sexta-feira, 18 de junho de 2010

Perdemos José Saramago!

Morreu hoje o único escritor de língua portuguesa a ganhar o Nobel de Literatura.
José Saramago morre aos 87 anos.





"Pensar, pensar
Junho 18, 2010 por Fundação José Saramago


Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.

Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008"

José Saramago morreu em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença.O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila, em casa, nas Ilhas Canárias, às 12.30 horas desta sexta-feira.

Biografia

Prêmio Nobel de Literatura em 1998, primeiro escritor de língua portuguesa a obter a honraria, Saramago mostrou ao longo de sua vida uma paixão duradoura pela literatura.

Seus livros são marcados pelos períodos longos e pela pontuação em muitos momentos quase inexistente. Os artifícios formais são vistos como verdadeira barreira para vários leitores, mas outros se encantam com a fluidez de seus textos, sempre entremeados por reflexões fortemente humanistas.

Nascido em 16 de novembro de 1922, em aldeia do Ribatejo chamada Azinhaga, de família humilde, Saramago só veio a produzir sua primeira obra de sua fase mais madura em 1980, "Levantado do Chão".

Dois anos depois, "Memorial do Convento" o colocou como um dos maiores autores de Portugal, posição confirmada com o lançamento do inventivo "O ano da morte de Ricardo Reis", em que narra os dias finais do heterônimo de um dos pilares da literatura de seu país: Fernando Pessoa, em uma criativa mescla de fatos reais e imaginados.

Saramago era um autor prolífico. Além de romances, publicou diários, contos, peças, crônicas e poemas. Ainda em 2009, lançou mais um livro, "Caim".

Esta obra retoma um personagem bíblico, subvertendo a versão oficial da Igreja Católica. Em 1991, seu "Evangelho segundo Jesus Cristo" dispôs de artifício semelhante. A "reescrita" do ateu convicto de esquerda não agradou aos religiosos, provocando grande polêmica em uma nação fortemente católica.

No ano seguinte, o livro foi indicado a um prêmio, mas o governo português vetou a candidatura. Insatisfeito, Saramago partiu para um "exílio voluntário" na espanhola Lanzarote, nas Ilhas Canárias, onde vivia desde 1993.

Outro de seus romances, "Ensaio sobre a Cegueira", narra uma epidemia em que os personagens perdem a visão, enquanto uma mulher a mantém. A obra, uma das mais conhecidas do português, foi adaptada para o cinema pelas mãos do diretor brasileiro Fernando Meirelles. O filme foi exibido no Festival de Cannes.

Atualmente Saramago estava preparando um livro sobre a indústria do armamento. "Todo mundo tem armas, vivemos numa sociedade de violência, que é aceita e a televisão está nos dizendo todos os dias que a vida humana não tem nenhuma importância", afirmou, em entrevista em novembro.



Veja livros publicados por Saramago


Terra do Pecado, 1947
Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
Levantado do Chão, 1980
Memorial do Convento, 1982
O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
A Jangada de Pedra, 1986
História do Cerco de Lisboa, 1989
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
Ensaio Sobre a Cegueira, 1995
Todos os Nomes, 1997
A Caverna, 2000
O Homem Duplicado, 2002
Ensaio Sobre a Lucidez, 2004
As Intermitências da Morte, 2005
A Viagem do Elefante, 2008
Caim, 2009

Peças Teatrais


"A Noite" (1979)"
Que Farei com Este Livro?" (1980)"
A Segunda Vida de Francisco de Assis" (1987)"
In Nomine Dei" (1993)"
Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido" (2005)
Contos"Objeto Quase" (1978)"
Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido" (1979)"
O Conto da Ilha Desconhecida" (1997)Poemas"
Os Poemas Possíveis" (1966)"
Provavelmente Alegria" (1970)"
O Ano de 1993" (1975) Crônicas "
Deste Mundo e do Outro" (1971)"
A Bagagem do Viajante" (1973)"
As Opiniões que o DL Teve" (1974)"
Os Apontamentos" (1976)"
Viagens a Portugal" (1981) "


Retirada algumas informações do: http://ultimosegundo.ig.com.br e

Fundação José Saramago

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Poema Falado: Drummond e Rimbaud

