terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Feliz 2010!!!

Eterno
(Carlos Drummond de Andrade)
E como ficou chato ser moderno.
Agora serei eterno.
Eterno! Eterno!
O Padre Eterno,
a vida eterna,
o fogo eterno.
(Le silence éternel de ces espaces infinis m'effraie.)
— O que é eterno, Yayá Lindinha?
— Ingrato! é o amor que te tenho.
Eternalidade eternite eternaltivamente
eternuávamos
eternissíssimo

A cada instante se criam novas categorias do eterno.

Eterna é a flor que se fana
se soube florir
é o menino recém-nascido
antes que lhe dêem nome e lhe comuniquem o sentimento do efêmero
é o gesto de enlaçar e beijar
na visita do amor às almas

eterno é tudo aquilo que vive uma fração de segundo
mas com tamanha intensidade que se petrifica e nenhuma
[força o resgata


é minha mãe em mim que a estou pensando
de tanto que a perdi de não pensá-la
é o que se pensa em nós se estamos louco
sé tudo que passou, porque passou

é tudo que não passa, pois não houve
eternas as palavras, eternos os pensamentos; e
[passageiras as obras.
Eterno, mas até quando?
é esse marulho em nós de um
[mar profundo.

Naufragamos sem praia; e na solidão dos botos
[afundamos.
É tentação a vertigem; e também a pirueta dos ébrios.
Eternos! Eternos, miseravelmente.
O relógio no pulso é nosso confidente.


Mas eu não quero ser senão eterno.
Que os séculos apodreçam e não reste mais do que uma
[essênciaou nem isso.

E que eu desapareça mas fique este chão varrido onde
[pousou uma sombra
e que não fique o chão nem fique a sombra
mas que a precisão urgente de ser eterno bóie como uma
[esponja no caos
e entre oceanos de nada
gere um ritmo

Poema falado de Feliz 2010 a todos do Bienvenue-Ami.
São os votos do Blog Salvador na Sola do Pé.




“Que na sua vida... / Tudo tenha a beleza das flores, / Que não falte a luz do luar, / Que os amigos sejam todos sinceros, / Que o mar nunca se agite, mas se agitar / que o barco nunca afunde. / Que os beija-flores visitem / todos os dias o seu jardim, / Que os passarinhos cantem em sua janela, / Que os sorrisos se multipliquem / em sua face. / Que a inspiração renasça / a cada manhã. / Que teus sonhos sejam realizados, / Que seus dias de semana, sejam como o domingo. / Que o mal não chegue a porta da casa. / Que a tua dispensa esteja sempre abarrotada. / Que teus olhos só contemplem bondade, / Que cada passo teu seja iluminado por Deus. / Que todas as manhãs te recebam com um sorriso. É O QUE EU DESEJO”.E para terminar o ano em grande estilo, um Poema Falado sobre o amor, Soneto CXVI, escrito por William Shakespeare. Como dizia um dos inúmeros grafites do Maio de 1968 francês: Faça amor, não faça guerra! Que 2010 traga muito amor e que todos tenham muito amor para dar e receber (por Sílvio Benevides).

http://salvadornasoladope.blogspot.com/

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Joyeux Nöel- Moments dans la vie

Moments dans la vie

Il y a des moments dans la vie où vous vous ennuyez de quelqu'un
tellement que vous voulez juste les sélectionner de
vos rêves et les étreignent pour vrai !

Quand la porte du bonheur se ferme, une autre s'ouvre ;
mais souvent des périodes nous regardons si longs
porte fermée que nous ne voyons pas celui,
ce qui a été ouvert pour nous.

Ne pas aller pour des regards ; ils peuvent tromper.
Ne pas aller pour la richesse ; même cela se fane loin.
Aller pour quelqu'un qui te fait le sourire,
parce qu'il prend seulement un sourire à
faire un jour foncé sembler lumineux.
Trouver celui qui fait votre coeur sourire.

Rêver ce que vous voulez pour rêver ;
aller où vous voulez aller ;
être ce que vous voulez pour être,
parce que vous avez la seulement une vie
et une chance de faire toutes choses
vous voulez faire.

Pouvez vous avoir assez de bonheur pour te faire le bonbon,
assez d'épreuves pour vous rendre fort,
assez de douleur pour vous garder humain et
assez d'espoir de vous rendre heureux.

Les plus heureux des personnes pas nécessairement
avoir le meilleur de tout ;
ils tirent juste le meilleur de
tout qui vient le long leur manière.

Le futur le plus lumineux toujours
être basé sur oublié au delà ;
vous ne pouvez pas entrer en avant dans la vie jusqu'à
vous avez laissé aller de vos échecs et chagrins d'amour passés.

Quand vous êtes nés, vous pleuriez
et chacun autour de toi souriait.
Vivent votre vie ainsi à l'extrémité.


Momentos na vida

Há momentos na vida em que você sente falta de alguém
então você quer apenas selecionar seus sonhos
e abraçá-los de verdade!

Quando a porta da felicidade se fecha, outra se abre;
mas muitas vezes olhamos tanto tempo
porta fechada que não vemos que,
outra foi aberto para nós.

Não vá por olhares; eles podem enganar.
Não vá por riqueza, mesmo porque ela desaparece.
Vá por alguém que te fez sorrir
porque levar apenas um sorriso
faz um dia escuro parecer brilhante.
Encontrar quem faça seu coração sorrir.

Sonhe o que você quer sonhar;
Vá para onde você quer ir;
Torne-se o que você quer ser
porque você possui apenas uma vida
e uma chance de fazer todas as coisas
que você quer fazer.

Você pode ter a felicidade para fazê-lo doce,
oportunidades suficientes para torná-lo forte,
Dores suficiente para mantê-lo humano e
esperança suficiente para fazê-lo feliz.

As mais felizes das pessoas necessariamente
não tem o melhor de tudo
Elas tiram apenas o melhor de
tudo ao longo de seu caminho.

O futuro mais brilhante sempre
basear-se em esquecido o além;
Você não pode ir em frente na vida, até
você deixar suas magoas do passados.

Quando você nasceu, você estava chorando
e todos ao seu redor estavam sorrindo.
Viva sua vida assim, no final.

Tradução : Gina Carla




domingo, 20 de dezembro de 2009

Rei Menino.

No princípio já existia o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava, no princípio com Deus, tudo começou a existir por meio dele, e sem Ele, nada foi criado. Nele estava a Vida e a Vida era a luz dos homens. A luz resplandece nas trevas, mas as trevas não a admitiram. Surgiu um homem enviado por Deus, cujo nome era João. Veio como testemunha, para dar testemunho da luz, a fim de todos crerem por Seu intermédio. Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz. O Verbo era a luz verdadeira que, vindo ao mundo, a todo o homem ilumina. Estava no mundo, e o mundo foi feito por Ele, mas o mundo não O conheceu. Veio ao que era Seu e os Seus não O receberam, aos que crêem nele, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. E o Verbo fez-se homem e habitou entre nós, e nós vimos a sua glória, glória que Lhe vem do Pai, como Filho único cheio de graça e de verdade. João dá testemunho dele e exclama nestes termos: “Este é Aquele de quem eu disse: o que vem depois de mim passou à minha frente porque existia antes de mim”. E a Sua plenitude é que todos nós recebemos, graça sobre graça. Porque, se a lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu Deus: o Filho único, que está no seio do Pai é que O deu a conhecer (Jo, 1:1-18).

