sábado, 18 de dezembro de 2010

Poema Falado - O Menino Jesus


Mais um Natal se aproxima. Mais uma vez votos de prosperidade são desejados aos corações de boa vontade. Entretanto, fico a pensar se pode haver, de fato, prosperidade em meio a tanta ignorância. Não me refiro à ignorância do saber, mas, sim, à ignorância de sabedoria. Explico. Ao se fazer carne e sangue, o Verbo nos ensinou que o amor é o único caminho. Amai-vos uns aos outros, esse foi o legado do Verbo. Mas será que tal legado é vivido por aqueles que se dizem cristãos? Se sim, por que, a despeito de toda a tecnologia e de tanto dinheiro (concentrado nas mãos de poucos é verdade), a fome é, ainda, um flagelo presente na história da humanidade? Arrisco dizer que o desamor nos leva a abandonar seres humanos a tão amarga sorte. O Poema Falado deste mês de dezembro, época em que os cristãos de todo o mundo comemoram o nascimento do Menino Jesus, o Verbo encarnado, propõe uma reflexão. De autoria da extraordinária Adélia Prado, o texto nos diz: “Sofri sozinha este insuportável, / quando me trouxeram o menino / que parecia dizer/ ‘me pega, diz que não sou órfão, / que tenho pai e mãe, / me fala que não sou um usurpador’. / Atracou-se comigo até dormir. / Mesmo rígida, / fui sua cruz mais branda”. Faço votos de que no ano que se aproxima ninguém se sinta um órfão ou um usurpador. Boa vídeo-leitura (por Sílvio Benevides).


sábado, 6 de novembro de 2010

Poema Falado: Se eu morresse amanhã.

Não é a primeira vez que o tema morte aparece nesse espaço. Como já foi dito em outra ocasião, morrer é um verbo intransitivo que denota perda da vida, da existência. Para uns morrer é o fim, conforme definiu Heidegger ao escrever que a morte é a “nulidade possível das possibilidades do homem e de toda forma do homem”. Para outros, porém, morrer significa renascer para outra vida, como a borboleta renasce quando morre o casulo, a semente ao germinar a árvore ou o ovo ao romper-se em ave. Seja como for, ninguém é indiferente à morte, a única e inexorável certeza de nossas existências. No mês em que se homenageiam todos aqueles que se foram e deixaram profundas saudades, o Poema Falado trás o texto “Se eu morresse amanhã”, escrito por Álvares de Azevedo: “Se eu morresse amanhã, viria ao menos / Fechar meus olhos minha triste irmã; / Minha mãe de saudades morreria / Se eu morresse amanhã! /Quanta glória pressinto em meu futuro! / Que aurora de porvir e que manhã! / Eu perdera chorando essas coroas / Se eu morresse amanhã! / Que sol! que céu azul! que dove n'alva / Acorda a natureza mais loucã! / Não me batera tanto amor no peito / Se eu morresse amanhã! / Mas essa dor da vida que devora / A ânsia de glória, o dolorido afã... / A dor no peito emudecera ao menos / Se eu morresse amanhã”. Característico do período romântico, o texto é dito pelo saudoso Paulo Autran e vem acompanhado da maravilhosa música do André Sperling, Tristes Dias. Boa leitura audiovisual (por Sílvio Benevides).


quinta-feira, 28 de outubro de 2010

O Filme: Como Estrelas na Terra Toda Criança é Especial




Você sabe o que é ser EDUCADOR ?
Sabe o SIGNIFICADO da palavra CUIDAR ?
Reconhece a palavra DIVERSIDADE ?
Entende a palavra RESPEITO?
Concorda que cada pessoa tem UM RITMO DIFERENTE ?
Qual o papel da ARTE, do AMOR, da SENNSIBILIDADE, da IMAGINAÇÃO e da criatividade na EDUCAÇÃO?

Não quero sua resposta mas tenho uma sugestão:
Veja o filme Indiano: Como Estrelas na Terra Toda Criança é Especial

EMOCIONANTE! EMOCIONANTE! EMOCIONANTE!

Esse filme mostra que alguém já pensou sobre todas essas questões aqui colocadas.
Poderemos trocar ideias sobre essas e outras questões depois que você
assistir ao filme: Como Estrelas na Terra Toda Criança é Especial ( Taare Zameen Par - every Child is special).


Que filme incrível! Que filme atual! Que filme real!

Minha vontade assim que acabei de assistir o filme foi divulgar para todo mundo que, como eu, trabalha com educação.

Você já ouviu falar em DISLEXIA?
Não? Então assista o filme!!!
Já? Então assista o filme!!!

É mesmo uma reação indescritível...mistura de emoções...dor, prazer.... Um filme que me fez chorar, sofrer, encantar...e acreditar que tudo é possível!!

O não reconhecimento, o não acreditar e o desrespeito com as diferenças é o que torna o processo de educar cada vez mais difícil...ISSO TEM QUE MUDAR!

Esse filme mostra que ter um olhar cuidadoso e sem julgamento pode mudar o destino de muitos pessoas e tornar o aprender prazeroso....

Como Estrelas na Terra Toda Criança é Especial deve fazer parte do currículo mínimo para formação de educador....educar é perceber as diferenças, é respeitar as diferenças.

O verdadeiro papel de um educador é a formação de um novo ser humano. Mas como isso é possível SEM OLHAR AS DIFERENÇAS, SEM NOTAR AS DIFERENÇAS, SEM INCLUIR AS DIFERENÇAS ?????

