sexta-feira, 7 de novembro de 2008


Por nossa colaboradora Bel 3 lindos poemas:


Poema da Eternidade

Eternidade...
Os que vão morrer te saúdam
Com as mãos crispadas de frio
E os olhos vidrados pela contemplação da noite;
Nós que sentimos a solidão crescer na alma,
Planta vinda das raízes do ser,
Regada pelo pranto que nunca chega aos olhos;
Nós que possuímos a intuição do efêmero,
A seiva das árvores seculares
E a tristeza dos lobos da floresta;
Nós que deixamos nossos corpos
Plantados como marcos
À beira das estradas;
Nós, os transitórios caminheiros,
Que morremos na arena do espaço
Dilacerados pelos búfalos do tempo;
Nós, os escravos da vida e o alimento da morte,
Que entramos no anfiteatro de pedra
Com os pulsos atados pela dúvida,
Com os olhos cobertos pela poeira dos séculos
E a palavra cimentando os lábios partidos
-Nós, os mortos de amanhã,
Te saudamos,
Primeira e última Rainha do Silêncio!

Paulo Bonfim em 50 Anos de Poesia pág. 63 de 2000




PRESENÇA



É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,

teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento

das horas ponha um frêmito em teus cabelos

...É preciso que a tua ausência trescales

utilmente, no ar, a trevo machucado,

as folhas de alecrim desde há muito guardadas

não se sabe por quem nalgum móvel antigo

...Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janelae

respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu sentir

como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida

...Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista

que nunca te pareces com o teu retrato

...E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


Mario Quintana em Apontamentos de História Natural de 1976




Amém


Hoje acabou-se-me a palavra,

e nenhuma lágrima vem

Ai, se a vida se me acabara

também.



A profusão do mundo, imensa,

tem tudo, tudo - e nada tem.

Onde repousar a cabeça?

No além?



Fala-se com os homens, com os santos,
Consigo com Deus

...E ninguém entende o que se está contando

e a quem...



Mas terra e sol, luas e estrelas

giram de tal maneira bem

que a alma desanima de queixas.

Amém.


Cecília Meireles em Vaga Música de 1942

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