O Natal significa para os cristãos do mundo inteiro a celebração pelo nascimento de Cristo, a celebração pela encarnação do Verbo. Verbo que instituiu o amor, o cuidado e o respeito ao próximo como o principal e mais importante dos seus mandamentos. Esse é o sentido do Natal para os cristãos. Ao menos deveria ser. Infelizmente, esse sentido está se perdendo e a principal personagem desta festa está, ano a ano, perdendo espaço para uma outra, que deveria passar de um mero figurante, o Papai Noel. O consumismo desenfreado de nossos tempos elevou Papai Noel à categoria de estrela maior do Natal. Quanto a Jesus e seu legado, este se perde pouco a pouco. Para tentar resgatar o real sentido dos festejos natalinos, o Poema Falado deste mês (excepcionalmente postado no domingo que antecede o Natal) traz um texto do Carlos Drummond de Andrade, Rei Menino, que diz: “O estandarte do Rei não é de púrpura e brocado, é um lírio flutuante sobre o caos, onde ambições se digladiam e ódios se estraçalham. O Rei vem cumprir o anúncio de Isaías: vem para evangelizar os brutos, consolar os que choram, exaltar os cobertos de cinza, desentranhar o sentido exato da paz, magnificar a justiça. Entre Belém e Judá e Wall Street, no torvelinho de negações e equívocos, a vergasta de luz deixa atônitos os fariseus. Cegos distinguem o sinal, surdos captam a melodia de anjos-cantadores, mudos descobrem o movimento da palavra. O Rei sem manto e sem jóias, nu como folha de erva, distribui riquezas não tituladas. Oferece a transparência da alma liberta de cuidados vis. As coisas já não são as antigas coisas de perecível beleza e o homem não é mais cativo de sua sombra. A limitação dos seres foi vencida Por uma alegria não censurada, graça de reinventar a Terra, antes castigo e exílio, hoje flecha em direção infinita. O Rei, criança, permanecerá criança mesmo sob vestes trágicas porque assim o vimos e queremos, assim nos curvamos diante do seu berço tecido de palha, vento e ar. Seu sangrento destino prefixado não dilui a luminosidade desta cena. O menino, apenas um menino, acima das filosofias, da cibernética e dos dólares, sustenta o peso do mundo na palma ingênua das mãos”. Boa leitura e um ótimo Natal!





Parabéns Aline!

Para alguns VITORIOSA!
Chamo e chamarei de SOBREVIVENTE!!



Amiga você cada dia vence novas etapas.
Sim, na sua vida etapas são conquistadas vividas e festejadas.

PARABÉNS!!
MAIS UM ANO!!


São GRANDES essas etapas!
Siga sua vida na busca da sua felicidade!


VIVA cada momento como se fosse ÚNICO!
Simplesmente viva e SOBREVIVA!!


ACREDITE!!



Ovelha negra
Rita Lee
Composição: Rita Lee


Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra
E água fresca
Meu Deus!
Quanto tempo eu passei
Sem saber!
Uh! Uh!...
Foi quando meu pai
Me disse:
"Filha, você é a Ovelha Negra
Da família"
Agora é hora de você assumir
Uh! Uh! E sumir!...
Baby Baby
Não adianta chamar
Quando alguém está perdido
Procurando se encontrar
Baby Baby
Não vale a pena esperar
Oh! Não!
Tire isso da cabeça
Ponha o resto no lugar
Ah! Ah! Ah! Ah!
Tchu! Tchu! Tchu! Tchu!
Não!
(Ovelha Negra da Família!)
Tchu! Tchu! Tchu!
Não! Vai sumir!...
Levava uma vida sossegada
Gostava de sombra
E água fresca
Meu Deus!
Quanto tempo eu passei
Sem saber!
Han!! Han!...
Foi quando meu pai
Me disse:
"Filha, você é a Ovelha Negra
Da família"
Agora é hora de você assumir
Uh! Uh! E sumir!...


Cecília Meireles





Fio

No fio da respiração,
rola a minha vida monótona,
rola o peso do meu coração.


Tu não vês o jogo perdendo-se
como as palavras de uma canção.


Passas longe, entre nuvens rápidas,
com tantas estrelas na mão...


— Para que serve o fio trêmulo
em que rola o meu coração?



Gargalhada

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!


Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...


O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.


Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...


Escuta bem:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!


Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Colaboração de Silvio Benevides.

.....Passagem para o Mercado Cultural.....

“O mundo é pequeno pra caramba, tem alemão, italiano, italiana. O mundo filé milanesa, tem coreano, japonês, japonesa. O mundo é uma salada russa, tem nego da Pérsia, tem nego da Prússia. O mundo é uma esfiha de carne, tem nego do Zâmbia, tem nego do Zaire”. Essa música do André Azambuja pode muito bem definir o espírito do Mercado Cultural, um evento que a cada ano nos surpreende ao trazer para a cidade artistas magníficos dos mais diferentes lugares do planeta, que, com suas performances admiráveis, transformam Salvador em uma grande salada multicultural de sabor ímpar.
Não há dúvida de que o Mercado Cultural é o maior e melhor evento de difusão da cultura dos povos da Bahia, do Brasil e de tantos outros espalhados pelos vários continentes. É um espaço, de fato, onde as misturas ocorrem. Não uma mistura superficial e enganosa, uma misturaê, promovida por quem nada entende de cultura para tantos outros cuja bagagem nada tem, além de ressaca. No Mercado Cultural é diferente, pois suas misturas nos fazem viajar além das nossas fronteiras por meio de apresentações espetaculares nos palcos das cidades por onde passa, debates, conferências e workshops com artistas locais e de outros locais daqui e do mundo. Por tudo isso as misturas promovidas pelo Mercado Cultural se perpetuam muito além das nossas lembranças.