Ganhei de minha amiga Sandra Lemos esse presente e quero FAZER PARTE na divulgação desse TESOURO PARA EDUCAÇÃO. Tenho a certeza que cada pessoa que assistir ao filme vai APRENDER A OLHAR O MUNDO DE UMA OUTRA MANDEIRA OU SEJA DE UMA MANEIRA DIFERENTE! (Por: Gina Carla Reis).





Mas especificamente, neste caso, o que é dislexia, como identificar e quais as medidas a serem adotadas?

Dislexia é uma palavra grega que quer dizer distúrbio de linguagem e tem como principais características dificuldades na leitura, escrita, soletramento de palavras e compreensão do que se lê. Apesar de não haver um consenso dos cientistas sobre as causas da dislexia, pesquisas recentes apontam fortes evidências neurológicas para a dislexia. Vários pesquisadores sugerem uma origem genética para a dislexia. Outro fator que vem sendo estudado é a exposição do feto a doses exageradas de testosterona, hormônio masculino, durante a sua formação in-útero no ramo de estudos da teratologia; nesse caso a maior incidência da dislexia em pessoas do sexo masculino seria explicada por abortos naturais de fetos do sexo feminino durante a gestação. Segundo essas teorias, a dislexia pode ser explicada por causas físico-químicas (genéticas ou hormonais) durante a concepção e a gestação, dando uma explicação sobre os motivos de haver, aproximadamente, 4 pessoas disléxicas do sexo masculino para 1 do sexo feminino. Segundo essa abordagem da dislexia, ela é uma condição que manifesta-se por toda a vida não havendo cura. Em alguns casos remédios e estratégias de compensação auxiliam os disléxicos a conviver e superar suas dificuldades com a linguagem escrita.
É um problema que quanto mais cedo for detectado, melhor. "Assim há a possibilidade de uma intervenção terapêutica e você pode ajudar a criança a se desenvolver melhor, sendo capaz de driblar as dificuldades e desenvolver novas habilidades que possam fazer com que ela não sofra tanto na escola ou em outras situações nas quais depende da leitura e escrita", indica o orientador educacional, fundador e membro da diretoria da ABD (Associação Brasileira de Dislexia), Mário Ângelo Braggio.
Como é uma dificuldade de aprendizagem perceptual, pode ser de natureza mais visual, auditiva ou mista. E, além disso, é dividida em três graus: leve, moderado e severo. Esses são rótulos que são atribuídos apenas pela necessidade de se dar um nome para aquilo que a pessoa tem. Mas quando se analisa cada caso, se vê que, além dessas características, também é necessário considerar a pessoa em si: história de vida, meio em que vive, ambiente do qual vem, oportunidades que teve, estímulo que recebe.A professora do mestrado em Educação da Univali (Universidade do Vale do Itajaí) Elisabeth Caldeira explica que diferente das "dislexias desenvolvimentais", ou seja, aquelas ligadas a uma perturbação específica do reconhecimento visual das palavras - na ausência de qualquer atraso intelectual da criança -, as "dislexias adquiridas apresentam origem neuropsicológica.

O Papel do Professor:


Como é uma síndrome geralmente detectada na infância, o papel do professor é muito importante, principalmente na fase da alfabetização. Perceber que está ocorrendo algo errado com determinado aluno é essencial para evitar traumas futuros. Porém o que muitas vezes acontece é a falta de conhecimento sobre a dislexia que pode trazer avaliações distorcidas. Esse quadro de dificuldade de leitura não tem cura, e acompanha uma pessoa por toda a vida, do ensino fundamental até o superior.
Nenhum professor precisa ser oftalmologista para notar que o estudante não está enxergando bem. O dia-a-dia da sala de aula mostra isso. O mesmo vale para a audição e outras deficiências, como a própria dislexia. O professor percebe que tal pessoa é inteligente, perspicaz, criativa, tem facilidade para fazer uma porção de coisas, no entanto, quando tem que ler, escrever ou entender o que leu, pronto, nem parece a mesma. Esses indícios são os mais significativos.
"Os professores e coordenadores pedagógicos têm que ter algum tipo de treinamento, alguma sensibilidade para detectar que é mesmo dislexia, para não falar que o aluno é folgado, vagabundo e não quer aprender", ressalta o professor de Leitura e Lingüística da UVA (Universidade Estadual Vale do Acaraú), Vicente Martins. "Ninguém enxerga aquilo que não conhece." A dislexia, além de causar dificuldade na leitura e na escrita pode trazer problemas emocionais e sérias conseqüências para toda a vida. Portanto, é preciso muito cuidado para não rotular seus portadores.
Quando se fala em dislexia, existem dois componentes que devem ser levados em conta: ler e compreender o texto. Quem tem dificuldade de leitura, tem problemas em ler um texto em voz alta e, conseqüentemente, em compreendê-lo. Para quem chega à graduação e passa por uma enxurrada de textos que são necessários para a compreensão e resposta de uma série de questionamentos das diversas disciplinas da grade curricular, é importante que os professores dêem uma orientação e atenção especial.

