quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Por Nossa Colaboradora Bel 2 Poemas


Depois das merecidas férias litorâneas!!
Ela volta ao lar!!
Bem vinda minha Linda Amiga e o espaço é todo seu!!



Digo Sim


Poderia dizer
que a vida é bela, e muito,
e que a revolução caminha com pés de flor
nos campos de meu país,
com pés de borracha
nas grandes cidades brasileiras
e que meu coração
é um sol de esperanças entre pulmões
e nuvens
Poderia dizer que meu povo
é uma festa só na voz
de Clara Nunes
no rodar
das cabrochas no carnaval
da Avenida.
Mas não. O poeta mente.
A vida nós a amassamos em sangue
e samba
enquanto gira inteira a noite
sobre a pátria desigual. A vida
nós a fazemos nossa
alegre e triste, cantando
em meio à fome
e dizendo sim
- em meio à violência e a solidão dizendo sim -
pelo espanto da beleza
pela flama de Tereza
pelo meu filho perdido
neste vaso continente
por Vianinha ferido
pelo nosso irmão caído
pelo amor e o que ele nega
pelo que dá e que cega
pelo que virá enfim,
não digo que a vida é bela
tampouco me nego a ela:
-digo sim


Ferreira Gullar em Na vertigem do dia. 1980




A primeira vez que entendi


A primeira vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na infância
cortei o rabo de uma lagartixa
e ele continuou se mexendo.
De lá pra cá
fui percebendo que as coisas permanecem
vivas e tortas
que o amor não acaba assim
que é difícil extirpar o mal pela raiz.
A segunda vez que entendi do mundo
alguma coisa
foi quando na adolescência me arrancaram
do lado esquerdo três certezas
e eu tive que seguir em frente.
De lá pra cá
aprendi a achar no escuro o rumo
e sou capaz de decifrar mensagens
seja nas nuvens
ou no grafite de qualquer muro.


Referência: Affonso Romano de Sant´anna em Vestígios de 2005

Um comentário:

Papillon disse...

Bel, estou muito feliz com o seu retorno!!
Como sempre fiz a minha escolha!!E guardarei os outros, nunca se sabe!!
Obrigada!!
Bjs!