Na sua IX edição o Mercado Cultural trouxe para Salvador uma diversidade inesquecível de sons e ritmos. A viagem teve início na noite do dia 03/12 com a apresentação do Boi de Dona Laurinha (Dário Meira-BA) e do Terno dos Ferreira (Boa Nova-BA). Os grupos, formados por pessoas de diferentes gerações, proporcionaram aos espectadores uma viagem pelas tradições natalinas do nosso povo, que há muito reverencia o nascimento de Jesus, a encarnação do Verbo, com muita música, dança e alegria. Festa para encher os olhos e relembrar os tempos da infância. A noite terminou com a apresentação do grupo paulista A Barca, uma “expedição musical rumo ao maravilhoso”, como eles mesmo se definem, cujo trabalho vai além da criação artística. O grupo faz pesquisas sobre a cultura popular brasileira, sua fonte de inspiração, e realiza trabalhos de criação, documentação, arte-educação, produção cultural e reflexão sobre o ofício do artista e sua responsabilidade sócio-cultural. Magnífico desde a origem ao produto final. Destaque para as vozes sublimes das duas tripulantes Juçara Marçal e Sandra Ximenez. Lindas!
A viagem cultural continuou na noite seguinte, 04/12. Desta vez foram percorridas as paragens históricas da França dos tempos da Joana D’Arc, espetáculo teatral magnificamente escrito por Cleise Mendes, brilhantemente dirigido por Elisa Mendes e extraordinariamente interpretado por Jussilene Santana e companhia (Carlos Betão, Caio Rodrigo, Jefferson Oliveira, Hamilton Lima, Antônio Fábio e Widoto Áquila), em cartaz na Sala do Coro do Teatro Castro Alves (TCA). Simplesmente imperdível! Depois, foi a vez de trilhar as sendas culturais da Galícia e Guiné-Bissau, com a dupla Aló Irmão, formada por Narf e Manecas Costa, cujo som toca nossos corações, pois nos fazem relembrar nossa ancestralidade ibero-africana. Por essa razão, o Aló Irmão nos soa tão familiar. Em seguida, chegou o momento de andar por veredas sul coreanas através do som forte e poderosíssimo do Sonagi Project, criado por Jang Jae Hyo, vocalista e percussionista do grupo. Herdeiro da cultura xamã da Coréia, a importância do Sonagi Project, segundo Nicolas Ribalet, produtor cultural, consiste no fato de o grupo ter resistido aos apelos da releitura, tão comum nesses tempos pós-modernos. “O fato é que eles não estão misturando a sua música com jazz ou rock, e que não estão tentando a tradição aos sons de hoje. Trata-se de cinco jovens que decidiram usar apenas os seus tambores para nos levarem ao seu mundo. Um mundo bem moderno, por sinal. Para nos contar algo novo, algo pessoal e único. Os seus instrumentos são meios modernos, feitos para a expressão, à livre expressão. Técnicas podem variar na criação dos sons necessários para falar e contar histórias. Para cantar ou para chorar. Para percurtir ou para pintar. Através de suas baquetas de bambu, eles traçam a caligrafia musical, direta e instintiva. São poucos caracteres sobre o papel, mas o seu significado é tão amplo quanto o mundo. Esse significado que é tão nosso quanto deles”.
No terceiro dia (05/12), a viagem cultural teve início com o espetáculo de dança da artista Maureen Fleming, cuja performance, suave como uma brisa primaveril e vigorosa como as apresentações de uma ginasta olímpica. Acompanhada pelas belas notas do pianista Bruce Bubaker, a dança de Maureen Fleming assemelhava-se, em alguns momentos, aos traços vibrantes do Pieter Pauwel Rubens, especialmente aos que podem ser vistos na sua tela O Juízo Final, na qual corpos caem do firmamento feito plumas que se desprendem dos pássaros em vôo de arribação. Incrível a capacidade do ser humano em criar coisas belas! No momento seguinte da viagem, nos deparamos com as paisagens mexicanas oriundas dos acordes dissonantes de Juan Pablo Villa e das imagens efêmeras do Arturo Lopez. Autoral e experimental, o espetáculo nos faz lembrar dos muros que ainda separam e dilaceram a humanidade. Nada melhor que a arte e a cultura para pulverizá-los como fazia o Arturo Lopez com suas criações fugazes de água, tinta e areia. Nessa viagem cultural também havia espaço para a reflexão sobre os destinos de todos nós em um mundo cada vez mais segregacionista.
A jornada cultural promovida pelo Mercado finalizou no dia 06/12 com um encontro deveras inusitado. A noite começou com a apresentação do Samba de Dona Dete, oriundo da zona rural de Dário Meira (BA). De acordo com a organização do Mercado Cultural, “a influência do candomblé é marcante nos toques dos atabaques, nos cantos e nas danças – todos decorrentes de cerimônias religiosas que elaboram [e liquefazem] os problemas e celebram as alegrias do dia-a-dia da comunidade”. Guardiães de uma tradição secular, a apresentação do Samba de Dona Dete no palco do TCA foi como apreciar um belo pássaro preso em uma gaiola. Belo, mas incompleto, pois aprisionado. Em seguida aterrissa no centro daquela grande arena teatral um cometa arrasador vindo dos paramos de Pernambuco. Era o grupo Bongar, composto por seis primos, herdeiros culturais do Terreiro de Xambá, do Quilombo do Portão do Gelo, região de Olinda. O som forte e pulsante do Bongar mistura a musicalidade do Coco da Xambá, uma vertente do Coco, típico do Nordeste do Brasil, com ciranda, maracatu, candomblé, entre outros ritmos da cultura brasileira. Para Guitinho, o vocalista do grupo, o melhor de participar do Mercado Cultural foi descobrir que na Bahia se faz música de verdade e que a cultura daqui não é só o que a TV mostra. Seria bom que muito mais gente tivesse ouvido essa observação.
Depois do samba e do coco entrou em cena a diva coreana (ao menos era o que parecia ser) Chae Soo-Jung e sua Korean Traditional Music Performance Company. Segundo o material de divulgação do Mercado Cultural, a companhia musical coreana “participa do esforço em buscar o que é novo na música, ela almeja fazê-lo mantendo-se fiel à essência da música tradicional coreana. A Companhia está comprometida em preservar e levar as qualidades tradicionais da música coreana aos públicos contemporâneos”. Um espetáculo encantador, sobretudo, para nós que temos pouco ou nenhum contato/acesso à cultura oriental, em especial da Coréia. Agora responda: onde mais se pode ouvir samba, coco e música tradicional coreana? Coisa assim só se vê no Mercado Cultural.
E essa viagem multicultural chegou ao fim. O mais estranho de tudo foi constatar que um evento de tamanha magnitude, responsável por conectar Salvador ao que há de melhor e mais criativo na produção artístico-cultural do Brasil e do resto do mundo costuma ser ignorado pela imprensa local. Um evento como esse deveria ser exaustivamente divulgado nos veículos de comunicação porque não é todo dia que os soteropolitanos têm a oportunidade de interagir com uma produção artística de alto nível e comprometida mais com a preservação e difusão de valores culturais e estéticos do que com o lucro, único propósito da produção de massa, para a qual não falta espaço de divulgação. Esse comportamento dos nossos veículos de comunicação é estranho e lastimável. Mas esse fato é um fato menor. O importante é que nada diminui a beleza e magnitude do Mercado Cultural cujo encerramento, este ano, em Salvador, deixou muita saudade. O bom é saber que o Mercado continuará até 12/12 com sua caravana que passará por Ibirataia (08/12), Ipiaú (09/12), Dário Meira (10/12) e Boa Nova (11 e 12/12) com o Festival de Reisados, feira de artes e apresentações de artistas que estiveram no palco do TCA, como o Sonagi Project e o grupo Bongar. Quanto a Salvador, em 2010 teremos mais. Vida longa para o Mercado Cultural! (por Sílvio Benevides)
*
Imagens: Patrícia Carmo (cartaz Joana D'Arc); Rose Vemelho (cartaz Mercado Cultural); Sílvio Benevides.

domingo, 29 de novembro de 2009

Colabaroção de Coccienelle


A MINHA AMANTE
(Judith Teixeira)

Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…

Dizem
- e eu não protesto -
Que seja qual for o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!

Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!

Não entendem dos meus amores
contigo


- Não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…
E ninguém sabe que é de ti que eu
vivo…


Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!




SAUDADE
(Judidith Teixeira )

Segue-me noite e dia o teu desejo!...
Oiço a tua voz rúbida e cantante
Suplicar-me a carícia do meu beijo,
numa teima exigente e perturbante!

E o meu corpo vencido, dominado,
vai tombar doloroso, inconsciente,
sobre a lembrança morna do passado
- e fica-se a sonhar... perdidamente!

Colabaroção de Coccienelle

Pensionnaire

(Paul Verlaine)

L'une avait quinze ans, l'autre en avait seize;
Toutes deux dormaient dans la même chambre
C'était par un soir très lourd de septembre
Frêles, des yeux bleus, des rougeurs de fraise.

