domingo, 23 de novembro de 2008

Colabaroção de Coccienelle




Segue abaixo um conto retirado do livro CUENTOS PARA PENSAR, do escritor-psicanalista argentino Jorge Bucay. Esse é o meu conto preferido, o que mais me emociona. Espero que apreciem.


O BUSCADOR


Esta é a história de um homem que poderia ser chamado de Buscador. Um buscador é alguém que busca, não necessariamente alguém que encontra. Tampouco é alguém que sabe o que está procurando. É simplesmente alguém cuja vida é uma eterna busca.


Certo dia, o buscador sentiu que deveria ir para o povoado de Kammir. Ele havia aprendido a ouvir sua intuição. Assim, deixou tudo e partiu.


Depois de dois dias trilhando caminhos poeirentos, ele avistou Kammir, ao longe. Um pouco antes de chegar ao povoado, uma colina à sua direita lhe chamou a atenção. Estava recoberta por um verde maravilhoso e havia muitas árvores, pássaros e flores encantadoras; era rodeada por uma espécie de cerca pequena de madeira lustrada. Uma porta de bronze cerrava a entrada. Prontamente, esqueceu o povoado e sucumbiu perante a tentação de descansar por um momento naquele lugar.


O buscador atravessou o portão e começou a caminhar lentamente entre as pedras brancas que estavam aleatoriamente dispostas entre as árvores. Deixou seus olhos pousarem como mariposas em cada detalhe daquele paraíso.


Seus olhos eram olhos de um buscador e talvez por isso descobriram, sobre uma das pedras, a seguinte inscrição:


ABDUL TAREG, viveu 8 anos, 6 meses, 2 semanas e 3 dias.


Surpreendeu-se ao se dar conta de que aquela pedra não era uma pedra qualquer, mas sim uma lápide. Sentiu pena ao pensar que um garoto de tão pouca idade estava enterrado naquele lugar. Observando ao seu redor o buscador se deu conta de que a pedra ao lado também tinha uma inscrição que dizia:



YAMIR KALIB, viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas.



O buscador se sentiu terrivelmente comovido. Aquele lugar tão bonito era um cemitério e sob cada pedra havia uma tumba. Uma por uma leu as lápides. Todas tinham inscrições similares. Um nome e o tempo de vida exato do falecido. Para seu espanto, a pessoa mais velha ali enterrada tinha pouco mais de onze anos. Tomado por uma grande dor, sentou-se e pôs-se a chorar.


O administrador do cemitério que por ali passava, aproximou-se. Vendo-o chorar, perguntou-lhe se chorava por algum parente.


– Não! Nenhum parente, disse o buscador. O que aconteceu a esse povo? Que coisa terrível se abateu sobre esta cidade? Por que tantas crianças mortas enterradas neste lugar? Que horrível maldição pesa sobre esse povo que o obrigou a construir um cemitério só para crianças?


O administrador do cemitério sorriu e disse:


– Calma. Não existe maldição nenhuma. Acontece que aqui temos um velho costume. Quando um jovem completa quinze anos, seus pais o presenteiam com uma caderneta, como esta que trago pendurada ao pescoço. É uma tradição entre nós que a partir daí, cada vez que desfrutamos intensamente de algo, abrimos a caderneta e anotamos na margem esquerda o que foi desfrutado; na margem direita, quanto tempo durou o gozo que tal desfrute proporcionou. Conheceu uma garota e se apaixonou por ela. Quanto tempo durou essa paixão e o prazer em conhecê-la? A emoção do primeiro beijo. Quanto durou? Um minuto e meio? Dois dias? Uma semana? E a gravidez ou o nascimento do primeiro filho? E as festas com os amigos? E a viagem mais desejada? E o reencontro com o irmão que retorna de um país distante? Quanto tempo durou o desfrutar dessas situações? Horas? Dias? Assim, vamos anotando na caderneta cada momento que desfrutamos. Quando alguém morre, é nosso costume, abrir sua caderneta para somar o tempo desfrutado a fim de escrevê-lo sobre sua tumba, porque esse é, para nossa tradição, o único e verdadeiro tempo vivido.



Jorge Bucay (In: Cuentos para pensar). Tradução Coccinelle (http://www.jesuiscoccinelle.blogspot.com/)


Coccinlle pregunta: ¿Cuanto tiempo hemos vivido?

Um comentário:

Papillon disse...

Oi, Cocci!!!

Que lindo!!
Eu adorei esse conto!
E quanto a sua pergunta? Eu acredito que vivemos o tempo suficiente para cada busca que fizemos. Quero um caderninho desses!!

"A vida só pode ser compreendia olhando-se para trás; mas só pode ser vivida olhando-se para frente"

Soren kirkegaard