Confira, abaixo algumas atitudes simples que os docentes podem ter em sala de aula para evitar a exclusão do aluno disléxico:

Pré-Escola, pré-alfabetização:

Dificuldades mais identificadas :
1. -Aquisição tardia da fala
2. -Pronunciação constantemente errada de algumas sílabas
3. -Crescimento lento do vocabulário
4. -Problemas em seguir rotinas
5. -Dificuldade em aprender cores, números e copiar seu próprio nome
6. -Falta de habilidade para tarefas motoras finas (abotoar, amarrar sapato, ...)
7. -Não conseguir narrar uma história conhecida em seqüência correta
8. -Não memorizar nomes ou símbolos
9. -Dificuldade em pegar uma bola

Início do Ensino fundamental – Alfabetização

Dificuldades mais identificadas :
-fala
-aprender o alfabeto
-planejamento e execução motora de letras e números
-preensão do lápis
-motricidade fina e do esquema corporal.
-separar e seqüenciar sons (ex: p – a – t – o ).
-habilidades auditivas - rimas.
-discriminar fonemas de sons semelhantes: t /d; - g / j; - p / b.,
-diferenciação de letras com orientação espacial: d /b ;- d / p; - n /u; - m / u pequenas diferenças gráficas: e / a;- j / i;- n / m;- u /v.
-orientação temporal (ontem – hoje – amanhã, dias da semana, meses do ano).
-orientação espacial (lateralidade difusa, confunde a direita.
Início do Ensino fundamental
Dificuldades mais identificadas :
1. -atraso na aquisição das competências da leitura e escrita. Leitura silábica, decifratória. Nível de leitura abaixo do esperado para sua série e idade.
2. -soletração de palavras.
3. -ler em voz alta diante da turma.
4. -supressão de letras: cavalo /caalo;-. biblioteca/bioteca; - bolacha / boacha.
5. -Repetição de sílabas: pássaro / passassaro; camada / camamada.
6. -seqüência de letras em palavras Inversões parciais ou totais de sílabas ou palavras (ai-ia; per-pré; fla-fal; me-em).
7. -Fragmentação incorreta: o menino joga bola - omeninojo gabola.
8. -planejar, organizar e conseguir terminar as tarefas dentro do tempo.
9. -enunciados de problemas matemáticos e figuras geométricas.
10. -elaboração de textos escritos expressão através da escrita .
11. -compreensão de piadas, provérbios e gírias.
12. -seqüências como: meses do ano, dias da semana, alfabeto, tabuada. mapas.
13. -copiar do quadro.

Ensino Médio

Dificuldades mais identificadas:
1. Podem ter dificuldade em aprender outros idiomas.
2. -Permanência da dificuldade em soletrar palavras mais complexas.
3. -Dificuldade em planejar e fazer redações.
4. -Dificuldade para reproduzir histórias.
5. -Dificuldade nas habilidades de memória.
6. -Dificuldade de entender conceitos abstratos.
7. -Dificuldade de prestar atenção em detalhes ou, ao contrário, atenção demasiada a pequenos detalhes.
8. -Vocabulário empobrecido.
9. -Criação de subterfúgios para esconder sua dificuldade.

Ensino Superior/ Universidade

Dificuldades mais identificadas:
-Horários (adiantam-se, chegam tarde ou esquecem).
-Planejamento e organização e -letra cursiva.
-Normalmente tem talentos espaciais (engenheiros, arquitetos, artistas).
-Leitura vagarosa e com muitos erros e falta do hábito de leitura.
Importante observar ainda pessoas adultas cujos sinais de dislexia não foram detectados na fase escolar. Memória imediata prejudicada; dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomia); dificuldade com direita e esquerda; dificuldade em organização; aspectos afetivos emocionais prejudicados, trazendo como conseqüência depressão, ansiedade, baixa auto-estima e, algumas vezes, o ingresso para as drogas e o álcool, podem sinalizar tal condição.O disléxico tem um ritmo diferente dos não-disléxicos. Portanto, evite submetê-lo a pressões de tempo ou competição com os colegas. É importante estimulá-lo a acreditar no seu potencial. Disléxicos podem se tornar profissionais competentes e levar uma vida saudável.
Agatha Christie, Einstein, Darwin, Franklin Roosevelt, Leonardo DaVinci, Michaelangelo, Robin Williams, Tom Cruise, VanGogh e Walt Disney. O que essas personalidades das mais diversas épocas têm em comum? Todos foram ou são portadoras de dislexia, síndrome que acomete de 10% a 15% da população mundial.









domingo, 3 de outubro de 2010

Poema Falado: Coming

A filósofa existencialista Simone de Beauvoir escreveu em sua obra de referência, O Segundo Sexo, que não se nasce mulher. Torna-se. O mesmo se pode dizer a respeito do homem. Não se nasce homem. Torna-se. Ser mulher ou homem não é um dado natural, uma condição biológica, mas, sim, um papel social que se aprende e apreende ao longo de nossa existência, sobretudo, nos primeiros anos de nossas vidas. O certo mesmo é que seres humanos nascem machos ou fêmeas, como qualquer mamífero, réptil, ave, anfíbio, peixe, inseto ou molusco. Entretanto, a maneira como esses seres humanos machos ou fêmeas se comportam em sociedade resulta de um processo de aprendizagem, que a sociologia chama de socialização. Internalizamos as funções atribuídas para cada sexo de tal modo que passamos a crer que tais funções são determinadas pela natureza e não pela cultura. Daí as ciências sociais fazerem uma distinção entre sexo, uma condição biológica (macho/fêmea) e gênero, um papel social (homem/mulher). Dito desta forma, tudo seria muito simples. Todavia, a vida social não é tão simples assim. Alguns seres humanos, os mais audaciosos, se recusam a internalizar esquemas prontos e acabados do tipo ou isto ou aquilo e ponto final. Não. Por se sentirem livres, transitam entre os gêneros com tamanha desenvoltura que costumam fundir e confundir a cabeça de muita gente. Por isso são desqualificados e, na maioria das vezes, vítimas de toda sorte de perseguição, humilhação e escárnio por “não saberem qual é o seu lugar”. Entretanto, há quem pense que estas pessoas representam o que está porvir. De fato, aqueles que ousam é que são os verdadeiros agentes das mudanças. Os covardes preferem a inércia. Para homenagear a coragem e audácia destes seres humanos ousados, o Poema Falado deste mês traz um texto/música escrito por David Motion, Sally Potter e Jimmy Sommerville, para o filme “Orlando”, dirigido pela Sally Potter e baseado na obra homônima da Virgínia Woolf. A versão em português ficou por conta de Coccinelle, que o traduziu assim: “Estou a chegar! A chegar além! Além de toda e qualquer divisão! Nesse momento de união / Sinto uma enorme euforia / Por estar aqui, agora / Livre, enfim / Sim, livre estou / De tudo o que já passou / E do porvir que acena para mim / Estou a chegar! Estou a chegar! Aqui estou! Nem mulher, nem homem / Somos todos tão somente / Uma única humana face / Somos todos simplesmente / Uma única face humana / Estou na Terra / E também fora dela / Estou a nascer e a morrer”. Veja o vídeo e tenha uma boa audio-leitura (por Sílvio Benevides).