Chacune a quitté, pour se mettre à l'aise,
La fine chemise au frais parfum d'ambre,
La plus jeune étend les bras, et se cambre,
Et sa soeur, les mains sur ses seins, la baise,

Puis tombe à genoux, puis devient farouche
Et tumultueuse et folle, et sa bouche
Plonge sous l'or blond, dans les ombres grises;

Et l'enfant, pendant ce temps-là, recense
Sur ses doigts mignons des valses promises.
Et, rose, sourit avec innocence.



PENSIONISTAS
(Paul Verlaine – trad.: Carla Reis)

Uma tinha quinze anos, a outra dezesseis ;
As duas dormiam no mesmo quarto
Foi uma noite muito pesada de setembro
Frágil, de olhos azuis, as vezes vermelhos de morango.

Cada uma saiu, por se sentir à vontade,
A fina camisa ao fresco perfume de âmbar ,
A mais jovem estende os braços, debruça
E a irmã, as mãos sobre seus seios a beija.

Depois de cair de joelhos, então torna-se selvagem
e tumultuosa e louca, e sua boca,
mergulha sob o ouro loiro, nas sombras cinzas;

E a criança , durante esse tempo , identifica
sobre seus dedos queridos as valsas prometidas.
e rosa, sorri com inocência .

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Aprendizado e ensino no mundo contemporâneo.

Durante o IV Interculte – Encontro Interdisciplinar de Cultura, Tecnologias e Educação, evento acadêmico promovido pelo Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE) de Salvador (BA), o jornalista Gilberto Dimenstein falou para a Rádio JA sobre jornalismo, educação e novos métodos de aprendizado e ensino no mundo contemporâneo, marcado pelo informacionalismo.

Para Dimenstein uma das principais características do mundo atual é a geração de uma enorme quantidade de conhecimento em prazos cada vez mais curtos. Como as pessoas não foram treinadas para acompanhar todo esse movimento na mesma velocidade, passamos a vivenciar um mundo com um excesso de confusão, pois há muita informação sem que tenhamos capacidade para selecionar o que nos interessa de fato ou não. No que tange à educação, todo esse processo obriga o professor a rever o seu papel. Segundo ele, hoje, o profissional de educação não pode mais atuar como um transmissor de conteúdo, mas, sim, como um mestre que deve auxiliar o indivíduo a ter estrutura para selecionar as informações e conteúdos relevantes para o seu processo de formação/aprendizagem. Essa percepção sobre o papel do professor, embora atual, norteou os trabalhos do Anísio Teixeira, o baiano mais contemporâneo e inovador de todos os tempos, de acordo com Dimenstein, pois na visão deste educador, não se educa para se ter um bom desempenho escolar, mas, sim, para o desenvolvimento do intelecto e da capacidade de julgamento. Em outras palavras, educa-se para a vida. “Estudar pedagogia sem conhecer o Anísio Teixeira, é o mesmo que estudar física sem conhecer o Einstein ou biologia sem conhecer o Mendel, o Darwin”, disse o jornalista.

Sobre o papel da educação no desenvolvimento de uma nação Dimenstein foi categórico. Não há como construir um país crítico com uma população dotada de um baixo nível de raciocínio lógico abstrato. Segundo ele, com uma educação pública e privada deficitária, como é o caso da brasileira, com salas de aula lotadas, entre outros graves problemas, não pode haver distribuição de renda em níveis desejados, pessoas não se capacitam para ingressar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e a população não se torna apta para analisar criticamente uma proposta de governo. “Não há nação independente com pessoas dependentes devido à ignorância do conhecimento”, enfatizou. Por tudo isso ele sustenta a idéia de que a luta por educação de qualidade é a nova campanha abolicionista brasileira. Na sua visão, o modelo atual de escola (pública e, também, privada) que se tem no Brasil é um sucesso “porque foi feito para não funcionar e não funciona” (por Sílvio Benevides).

A Rádio JA da UNIJORGE, sob a produção de Cleber Silva, Eliaquim Aciole e Renato Silva e orientação do Prof. Max Bittencourt, realizou entrevista com o jornalista Gilberto Dimenstein. Clique aqui para acessar a entrevista na íntegra.


Imagem: Gilberto Dimenstein (autoria não encontrada).

Postado por SB-SSA e permitido a Bienvenue-Ami postar.

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domingo, 1 de novembro de 2009

Poema Falado



Liberdade

Uma antiga propaganda de jeans dizia que liberdade é uma calça velha azul e desbotada que se deve usar do jeito que o indivíduo quiser. Essa idéia além de indicar que a liberdade não requer elucubrações sofisticadas para ser compreendida, indica também que ela significa uma possibilidade de se fazer aquilo que se quer conforme se escolha. Ser livre, portanto, consiste na possibilidade de escolha, que, uma vez feita, pode ser repetida sempre que se queira de acordo com a situação. O poeta Fernando Pessoa traduziu esse pensamento da seguinte maneira: “Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer! Ler é maçada. Estudar é nada. O sol doira sem literatura. O rio corre, bem ou mal, sem edição original. E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal, como tem tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta a distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto é melhor, quando há bruma, esperar por D. Sebastião, quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, flores, música, o luar, e o sol, que peca só quando, em vez de criar, seca. O mais do que isto é Jesus Cristo, que não sabia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca...” LIBERDADE é o tema do poema falado deste mês. Boa Leitura!




quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Celebrando o amor!


Reinvenção
(Cecília Meireles)

A vida só é possível
reinventada.


Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Video dedicado ao amor!







Como é Grande o Meu Amor Por Você
(Composição: Erasmo Carlos / Roberto Carlos )

Eu tenho tanto
Prá lhe falar
Mas com palavras
Não sei dizer
Como é grande
O meu amor
Por você...

E não há nada
Prá comparar
Para poder
Lhe explicar
Como é grande
O meu amor
Por você...

Nem mesmo o céu
Nem as estrelas
Nem mesmo o mar
E o infinito
Não é maior
Que o meu amor
Nem mais bonito...

Me desespero
A procurar
Alguma forma
De lhe falar
Como é grande
O meu amor
Por você...

Nunca se esqueça
Nem um segundo
Que eu tenho o amor
Maior do mundo
Como é grande
O meu amor
Por você...

Mas como é grande
O meu amor
Por você!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Cecília Meireles.



Encomenda

(Cecília Meireles)

Desejo uma fotografia
como esta — o senhor vê? — como esta:
em que para sempre me ria
como um vestido de eterna festa.


Como tenho a testa sombria,
derrame luz na minha testa.
Deixe esta ruga, que me empresta
um certo ar de sabedoria.


Não meta fundos de floresta
nem de arbitrária fantasia...
Não... Neste espaço que ainda resta,
ponha uma cadeira vazia.


Discurso

(Cecilia Meireles)

E aqui estou, cantando.


Um poeta é sempre irmão do vento e da água:
deixa seu ritmo por onde passa.


Venho de longe e vou para longe:
mas procurei pelo chão os sinais do meu caminho
e não vi nada, porque as ervas cresceram e as serpentes
andaram.


Também procurei no céu a indicação de uma trajetória,
mas houve sempre muitas nuvens.
E suicidaram-se os operários de Babel.


Pois aqui estou, cantando.


Se eu nem sei onde estou,
como posso esperar que algum ouvido me escute?


