. Simone Capellini e Ana Luiza Navas.



3) Transtorno específico de aprendizagem: Dislexia e comorbidades (discalculia e TDAH). Rubens Wajnsztejn e Mônica Weinstein.



4) Transtorno específico de aprendizagem: estratégias para o acompanhamento educacional. Sônia Moojen e Giseli Germano.



5) Aspectos comportamentais e emocionais relacionados aos transtornos de aprendizagem. Noemi Takiuchi e Ana Luiza Borba.



6) Importância da família no acompanhamento dos transtornos de aprendizagem. Consuelo Mazzini e Vania Pavão.

A dislexia, transtorno de aprendizagem que afeta a leitura e a escrita de 3% a 5% da população brasileira, foi o tema de diversas atividades desenvolvidas entre os dias 31 de outubro a 06 de novembro de 2011.
Acesse no Portal do Instituto ABCD todo material compilado sobre a Semana: uma série de vídeos informativos, matérias publicadas, depoimentos de especialistas internacionais, os eventos realizados por outras organizações e depoimentos do público em geral."


Post retirado para divulgação do Portal do Instituto ABCD: http://www.institutoabcd.org.br/portal/

domingo, 6 de novembro de 2011

Poema Falado: O NAVIO NEGREIRO



O mês de novembro é considerado o Mês da Consciência Negra, pois foi no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, que morreu o líder negro Zumbi dos Palmares, ícone da luta negra no Brasil contra a escravidão e a opressão dela decorrente. O Mês da Consciência Negra é também um período para reflexão. A escravidão pode fazer parte do nosso passado, mas o racismo, não. Mesmo que alguns insistam em dizer o contrário, a sociedade brasileira ainda está impregnada de idéias e valores racistas. E esse racismo que insiste em persistir tem suas origens, obviamente, no nosso passado escravocrata, passado este retratado nos versos de um dos maiores poetas românticos da língua portuguesa – e, também, abolicionista – o nosso Antônio Frederico de Castro Alves. Refiro-me ao magistral poema O NAVIO NEGREIRO, que pode ser contemplado no Poema Falado abaixo, mais uma vez na voz do magnífico Paulo Autran. O texto de Castro Alves pode ser acessado na íntegra no sítio DOMÍNIO PÚBLICO http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000068.pdf. Boa áudio-leitura! (por Silvio Benevides)

“Não podemos fechar os olhos para a veracidade de nossa história. Esta é uma delas” (KellenFMS).


[...] Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

[...] No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

CASTRO ALVES