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Muito além do chinfrim: O Barbeiro de Sevilha em Salvador.

Quando visitei a Alemanha pela primeira vez, no verão europeu de 2005, passei os últimos dias da viagem em Frankfurt am Main. Na cidade do Goethe, meu passatempo predileto era contemplar o pôr-do-sol na Opernplatz, enquanto saboreava um belo sorvete. Das escadas do Alte Oper gostava de ver a vida passar de um lado para outro, por vezes calma, tranqüila, por vezes apressada. Naquele final de julho estava em cartaz no imponente teatro o espetáculo “Tristão e Isolda”. Interessante foi observar os espectadores da famosa ópera. Gente de todo tipo adentrava o Alte Oper para apreciar a obra do compositor alemão Richard Wagner. De sisudos senhores e senhoras caprichosamente bem trajados, a jovens ruidosamente descontraídos, passando por belas e exuberantes mulheres escandalosamente vestidas e seus acompanhantes metidos em smokings de corte impecável. De todos esses tipos, os adolescentes foram os que mais me chamaram atenção. Traziam na cara, nos cabelos, na pele e nas roupas os sinais das tribos às quais pertenciam. Fiquei, então, a imaginar se na minha terra, que é a mesma do Castro Alves, uma ópera atrairia tantos jovens assim. Esperei cinco anos para comprovar que sim.

Na última semana esteve em cartaz em Salvador, no Teatro Castro Alves (TCA), a ópera “O barbeiro de Sevilha”, do compositor italiano Gioacchino Rossini. Encenada pela Companhia Brasileira de Ópera, dirigida pelo maestro John Neschling, a magnífica montagem trouxe um alento para a cidade, tão empesteada por manifestações artísticas chinfrins. Encenado de maneira inusitada, o espetáculo misturou no palco elementos típicos do teatro com recursos visuais e tecnológicos que, segundo a produção, “nunca antes foram utilizados no meio operístico”. O resultado lembra algumas produções cinematográficas a exemplo de “Mary Poppins” e “Você já foi à Bahia”, ambos dos estúdios Disney, pois, assim como nestes filmes, a encenação também permite a interação entre atores/cantores de carne e osso com personagens de desenho animado. Para os produtores, “a integração entre cantores, maestro e orquestra com os elementos filmados e desenhados produz efeitos cênicos de grande comicidade e teatralidade, inalcançáveis em encenações convencionais”. De fato, o que se vê é um espetáculo lúdico e grandioso, como convém a uma ópera.

Para alguns espectadores a experiência foi deveras encantadora: “Saí encantada do TCA. Mesmo cansada após um dia com muito corre-corre, venci o sono durante as 2h40min da apresentação. Mas venci graças a essa produção encantadora e que prendeu o público durante os dois atos. Acredito que Rossini nunca imaginaria que sua ópera se tornaria tão popular e muito menos que seriam utilizados recursos tão interessantes para torna a apresentação leve e bem humorada. Os cantores contracenam em um cenário feito por animações, fazendo uma excelente utilização do audiovisual. Foi como assistir a um desenho animado ao vivo”, disse a psicopedagoga Gina Reis.

O mais legal de toda essa história foi perceber que, ao contrário do que apregoam os imbecis, há, sim, espaço para esse tipo de produção em Salvador. O TCA esteve lotado em todos os dias das apresentações. Tal qual na Opernplatz, havia gente de todo tipo, inclusive jovens, muitos jovens, de variadas tribos, adolescentes e, até mesmo, crianças. Apesar das diferenças, o que havia em comum entre todos os espectadores era o desejo de apreciar uma manifestação artística que passava longe, muito longe da estética “axelizante” e “pagodizante” que contaminou a arte soteropolitana. Nada contra o chinfrim. No mundo há espaço para tudo e todos. Entretanto, é irritante constatar que numa cidade com enorme potencial artísticos, onde há tantos artistas magníficos, com propostas estéticas inovadoras e audaciosas, uma platéia ávida por conhecer tais propostas, a aposta é o chinfrim, pois os ineptos gestores culturais locais valorizam tão somente o chinfrim. Mais irritante, ainda, é ouvir a imprensa local e alguns pseudo-intelectuais ovacionarem o chinfrim como a grande contribuição da Bahia para a cultura brasileira e para o mundo. Foi-se o tempo. Agora, vivemos o império do chinfrim. Seguindo assim, Salvador jamais deixará de ser aquela provinciazinha, incansavelmente satirizada nos versos infernais do Gregório de Mattos (por Sílvio Benevides).