Ah! Se eu nem sei quem sou,
como posso esperar que venha alguém gostar de mim?

domingo, 4 de outubro de 2009

Poema Falado-Oração pela Paz


Oração – “Oh Senhor, faze de mim um instrumento da tua paz: / Onde há ódio, faze que eu leve Amor; / Onde há ofensa, faze que eu leve Perdão; / Onde há discórdia, que eu leve União; / Onde há dúvida, que eu leve a Fé; / Onde há erro, que eu leve a Verdade; / Onde há desespero, que eu leve a Esperança; / Onde há tristeza, que eu leve a Alegria; / Onde há trevas, que eu leve a luz. / Oh Mestre, faze que eu procure menos / Ser consolado do que consolar; / Ser compreendido do que compreender; / Ser amado do que amar. / Porquanto é dando que se recebe; / É perdoando que se é perdoado; / É morrendo que se ressuscita para a Vida Eterna” (tradução de Manuel Bandeira).

São Francisco de Assis (1181-1226) é venerado em todo o mundo como uma das figuras das quais mais nos orgulhamos. Na sua biografia se tornaram visíveis e possíveis sonhos carregados ao longo de toda a vida e acalentados no fundo de nosso coração: uma relação amorosa e terna com Deus, Pai e Mãe de infinita bondade, um amor simples a todas as coisas, vivenciadas como irmãos e irmãs; uma discreta reconciliação entre os impulsos do coração e as exigências do pensamento, feitos próximos, e dos próximos feitos irmãos; uma aceitação jovial daquilo que não podemos mudar; uma inocente liberdade em face das ordens e regras estabelecidas; uma alegra acolhida da morte como amiga da vida.

São Francisco inundou a esfera humana de espírito de benquerença, fraternura e paz, que continuou a ressoar com o passar dos tempos até nossos dias. Em sua homenagem igrejas, cidades, escolas, rios, instituições e pessoas carregam o nome de São Francisco.

Mais ainda: há comportamentos, símbolos, idéias e sonhos que reportam naturalmente a São Francisco como se ele próprio fosse seu autor. E isso não sem razão, porque ele continua a viver como arquétipo nas mentes e nos corações das pessoas e de muitos movimentos culturais, na não-violência, na fraternidade universal, na jovialidade, no amor aos animais e na ecologia, expressões importantes da busca espiritual da cultura de nossa época.

Existe uma espiritualidade franciscana difusa no espírito de nosso tempo, nascida da experiência de Francisco, de Clara e de seus primeiros companheiros. Trata-se do caminho da simplicidade, da descoberta de Deus na natureza, do amor singelo a todas as criaturas, da confiança quase infantil na bondade das pessoas e na imperturbável alegria, mesmo em face dos dramas mais pungentes da vida humana.

A Oração pela Paz também chamada de Oração de São Francisco constitui uma das cristalizações desta espiritualidade difusa. Ela não provém diretamente da pena do Francisco histórico, mas da espiritualidade do São Francisco da fé. Ele é seu pai espiritual e por isso seu autor no sentido mais profundo e abrangente desta palavra. Sem ele, com certeza, essa Oração pela Paz jamais teria sido formulada nem divulgada e muito menos teria se imposto como uma das orações mais ecumênicas hoje existentes. Ela é rezada por fiéis de todos os credos e por professantes de todos os caminhos espirituais.

Ela tem o condão de unir a todos num mesmo espírito de paz e de amor. Por um momento faz sentir que todos somos de fato irmãos e irmãs na grande família humana e cósmica e também filhos e filhas da família divina.

Vamos aprofundar o teor dessa Oração pela Paz para revelar sua riqueza insuspeitada e para despertar o Francisco e a Clara que dormem dentro de cada um de nós (por Leonardo Boff).

Referências:

BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. São Paulo: Ediouro, 2002.

BOFF, Leonardo. A Oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual. Rio de Janeiro: Sextante, 1999.


POEMA FALADO – ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO PELA PAZ




domingo, 27 de setembro de 2009

Grande Significação




Canção
Cecília Meireles

No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.


Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto


Quando as ondas te carregaram
meu olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.


Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.


E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.



Noções
Cecília Meireles

Entre mim e mim, há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.


Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que
a atinge.


Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se
encontram.


Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.


Ó meu Deus, isto é a minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e
precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e
inúmera...

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Muito além dos estereótipos


Após ter visto um certo show em cartaz em um certo bar-restaurante-pizzaria do Rio Vermelho, reduto boêmio de Salvador, decidi escrever sobre o que considero uma ode à intolerância disfarçada de humor chulo e grotesco. Mas resolvi não fazê-lo. Não quero que este espaço seja veículo da estupidez insossa de quem acredita que todo gay pensa apenas em sair pelo mundo a fora só para dar o cu, que os parisienses são frescos, os bascos terroristas, os freqüentadores dos bailes funks cariocas bandidos, os portugueses, nossos colonizadores, um bando de depravados corruptos que arruinaram o Brasil desde os tempos em que “Caramuru comeu o cu da Paraguassú”, os baianos um povo indolente e atrasado, und so weiter. Não! Não quero discorrer sobre a estupidez dos insensatos! Tal qual o José Régio, português do mais alto valor, eu também “amo o Longe e a Miragem, amo os abismos, as torrentes e os desertos...” Por essa razão, prefiro percorrer outras paragens.

No último dia 17/09 foi encerrada no Instituto Cultural Brasil-Alemanha (ICBA), o Goethe-Institut de Salvador, a exposição “Canudos: a guerra de Os sertões”, do artista plástico baiano Trípoli Gaudenzi. A mostra, que já esteve em São Paulo, Paris, Havana, Colônia e Berlim, integrou a programação oficial da 36ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia, cujo tema central deste ano foi o centenário da morte do Euclides da Cunha.

O episódio de Canudos foi e é um dos maiores massacres da história do Brasil. Mas nas mãos de um Artista de fato, isto é, um Artista de verdade, como é o caso do Trípoli Gaudenzi, o grotesco vira arte questionadora, ou seja, uma arte que faz refletir, que denuncia e educa, contribuindo, desta maneira, para o engrandecimento da cultura de todos nós. Por meio de uma beleza épica ímpar, Trípoli Gaudenzi narra a saga e o drama do povo liderado pelo Antônio Conselheiro, vítima da intolerância e da violência da sociedade brasileira, que, em 1897, colocou todo seu aparato bélico-militar a serviço do extermínio do que se julgava ser atraso, incivilidade, vergonha, indolência e inadmissível insubordinação. Tanto horror e iniqüidade nos saltam aos olhos com uma ferocidade por vezes inquietante, por vezes piedosamente cortante. Há momentos que é possível ouvir as dores e úlceras daquela gente a arder em meio ao fogo do inferno de Dante. Produzidas em acrílico, guache, bico-de-pena, óleo, pastel e técnicas mistas, as telas da mostra “Canudos: a guerra de Os sertões” são a mais pura expressão de um barroco tipicamente pós-moderno.