Teu desejo inclui e é senhor do meu; vida a meus pensamentos dentro de seu coração é dada; minhas palavras começam a respirar sobre teu hálito...por que devo procurar apaziguar desejo intenso com ainda mais lágrimas e palavras sopradas de dor, quando o céu, mais tarde ou mais cedo, não manda alívio para almas a quem o amor vestiu com fogo”? (Michelângelo)

A homossexualidade é mais velha que a humanidade, tendo florescido entre nossos ancestrais hominídeos. Pesquisas antropológicas em sociedades pré-históricas estabeleceram que relações entre indivíduos do mesmo sexo eram permissíveis e, ainda, desempenhavam papel crucial no ritual de passagem masculino. Arqueólogos, investigando as civilizações da Suméria, Mesopotâmia e Egito, descobriram evidências de que o amor homossexual era vital para a integridade do tecido social.

O status privilegiado da homossexualidade na Grécia antiga é conhecido, mas o “amor grego” era um ideal importante também para a militarista Roma. Na China e na Índia da antiguidade, assim como no Império Islâmico, o amor pelo mesmo sexo era respeitado e honrado. Na Renascença, a homossexualidade floresceu em sociedades abertas com a florentina.

Se desde o início a Igreja lutou contra o amor pelo mesmo sexo, era porque ele estava [e ainda está] por toda parte a sua volta [nas diversas ordens religiosas, masculinas e femininas], nas congregações e entre seus próprios sacerdotes. A homossexualidade ameaçava sua autoridade. Onde quer que tenha havido tirania e totalitarismo, o amor pelo mesmo sexo foi reprimido [talvez pelo seu caráter intrinsecamente libertário]. Da Espanha de Ferdinando e Isabella ao Reich nazista. De Santo Agostinho ao senador americano Joseph McCarthy, ideólogos acharam na “anormalidade” sexual um sinal claro de heterodoxia doutrinal ou política.

Mas apesar da discriminação, da perseguição e da violência de que foram vítimas, homens e mulheres ao longo da história e em todo o mundo defenderam seu direito à diferença. Seja encontrando-se furtivamente em mosteiros e conventos na Europa medieval, ou mais abertamente em clubes e bares de nossas cidades contemporâneas. Seja engajados nos exércitos sem poder revelar suas identidades sexuais, seja proclamando-as nas manifestações pelos direitos homossexuais que ocorrem freqüentemente na maioria dos países do Ocidente (por Colin Spencer. In: Homossexualidade, uma história).




Tais manifestações, comumente chamadas de Paradas do Orgulho Gay têm origem no episódio ocorrido em 1969 na cidade de Nova York, EUA, conhecido por “Batalha de Stonewall”. Naqueles tempos era uma prática corriqueira a polícia prender clientes de bares freqüentados por homossexuais. Em um desses bares, o Stonewall Inn, não era diferente. As prisões e agressões praticadas por policiais contra os freqüentadores homossexuais era algo bastante comum. No dia 28 de junho daquele ano, entretanto, as coisas começaram a mudar. A polícia, como de costume, entrou no bar quando este já se encontrava cheio e comunicou aos presentes que prenderia todos que estivessem vestidos de mulher. Os clientes, porém, resolveram dar um basta naquela situação e reagiram com garrafadas e socos. Os clientes dos bares vizinhos também se envolveram na briga. Foram cerca de duas mil pessoas contra 400 policiais. Esse episódio se configurou numa vitória contra a intolerância. No ano seguinte, 1970, centenas de pessoas saíram às ruas de Nova York para celebrar o primeiro aniversário do episódio de Stonewall. O 28 de junho passou a ser lembrado e celebrado nas ruas de vários países como o dia do orgulho gay. Mais que isso, como o dia do orgulho de um amor que, a despeito das perseguições e massacres que sofreu durante muito tempo, desafiou e desafia os poderes constituídos e, hoje, já não teme em bradar seu nome. E é para celebrar esse orgulho que o Poema Falado desse mês de junho traz os versos O mundo é grande, do Carlos Drummond de Andrade, e Canção da torre mais alta, do Arthur Rimbaud. Boa leitura! (por Sílvio Benevides)

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Imagem: Ricardo Santos