Postado por SB-SSA em Salvador na sola do pé
Cia. Brasileira de Ópera - clipe

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Colaboração de Aline Lombello


Morre lentamente
Pablo Neruda

Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajetos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os “is” em detrimento de um redemoinho de emoções, justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida, fugir dos conselhos sensatos.

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.

Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples fato de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.

domingo, 5 de setembro de 2010

Poema Falado: Ideias Íntimas (Lira dos vinte anos)

De acordo com a filosofia, o desejo pode ser entendido como uma tensão em direção a um fim considerado uma fonte de satisfação pela pessoa que deseja. Trata-se, pois, de uma tendência algumas vezes consciente, outras vezes inconsciente ou reprimida. Quando consciente, o desejo se configura como uma atitude mental que acompanha a representação do fim esperado. Este, por sua vez, nada mais é do que o conteúdo mental relativo ao ato de desejar. O desejo não pode ser confundido com a necessidade fisiológica ou psicológica que o acompanha por ser o elemento afetivo destes. Na tradição filosófica, o desejo pressupõe carência, indigência. Um ser que não caressesse de nada não desejaria nada. Este ser seria um perfeito, um deus, portanto. Por isso Platão e os filósofos cristãos conceberam o desejo como uma característica de seres finitos e imperfeitos. O Poema Falado deste mês discorre sobre o desejo de amor e gozo por meio dos magníficos versos do Álvares de Azevedo: "Oh! ter vinte anos sem gozar de leve / A ventura de uma alma de donzela! / E sem na vida ter sentido nunca / Na suave atração de um róseo corpo / Meus olhos turvos se fechar de gozo! / Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas / Passam tantas visões sobre meu peito! / Palor de febre meu semblante cobre, / Bate meu coração com tanto fogo"! Boa Leitura.


quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Metade
Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos
suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Video de autor desconhecido.

domingo, 1 de agosto de 2010

Poema Falado - Depois do Filme


No panteão das antigas lendas gregas as deusas dançarinas, seguidoras de Vênus, receberam a alcunha de Graças. Consta que três elas eram: Aglaia, Tália e Eufrosina. A suavidade dos seus gestos, a leveza dos seus movimentos enchia de beleza, encantamento e alegria a alma de deuses e mortais. No panteão das minhas paixões, três são as graças: a Música, a Literatura e o Cinema. Do mesmo modo que as Cárites gregas, também estas, que dentro de mim habitam, inundam minha alma de beleza, encantamento e alegria, sobretudo, quando se encontram e, ao invés de três, tornam-se um único ser. Para celebrar esse encontro, o Poema Falado deste mês discorre com música e poesia toda a beleza, encantamento e alegria que o cinema é capaz de nos proporcionar. Com texto de Heitor Ferraz e música de Ennio Morricone, na voz graciosa da Dulce Pontes, este Poema Falado presta uma homenagem a filmes e artistas inesquecíveis. Boa leitura! (por Sílvio Benevides)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Bienvenue-Ami

A gente não faz amigos, reconhece-os.
Vinícius de Moraes


Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta
necessidade que tenho deles.
A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor,
que tivessem morrido todos os meus amores,
mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!

Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências ....
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade,
não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão ouvindo esta crônica
e não sabem que estão incluídos
na sagrada relação de meus amigos.


Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem
noção de como me são necessários, de como são
indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles
fazem parte do mundo que eu, tremulamente,
construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
Se todos eles morrerem, eu desabo!
Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese,
dirigida ao meu bem estar.
Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.

Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a
roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado,
morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo,
todos os meus amigos, e, principalmente os que só desconfiam
ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!


A gente não faz amigos, reconhece-os.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Poema Falado: Pensamentos e Le patrimoine



Os movimentos juvenis urbanos, a exemplo do hip hop, também se constituem, em muitos casos, como uma manifestação político-social expressiva das novas gerações das periferias dos grandes centros urbanos do mundo. Através dos traços coloridos dos grafites como também das rimas e ritmos dançantes do rap, o hip hop, além de uma expressão artística, também possui um acentuado teor de denúncia, protesto e reivindicação de inclusão social, funcionando como auto-falantes de um universo paralelo. Sejam estes os guetos negros de Nova Iorque, os banlieues parisienses ou as periferias das grandes cidades latino-americanas ou africanas, este universo paralelo é marcado por uma realidade social que submete milhares de jovens ao desemprego, à violência, à discriminação por conta dos seus endereços e ao preconceito racial e/ou xenófobo. Mesmo se o considerarmos apenas como expressão de uma arte de rua, percebe-se no hip hop uma demonstração da capacidade de improviso que esses jovens possuem quando se trata de defender seus conceitos ideológicos e sua visão do mundo no qual vivem. Por essa razão o Poema Falado deste mês presta uma homenagem ao movimento hip hop por meio das músicas-poemas Pensamentos, do grupo de rap brasileiro Somos Nós a Justiça (SNJ), e Le Patrimoine, do rapper africano Didier Awadi. Tudo isso embalado pela música do grupo canadense Radio Radio e por imagens broto de grafites produzidos em vários muros espalhados pelo mundo. Boa Leitura (por Sílvio Benevides)!*





sexta-feira, 18 de junho de 2010

Perdemos José Saramago!

Morreu hoje o único escritor de língua portuguesa a ganhar o Nobel de Literatura.
José Saramago morre aos 87 anos.





"Pensar, pensar
Junho 18, 2010 por Fundação José Saramago


Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objetivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objetivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma.

Revista do Expresso, Portugal (entrevista), 11 de Outubro de 2008"

José Saramago morreu em consequência de uma múltipla falha orgânica, após uma prolongada doença.O escritor morreu estando acompanhado pela sua família, despedindo-se de uma forma serena e tranquila, em casa, nas Ilhas Canárias, às 12.30 horas desta sexta-feira.