E já que se falou na Jornada Internacional de Cinema da Bahia, o grande vencedor da mostra (por unanimidade) foi o filme paraguaio Karai Norte, do diretor Marcelo Martinesse. O curta, patrocinado pela Petrobrás, além de ser laureado com o prêmio Glauber Rocha de melhor filme da 36ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia, ganhou mais cinco troféus: melhor ficção, melhor atriz (Lídia de Cueva), melhor direção, melhor roteiro (adaptado de um conto do escritor paraguaio Carlos Villagra Marsal) e melhor som. Falado em guarani, Karai Norte narra a história de uma velha índia que vive num casebre miserável perdido em meio às veredas do grande sertão paraguaio. Enquanto prepara seu “de comer”, ela recebe a visita de um desconhecido rude e mal encarado. Ele pede comida. Ela, a princípio nega, mas após ameaçadora insistência, a velha senhora oferece o pouco alimento que tinha, afinal, ela nada poderia fazer caso ele resolvesse partir para a ignorância. Refestelado, o forasteiro pergunta como pode retribuir aquele carinho. Diz a ela para pedir-lhe o que quiser que ele tratará de conseguir. A velha índia responde que seu desejo era reaver seu machado, lampião e suas poucas roupas que lhes foram roubadas por uns homens vindos do norte. O desfecho é rude, tão rude como o sertão que os circunda. Como bem lembrou Malu Fontes, uma das juradas da Jornada, ao entregar o prêmio ao representante da produção paraguaia, o filme de Martinesse é uma bela homenagem à estética do cinema novo, embora não fosse essa a intenção do diretor. Prêmio mais que merecido. Meu amigo Renato Nascimento certamente aplaudiria de pé. Só mesmo a Jornada Internacional de Cinema da Bahia para nos colocar em contato com o que há de melhor na produção cinematográfica latino-americana. Como se pode perceber, a Bahia é muito mais do que reles estereótipos. Somente os insensatos não são capazes de perceber tamanha grandeza, pois a estupidez não os deixa ver (por Sílvio Benevides).


Postado por SB-SSA : salvadornasoladope.blogspot.com/

sábado, 19 de setembro de 2009

Bonne Fête mon amie Anne Marie!!


Amie de mon cœur!

Je vous souhaite bonne chance et souhaite aussi beaucoup
bonheur aujourd'hui et toujours.


Même que séparés par la distance et la culture
continuent toujours très proche parce que
nous connaissons l'importance de notre amitié.

Toi aure toujours une place dans mon
cœur et dans mon pays.

J'espère que toi apprécie les vidéos que moi et Silvio avons fait.
Il y a votre chanteur préféré et des images qui devraient vous
rendre très heureuse!

Je t’aime ma belle amie !!

Félicitations!

Un texte pour toi réfléchir:



La clé du bonheur

- Letícia Thompson

Ne mets dans les mains de personne ni de rien la clé de ton bonheur! Garde avec toi le pouvoir d'être maître de ta propre vie et dis-toi que si tu es un bon conducteur, tu sauras éviter les accidents. Et si, malgré tous tes efforts, ils surviennent, ne t'en fais pas. Il y a beaucoup de chutes qui arrivent pour nous montrer une nouvelle réalité, pour nous apprendre à arrêter et, qui sait, rencontrer de nouvelles directions et sorties. Et marcher sans s'arrêter peut être ennuyant et fatigant.....

....Être intelligent ce n'est pas tout savoir ou avoir la curiosité de tout apprendre. Être intelligent c'est tirer profit des leçons de la vie, regarder les événements avec objectivité et ne pas permettre que les émotions dominent la situation.......

......Oui, nous avons le choix! Même si ce n'est pas ce que nous attendons ou ce que nous désirons. Nous pouvons renoncer, persévérer ou rester sur place pour voir ce qui arrivera. Ce que nous ne pouvons pas, généralement, c'est revenir en arrière. Non... nous revenons peut-être sur nos décisions, mais pas sur les conséquences qu'elles ont eues sur nous... et les autres!







A Banda
Composição: Chico Buarque

Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor

O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem


A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor


Estava à toa na vida
O meu amor me chamou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor


A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor


O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela


A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor


Mas para meu desencanto
O que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar
Depois que a banda passou


E cada qual no seu canto
Em cada canto uma dor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor
Depois da banda passar
Cantando coisas de amor...


Silvio envoyyer un cadeau pour toi .
Il a dit pour toi: BONNE FÊTE MON AMIE !



Presença de Mira
Carlos Drummond de Andrade

Adaptação
Sílvio Benevides

O errante colar de lembranças e metáforas,
apaga-se no colo de Anne Marie.
Maintenant je ne serais nulle part.
Quem sabe?
Mira Anne Marie., hei de encontrá-la sempre em alguns versos
que falam da criança construindo na areia
palácios e jardins de pátria proibida;
que contam do domingo, cesta de solidão,
e da mulher agitando um xale imaginário,
e do esquecimento, que é um papagaio de papel.

Não preciso escutar
o tambor do corcunda anunciando as notícias,
para saber de Anne Marie..
Neste grão de café encontro Anne Marie pensando no Brasil."

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Feliz Aniversário Paulinha !!

Paulinha, desejo a você um dia maravilhoso e uma vida florida como um belo jardim nos dias de primavera.


No jardim algumas flores podem conter espinhos que se você reconhecer saberá como tocar sem se machucar e sem sentir dor. Se não reconhecer você irá aprender com eles como deve se cuidar para não se machucar outra vez, mesmo que antes precise enfrentar a dor causada por alguns desses espinhos pois as vezes isso é necessário para o aprendizado. Saúde!!!

Realmente, muito obrigada por me permitir fazer parte de sua vida!Quero dizer que sou muito orgulhosa de ter uma amiga como você.Sua história de vida é uma exemplo de como todos podem conquistar o que desejam mesmo que a vida crie muitos obstáculos. Quem conhece você sabe quantos obstáculos você ultrapassou para conseguir suas conquistas.Continue sua caminhada. Felicidade!!!

Pessoa, você merece chegar onde chegou.Todas as suas conquistas são merecidas e construída a base de muita determinação, coragem e desejo.Muitas outras conquistas chegarão. Parabéns!!!

Desejo muita saúde e muita sorte hoje e sempre!
Cuide-se Pessoa!
Um grande beijo no seu coração.


Ninguém me habita
(Thiago de Mello)

Ninguém me habita. A não ser
o milagre da matéria
que me faz capaz de amor,
e o mistério da memória
que urde o tempo em meus neurônios,
para que eu, vivendo agora,
possa me rever no outrora.
Ninguém me habita. Sozinho
resvalo pelos declives
onde me esperam, me chamam
(meu ser me diz se as atendo)
feiúras que me fascinam,
belezas que me endoidecem.


A fruta aberta
(Thiago de Mello)
Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei muito,
porque sei o poder imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um peixe grande
no fundo escuro e silencioso do rio
e que hoje é como uma árvore
plantada bem alta no meio da minha vida.


Agora sei as coisa como são.
Sei porque a água escorre meiga
e porque acalanto é o seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão da nova casa.
Agora sei as coisas poderosas
que valem dentro de um homem.


Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua beleza,
com a macia beleza de tuas mãos,
teus longos dedos de pétalas de prata,
a ternura oceânica do teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com tua pele fresca e enluarada,
a tua infância permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no teu rosto.


Grandes coisas simples aprendi contigo,
com o teu parentesco com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo acrescenta,
e a cada instante mais aprendo
com o teu jeito de andar pela cidade
como se caminhasses de mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva molhada,
com a luz dos teus dentes,
tuas delicadezas secretas,
a alegria do teu amor maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um arco-íris
partindo ao meio e unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
como uma fruta aberta.


(Sobrevoando a Cordilheira dos Andes, 1962)






Nada Sei
Kid Abelha
Composição: Paula Toller/George Israel
Nada sei dessa vida
Vivo sem saber
Nunca soube, nada saberei
Sigo sem saber...
Que lugar me pertence
Que eu possa abandonar
Que lugar me contém
Que possa me parar...
Sou errada, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Vou errando
Enquanto tempo me deixar
Errando
Enquanto o tempo me deixar...
Nada sei desse mar
Nado sem saber
De seus peixes, suas perdas
De seu não respirar...
Nesse mar, os segundos
Insistem em naufragar
Esse mar me seduz
Mas é só prá me afogar...
Sou errada, sou errante
Sempre na estrada
Sempre distante
Vou errando
Enquanto o tempo me deixar
Errando
Enquanto o tempo me deixar...

Outro vídeo para você Pessoa!








Non, Je Ne Regrette Rien
Não! Eu não lamento nada...
(Michel Vaucaire / Charles Dumont)

Non, Rien De Rien, Non, Je Ne Regrette Rien
Não! Nada de nada...Não! Eu não lamento nada...
Ni Le Bien Qu`on M`a Fait, Ni Le Mal
Nem o bem que me fizeram, Nem o mal
Tout Ça M`est Bien Egal
Isso tudo me é igual!
Non, Rien De Rien, Non, Je Ne Regrette Rien
Não, nada de nada...Não! Eu não lamento nada...
C`est Paye, Balaye, Oublie, Je Me Fous Du Passe
Está pago, varrido, esquecido, Não me importa o passado!

Avec Mes Souvenirs J`ai Allume Le Feu
Com minhas lembranças, Acendi o fogo
Mes Shagrins, Mes Plaisirs,
Minhas mágoas, meus prazeres
Je N`ai Plus Besoin D`eux
Não preciso mais deles!
Balaye Les Amours Avec Leurs Tremolos
Varridos os amores, E todos os seus tremores
Balaye Pour Toujours
Varridos para sempre
Je Reparas A Zero
Recomeço do zero.

Non, Rien De Rien, Non, Je Ne Regrette Rien
Não! Nada de nada...Não! Não lamento nada...!
Ni Le Bien Qu`on M`a Fait, Ni Le Mal
Nem o bem que me fizeram, Nem o mal
Tout Ça M`est Bien Egal
isso tudo me é bem igual!
Non, Rien De Rien, Non, Je Ne Regrette Rien
Não! Nada de nada...Não! Não lamento nada...
Car Ma Vie, Car Me Joies
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Aujourd`hui Ça Commence Avec Toi
Hoje, começam com você!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Gostaria de compartilhar esse texto com vocês:"Uma informação por favor"?


Ontem passei a tarde em casa me recuperando de uma sinusite a base de muitas medicações que não me deixaram muito bem com todos os efeitos colaterais que são causados. De repente recebo uma ligação de uma amiga e depois de falarmos um pouco resolvemos compartilhar a leitura de alguns textos. Isso foi muito especial e me fez esquecer todos os efeitos colaterais causados pela medicação.


Eu e minha amada amiga fizemos uma espécie de revezamento de leitura ao telefone. Ela terminava uma leitura eu iniciava outra e ficamos fazendo isso durante algum tempo.Depois de algumas leituras se faz um minuto de silêncio que foi quebrado assim:
-“ Fiquei arrepiada e emocionada com esse texto!”
-“ Eu também! Somos bestas, não é?”
- “Não! É apenas um texto que nos emocionou!”

Segue aqui o texto que gostaria de compartilhar com vocês:


"Uma informação por favor"?

Quando eu era criança, bem novinho, meu pai comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança. Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na cômoda da sala. Eu era pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém. Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era "Uma informação, por favor" e não havia nada que ela não soubesse. "Uma informação, por favor" poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa.

Minha primeira experiência com esse gênio na garrafa veio um dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramentas quando bati em meu dedo com um martelo. A dor era terrível mas não havia motivo para chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia. Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido até pensei: o telefone!

Rapidamente fui até o porão, peguei uma pequena escada que coloquei em frente à cômoda da sala. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido. Alguém atendeu e eu disse "Uma informação por favor". Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido. "Informações". "Eu machuquei meu dedo...", disse, e as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência. "A sua mãe não está em casa?", ela perguntou. "Não tem ninguém aqui...", eu soluçava. "Está sangrando?" "Não", respondi. "Eu machuquei o dedo com o martelo, tá doendo..." "Você consegue abrir o congelador?", ela perguntou. "Eu respondi que sim." "Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo", disse a voz.

Depois daquele dia, eu ligava para "Uma informação, por favor" por qualquer motivo. Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava a Philaddelphia. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas. Então, um dia, Petey, meu canário, morreu. Eu liguei para "Uma informação, por favor" e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável. Eu perguntava: "Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola? Ela deve Ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente. "Paul, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também..." De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor.
No outro dia, lá estava eu de novo. "Informações.", disse a voz já tão familiar. "Você sabe como se escreve "exceção?" Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao norte do Pacífico.

Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para Boston. Eu sentia muita falta da minha amiga. "Uma informação, por favor" pertencia àquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava na nova cômoda na nova sala. Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Frequentemente, em momentos de dúvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo.

Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um molequinho. Alguns anos depois, quando estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala em Seatle. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos. Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o número da operadora daquela minha cidade natal e pedi: "Uma informação, por favor". Como um milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo: "Informações." Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando: "Você sabe como se escreve Exceção?" Houve uma longa pausa. Então, veio uma resposta suave: Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paul." Eu ri. "Então, é você mesma!", eu disse. "Você não imagina como era importante para mim naquele tempo." "Eu imagino", ela disse. "E você não sabe o quanto significava para mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você ligasse". "Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontrar a minha irmã.

"É claro!", ela respondeu. "Venha até aqui e chame a Sally." Três meses depois eu fui a Seatle visitar minha irmã. Quando liguei, uma voz diferente respondeu: "Informações." Eu pedi para chamar a Sally. "Você é amigo dela?", a voz perguntou. "Sou, um velho amigo. O meu nome é Paul." "Eu sinto muito, mas a Sally estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há cinco semanas." Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou: "Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paul?"
"Sim""A Sally deixou uma mensagem para você.

Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse.
Eu vou ler para você".


A mensagem dizia: "Diga a ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender." Eu agradeci e desliguei. Eu entendi...

NUNCA SUBESTIME A "MARCA" QUE VOCÊ DEIXA NAS PESSOAS.




Desconheço o autor.



Te amo muito minha amiga e levo comigo suas marcas!
Obrigada,
Papillon
.

domingo, 30 de agosto de 2009

Poema Falado: Filosofia do Gesto ou Pernambucobucolismo







Lembro-me bem do que escreveu Fernando Pessoa no seu Palavras do Pórtico. Disse ele: Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não é preciso”*. Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. Quero para mim o espírito dessas palavras a fim de transformá-las em minhas e, desta forma, poder dizer: DESCOLAR-SE É PRECISO!

O Poema Falado deste mês discorre sobre o bucólico ato de descolar-se. Reúne quatro poemas: Filosofia do Gesto, de Mel de Carvalho, falado por Sílvio Benevides; Poema para Amsterdam, de Sérgio LDS; Lisboa, de Coimbra de Resende; Vielas de Alfama, belíssimo fado de Maximiano de Sousa e Arthur Ribeiro; e, por fim, Pernambucobucolismo, canção viandante composta por Marisa Monte e Rodrigo Campelo, interpretada pela própria Marisa Monte. Boa Leitura!







*NOTA: “Navigare necesse; vivere non est necesse”, frase atribuída a Pompeu (106-48 aC.), general romano, dita aos marinheiros que, amedrontados, recusavam viajar durante a guerra.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009


Canção do Amor-Perfeito

(Cecília Meireles)


O tempo seca a beleza.
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.
O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.
O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.
Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.
________________________________________
Melhores Poemas, Global Editora, 1977 - SP, Brasil

ÚLTIMO POEMA DO MARINHEIRO

(Thiago de Mello)

O marinheiro encontrou o seu caminho no mar.
Mas uma noite, de repente,
o mar foi vazando, vazando,
até que secou completamente.