Biografia

Prêmio Nobel de Literatura em 1998, primeiro escritor de língua portuguesa a obter a honraria, Saramago mostrou ao longo de sua vida uma paixão duradoura pela literatura.

Seus livros são marcados pelos períodos longos e pela pontuação em muitos momentos quase inexistente. Os artifícios formais são vistos como verdadeira barreira para vários leitores, mas outros se encantam com a fluidez de seus textos, sempre entremeados por reflexões fortemente humanistas.

Nascido em 16 de novembro de 1922, em aldeia do Ribatejo chamada Azinhaga, de família humilde, Saramago só veio a produzir sua primeira obra de sua fase mais madura em 1980, "Levantado do Chão".

Dois anos depois, "Memorial do Convento" o colocou como um dos maiores autores de Portugal, posição confirmada com o lançamento do inventivo "O ano da morte de Ricardo Reis", em que narra os dias finais do heterônimo de um dos pilares da literatura de seu país: Fernando Pessoa, em uma criativa mescla de fatos reais e imaginados.

Saramago era um autor prolífico. Além de romances, publicou diários, contos, peças, crônicas e poemas. Ainda em 2009, lançou mais um livro, "Caim".

Esta obra retoma um personagem bíblico, subvertendo a versão oficial da Igreja Católica. Em 1991, seu "Evangelho segundo Jesus Cristo" dispôs de artifício semelhante. A "reescrita" do ateu convicto de esquerda não agradou aos religiosos, provocando grande polêmica em uma nação fortemente católica.

No ano seguinte, o livro foi indicado a um prêmio, mas o governo português vetou a candidatura. Insatisfeito, Saramago partiu para um "exílio voluntário" na espanhola Lanzarote, nas Ilhas Canárias, onde vivia desde 1993.

Outro de seus romances, "Ensaio sobre a Cegueira", narra uma epidemia em que os personagens perdem a visão, enquanto uma mulher a mantém. A obra, uma das mais conhecidas do português, foi adaptada para o cinema pelas mãos do diretor brasileiro Fernando Meirelles. O filme foi exibido no Festival de Cannes.

Atualmente Saramago estava preparando um livro sobre a indústria do armamento. "Todo mundo tem armas, vivemos numa sociedade de violência, que é aceita e a televisão está nos dizendo todos os dias que a vida humana não tem nenhuma importância", afirmou, em entrevista em novembro.



Veja livros publicados por Saramago


Terra do Pecado, 1947
Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
Levantado do Chão, 1980
Memorial do Convento, 1982
O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
A Jangada de Pedra, 1986
História do Cerco de Lisboa, 1989
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
Ensaio Sobre a Cegueira, 1995
Todos os Nomes, 1997
A Caverna, 2000
O Homem Duplicado, 2002
Ensaio Sobre a Lucidez, 2004
As Intermitências da Morte, 2005
A Viagem do Elefante, 2008
Caim, 2009

Peças Teatrais


"A Noite" (1979)"
Que Farei com Este Livro?" (1980)"
A Segunda Vida de Francisco de Assis" (1987)"
In Nomine Dei" (1993)"
Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido" (2005)
Contos"Objeto Quase" (1978)"
Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido" (1979)"
O Conto da Ilha Desconhecida" (1997)Poemas"
Os Poemas Possíveis" (1966)"
Provavelmente Alegria" (1970)"
O Ano de 1993" (1975) Crônicas "
Deste Mundo e do Outro" (1971)"
A Bagagem do Viajante" (1973)"
As Opiniões que o DL Teve" (1974)"
Os Apontamentos" (1976)"
Viagens a Portugal" (1981) "


Retirada algumas informações do: http://ultimosegundo.ig.com.br e

Fundação José Saramago

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Poema Falado: Drummond e Rimbaud

Teu desejo inclui e é senhor do meu; vida a meus pensamentos dentro de seu coração é dada; minhas palavras começam a respirar sobre teu hálito...por que devo procurar apaziguar desejo intenso com ainda mais lágrimas e palavras sopradas de dor, quando o céu, mais tarde ou mais cedo, não manda alívio para almas a quem o amor vestiu com fogo”? (Michelângelo)

A homossexualidade é mais velha que a humanidade, tendo florescido entre nossos ancestrais hominídeos. Pesquisas antropológicas em sociedades pré-históricas estabeleceram que relações entre indivíduos do mesmo sexo eram permissíveis e, ainda, desempenhavam papel crucial no ritual de passagem masculino. Arqueólogos, investigando as civilizações da Suméria, Mesopotâmia e Egito, descobriram evidências de que o amor homossexual era vital para a integridade do tecido social.

O status privilegiado da homossexualidade na Grécia antiga é conhecido, mas o “amor grego” era um ideal importante também para a militarista Roma. Na China e na Índia da antiguidade, assim como no Império Islâmico, o amor pelo mesmo sexo era respeitado e honrado. Na Renascença, a homossexualidade floresceu em sociedades abertas com a florentina.

Se desde o início a Igreja lutou contra o amor pelo mesmo sexo, era porque ele estava [e ainda está] por toda parte a sua volta [nas diversas ordens religiosas, masculinas e femininas], nas congregações e entre seus próprios sacerdotes. A homossexualidade ameaçava sua autoridade. Onde quer que tenha havido tirania e totalitarismo, o amor pelo mesmo sexo foi reprimido [talvez pelo seu caráter intrinsecamente libertário]. Da Espanha de Ferdinando e Isabella ao Reich nazista. De Santo Agostinho ao senador americano Joseph McCarthy, ideólogos acharam na “anormalidade” sexual um sinal claro de heterodoxia doutrinal ou política.

Mas apesar da discriminação, da perseguição e da violência de que foram vítimas, homens e mulheres ao longo da história e em todo o mundo defenderam seu direito à diferença. Seja encontrando-se furtivamente em mosteiros e conventos na Europa medieval, ou mais abertamente em clubes e bares de nossas cidades contemporâneas. Seja engajados nos exércitos sem poder revelar suas identidades sexuais, seja proclamando-as nas manifestações pelos direitos homossexuais que ocorrem freqüentemente na maioria dos países do Ocidente (por Colin Spencer. In: Homossexualidade, uma história).




Tais manifestações, comumente chamadas de Paradas do Orgulho Gay têm origem no episódio ocorrido em 1969 na cidade de Nova York, EUA, conhecido por “Batalha de Stonewall”. Naqueles tempos era uma prática corriqueira a polícia prender clientes de bares freqüentados por homossexuais. Em um desses bares, o Stonewall Inn, não era diferente. As prisões e agressões praticadas por policiais contra os freqüentadores homossexuais era algo bastante comum. No dia 28 de junho daquele ano, entretanto, as coisas começaram a mudar. A polícia, como de costume, entrou no bar quando este já se encontrava cheio e comunicou aos presentes que prenderia todos que estivessem vestidos de mulher. Os clientes, porém, resolveram dar um basta naquela situação e reagiram com garrafadas e socos. Os clientes dos bares vizinhos também se envolveram na briga. Foram cerca de duas mil pessoas contra 400 policiais. Esse episódio se configurou numa vitória contra a intolerância. No ano seguinte, 1970, centenas de pessoas saíram às ruas de Nova York para celebrar o primeiro aniversário do episódio de Stonewall. O 28 de junho passou a ser lembrado e celebrado nas ruas de vários países como o dia do orgulho gay. Mais que isso, como o dia do orgulho de um amor que, a despeito das perseguições e massacres que sofreu durante muito tempo, desafiou e desafia os poderes constituídos e, hoje, já não teme em bradar seu nome. E é para celebrar esse orgulho que o Poema Falado desse mês de junho traz os versos O mundo é grande, do Carlos Drummond de Andrade, e Canção da torre mais alta, do Arthur Rimbaud. Boa leitura! (por Sílvio Benevides)

Download:
FLVMP43GP

Imagem: Ricardo Santos

sábado, 1 de maio de 2010

Poema Falado: O guardador de águas




Que a água é a fonte da vida, ninguém duvida ou sequer duvidou. Que a água é fonte de lendas, crenças, magias, paixões, medos e dissabores, ninguém questiona. Que a água é fonte da mais fresca poesia, só mesmo aqueles que pela vida se apaixonam sabem dizer. E assim o disse o Manoel de Barros na sua poesia O guardador de águas, que hora se apresenta nesse Poema Falado.

“Esse é Bernardo. Bernardo da Mata. Apresento. Ele faz encurtamento de águas. Apanha um pouco de rio com as mãos e espreme nos vidros até que as águas se ajoelhem do tamanho de uma lagarta nos vidros. No falar com as águas rãs o exercitam. Tentou encolher o horizonte no olho de um inseto - e obteve! Prende o silêncio com fivela. Até os caranguejos querem ele para chão. Viu as formigas carreando na estrada duas pernas de ocaso para dentro de um oco... E deixou. Essas formigas pensavam em seu olho. É homem percorrido de existências. Estão favoráveis a ele os camaleões. Espraiado na tarde - Como a foz de um rio - Bernardo se inventa... Lugarejos cobertos de limo o imitam. Passarinhos aveludam seus cantos quando o vêem”.


segunda-feira, 12 de abril de 2010

Bonne Fête, Christiane!






Parabéns minha amiga!
Desejo uma vida com muitas realizações e conquistas e que seu dia
de aniversário seja muito feliz.
Conte SEMPRE com o meu carinho e minha amizade.
Te amo!
Beijos no seu lindo coração!





Durmo ou não?




Durmo ou não? Passam juntas em minha alma

Coisas da alma e da vida em confusão,

Nesta mistura atribulada e calma

Em que não sei se durmo ou não.


Sou dois seres e duas consciências

Como dois homens indo braço-dado.

Sonolento revolvo omnisciências,

Turbulentamente estagnado.



Mas, lento, vago, emerjo de meu dois.

Disperto. Enfim: sou um, na realidade.

Espreguiço-me. Estou bem... Porquê depois,

De quê, esta vaga saudade?


domingo, 11 de abril de 2010

I Marcha Nacional contra a Homofobia - 1º Grito Nacional pela Cidadania LGBT e Contra a Homofobia.



A Direção da Associação Brasileira de Lésbicas , Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT, reunida em 02 de março de 2010, resolveu convocar todas as pessoas ativistas de suas 237 organizações afiliadas, assim como organizações e pessoas aliadas, para a I Marcha Nacional contra a Homofobia, vinda de todas as 27 unidades da federação, tendo como destino a cidade de Brasília. No dia 19 de maio de 2010, será realizado o 1º Grito Nacional pela Cidadania LGBT e Contra a Homofobia, com concentração às 9 Horas, no gramado da Esplanada dos Ministérios, em frente à Catedral metropolitana de Brasília.


Em 17 de maio é comemorado em todo o mundo o Dia Mundial contra a Homofobia (ódio, agressão, violência contra Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – LGBT). A data é uma vitória do Movimento que conseguiu retirar a homossexualidade da classificação internacional de doenças da Organização Mundial de Saúde, em 17 de maio de 1990.