Seu barco, solitário
sobre o fundo do abismo,
torna-se uma coisa grotesca e sem sentido.

Estrangeiro entre os homens da terra,
caminha o marinheiro por estradas inúteis,
levando nos olhos um mistério verde
e na boca o amargor de tanto sal.

Contudo, nas noites de muito vento,
debruça-se na murada do tempo
e, enquanto espera o retorno do mar,
inaugura caminhos de cinza e de nada.

domingo, 16 de agosto de 2009

Colabaroção de Coccienelle



ELOGIO DO PECADO
(Bruna Lombardi)

Ela é uma mulher que goza
celestial sublime
isso a torna perigosa
e você não pode nada contra o crime
dela ser uma mulher que goza
você pode persegui-la, ameaçá-la
tachá-la, matá-la se quiser
retalhar seu corpo, deixá-lo exposto
pra servir de exemplo.
É inútil. Ela agora pode resistir
ao mais feroz dos tempos
à ira, ao pior julgamento
repara, ela renasce e brota
nova rosa
Atravessou a história
foi queimada viva, acusada
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada
retorna inteira, maior, mais larga
absolutamente poderosa.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Parabéns,Doutor Silvio Benevides!



Parabéns meu grande AMIGO pelo sucesso alcançado!
Que honra em anunciar: Doutor Silvio Benevides.
Quantos caminhos percorridos para chegar a esse titulo, em?
Eu bem sei quantos foram os momentos de insônia, angustia, ansiedade e de muita elaboração que você viveu.
O importante é que você venceu!
Agora é só comemorar ou melhor comemorarmos.
Saiba que tenho muito orgulho de você e me emocionei vendo a sua defesa.Uma defesa cheia de conhecimento, reconhecimento, de humildade e de muita generosidade.
Méritos seus!
Parabéns!!! Parabéns!!! Parabéns!!!




Catarse
Fernanda Pittelkow

Me coloco pra fora
Me exponho
Me lamento toda hora
Me construo Desatino
Me destruo
Desabafo
Me escorro pelos olhos
Saio de mim para esquecer a tristeza
Lavo o rosto, o corpo,
e a alma!
Choro!

sábado, 8 de agosto de 2009

As aventuras de Cacá

Gente achei no YouTube algo que adorava e queria dividir com vocês.
Adorava esse desenho.


Esse episódio conta a história de uma erupção vulcânica que aconteceu na era em que Cacá vivia. (Caso alguns ainda não tenham percebido, As aventuras de Cacá acontecem numa época da pré-história, com direito a dinossauros e criaturas fantasiosas)

Esse episódio ensina e exercita importantes valores e virtudes no ser humano como o trabalho em equipe, paciência, compaixão etc.

As dificuldades com a falta de comida leva-nos a exercitar a imaginação. Como será que eles irão se alimentar agora? o que acontecerá?

É um excelente episódio que com certeza todos irão adorar.

Parte 1




Parte 2


O vestido
Adélia Prado


No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.




My blog award

O primeiro prêmio do blog!




Estou atrasada para agradecer! Mas antes tarde do que nunca, não é?
Às vezes nós encontramos pessoas que nos fazem sentir muito bem. Devido a isto, elas são muito singulares e inesquecíveis pessoas! Não importa o que essas pessoas usam para fazer nos sentir melhor ou onde eles vivem, se perto de nós ou no outro lado do mundo.Sua bondade as torna perto de nosso coração. É somente com o coração que pode ter uma razão. Afinal: “ o essencial é invisível para os olhos”.

O Bienvenue-Ami ganhou um prêmio muito especial: o I LOVE YOUR BLOG. Esse premeio chegou a partir da indicação de um outro blog o Salvador na sola do pé. E quero dividir com vocês que fazem desse blog um lugar ainda mais especial!


Amigo, muito obrigada por essa indicação e sei o quanto você gosta desse blog ou não o indicaria apenas por nossa amizade, não é mesmo! E por esta razão, você é um amigo ainda mais especial para mim. E isso me deixa muito feliz!
Tenho que dizer que esse blog ganha muito também com suas colaborações e o premeio também é seu!
Obrigada mais uma vez!!!

Agora, em função das regras do Lonely Friend tenho de nomear outros blogs que eu amo e que faz parte do meu mundo virtual. São blogs que visito muitas vezes em busca de conhecimento,leitura, cultura e por ter um ótimo conteúdo.

Eis aqui minhas nomeações:

Jornal de Poesia: http://www.revista.agulha.nom.br/feito.html
Aqui você encontra muito mais de não sei quantos mil poetas, contistas e críticos de literatura. Adoro fazer minhas consultas como sou fã desse espaço cultural.


Mulheres que amo: http://zezepina.utopia.com.br/poesia/autoras.html
Um blog simples e que tem como proposta revelar o mundo feminino ao mostrar poemas criados apenas por mulheres. Aqui descobrir muitas mulheres interessantes e que também divulgo no meu blog.

O cantinho de Coccinelle: http://www.jesuiscoccinelle.blogspot.com/
E como o proprio blog diz: “esse cantinho foi concebido com o propósito de fazer ecoar os acordes dissonantes e de contemplar o BELO nas suas mais variadas formas de expressão.” Estou sempre bebendo da fonte desse cantinho e fazendo minhas colaborações quando possível.

Haikai





Alguns haikais de Paulo Leminski



  • rio do mistério
    que seria de mim
    se me levassem a sério?

  • tudo claro
    ainda não era o dia
    era apenas o raio

  • esta vida é uma viagem
    pena eu estar
    só de passagem


  • cortinas de seda
    o vento entra
    sem pedir licença

  • jardim da minha amiga
    todo mundo feliz
    até a formiga


  • não discuto
    com o destino
    o que pintar
    eu assino.

  • amar é um elo
    entre o azul
    e o amarelo

  • a palmeira estremece
    palmas pra ela
    que ela merece

  • nada me demove
    ainda vou ser o pai
    dos irmaos Karamazov

  • na rua
    sem resistir
    me chamam
    torno a existir

  • casa com cachorro brabo
    meu anjo da guarda
    abana o rabo

  • as folhas tantas
    o outono
    nem sabe a quantas

  • amei em cheio
    meio amei-o
    meio nao amei-o

  • pelos caminhos que ando
    um dia vai ser
    só não sei quando

  • abrindo um antigo caderno
    foi que eu descobri
    antigamente eu era eterno
  • tudo dito,
    nada feito,
    fito e deito

  • tarde de vento
    até as árvores
    querem vir pra dentro

  • nadando num mar de gente
    deixei lá atrás
    meu passo a frente

  • noite alta lua baixa
    pergunte ao sapo
    o que ele coaxa

  • acabou a farra
    formigas mascam
    restos da cigarra

  • relógio parado
    o ouvido ouve
    o tic tac passado

  • a estrela cadente
    me caiu ainda quente
    na palma da mão

  • de colchão em colchão
    chego à conclusão
    meu lar é no chão

  • meio dia três cores
    eu disse vento
    e caíram todas as flores






O haikai é um poema originário do Japão.
Como fazer haikai, de acordo com Paulo Leminski
- Você tem a fórmula do conteúdo
-Escolha temas simples: natureza, primavera, verão, outono, inverno;
- O primeiro verso expressa algo permanente, eterno
- O segundo, introduz uma novidade, um fenômeno;
- O terceiro e último, é a síntese;

http://www.revista.agulha.nom.br/pl.html#haicai