No Brasil , todos os dias , 20 milhões de brasileiras e brasileiros assumidamente lésbicas, gays, bissexuais, travestis ou transexuais -LGBT têm violados os seus direitos humanos, civis , econômicos, sociais e políticos. “Religiosos” fundamentalistas, utilizam-se dos Meios de Comunicação públicos, das Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas, Câmara Federal e Senado para pregar o ódio aos cidadãos e cidadãs LGBT e impedir que o artigo 5 da Constituição federal ( “todos são iguais perante a lei") seja estendido aos milhões de LGBT do Brasil. Sem nenhum respeito ao Estado Laico, os fundamentalistas religiosos utilizam-se de recursos e espaços públicos (escolas, unidades de saúde, secretarias de governo, praças e avenidas públicas, auditórios do legislativo, executivo e judiciário) para humilhar, atacar, e pregar todo seu ódio contra cidadãos e cidadãs LGBT. O resultado desse ataque dos Fundamentalistas religiosos tem sido:

- O assassinato de um LGBT a cada dois no Brasil (dados do Grupo Gay da Bahia - GGB) por conta de sua orientação sexual (Bi ou Homossexual) ou identidade de gênero (Travestis ou Transexuais);

- O Congresso Nacional não aprova nenhuma lei que garanta a igualdade de direitos entre cidadãos(ãs) Heterossexuais e Homossexuais no Brasil;

- O Supremo Tribunal Federal não julga as Arguições de Descumprimento de Preceitos Fundamentais e Ações Diretas de Inconstitucionalidade que favoreçam a igualdade de direitos no Brasil;

- O Executivo Federal não implementa na sua totalidade o Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT;

- Centenas de adolescentes e jovens LGBT são expulsos diariamente de suas casas;

- Milhares de LGBT são demitidos ou perseguidos no trabalho por discriminação sexual;

- Travestis, Transexuais, Gays e Lésbicas abandonam as escolas por falta de uma política de respeito à diversidade sexual nas escolas brasileiras;

- Os orçamentos da união, estados e municípios, nada ou pouco contemplam recursos para ações e políticas públicas LGBT;

O Ministério da Saúde, Secretarias Estaduais e Municipais precisam pactuar e colocar em prática a Política Integral da Saúde LGBT. As Secretarias de Justiça, Segurança Pública, Direitos Humanos e Guardas-Municipais não possuem uma política permanente de respeito ao público vulnerável LGBT, agredindo nossa comunidade, não apurando os crimes de homicídios e latrocínios contra LGBT e nem prendendo seguranças particulares que espancam e expulsam LGBT de festas, shoppings, e comércio em geral.

A 1ª Marcha Nacional LGBT exige das autoridades Públicas Brasileiras :

- Garantia do Estado Laico (Estado em que não há nenhuma religião oficial, as manifestações religiosas são respeitadas, mas não devem interferir nas decisões governamentais)

- Combate ao Fundamentalismo Religioso.

- Executivo: Cumprimento do Plano Nacional LGBT na sua totalidade, especialmente nas ações de Educação, Saúde, Segurança e Direitos Humanos, além de orçamentos e metas definidas para as ações.

- Legislativo: Aprovação imediata do PLC 122/2006 (Combate a toda discriminação, incluindo a homofobia).

- Judiciário: Decisão Favorável sobre União Estável entre casais homoafetivos, bem como a mudança de nome de pessoas transexuais.

Viva a

I Marcha Nacional LGBT contra a Homofobia no Brasil.

1º Grito Nacional pela Cidadania LGBT e Contra a Homofobia

Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais - ABGLT

Postado por Coccinelle

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Poema Falado: Brasil que eu amo


Segundo a historiografia oficial, aquela que interpreta a realidade a partir da perspectiva dos dominantes, o Brasil está a completar em 2010 cinco séculos e uma década de existência. Desde a chegada de Pedro Álvares Cabral, que aqui encontrou um porto seguro para atracar a sua nau Capitânia, até nossos dias, são 510 anos de história marcada por mandonismos e cordialidades brutas e banhada por sangue, suor e lágrimas de amargura. Mas a história de um povo, a história de nosso povo, não se resume aos atos de violência e abusos praticados pelos colonizadores contra os nativos, contra os negros, que para cá vieram como escravos, ou contra todo tipo de desvalidos e oprimidos. Nossa história é, também, a história de paixões, amores, delícias, desejos e prazeres de toda ordem. Prazeres trazidos pela aragem de todos os dias, pelo aconchego de corpos em chamas, pelo cheiro de maresia. E é sobre o prazer de ser e pertencer a esta terra toda chã com grandes arvoredos que o Salvador na sola do pé, por meio de poemas falados, irá tecer nestes breves dias de abril as fibras de um tecido chamado Brasil. Brasil por mim amado, não porque seja minha pátria, pois, como já escreveu o Mário de Andrade, “pátria é acaso de migrações e do pão-nosso onde Deus der”. Brasil mui amado porque “é o ritmo do meu braço aventuroso, o gosto dos meus descansos, o balanço das minhas cantigas, amores e danças”. Este é o Brasil que eu amo, este é o Brasil que eu sou, este é o Brasil que eu quero e que me dá muito orgulho. Orgulho de ser, simplesmente. E para dar início às celebrações desse orgulho, o Poema Falado Canção do Exílio, escrito por Gonçalves Dias. Boa Leitura! (por Sílvio Benevides).




Poema Falado: Os Lusíadas


Caminhar pelas ruas da bela e formosa Lisboa foi para mim como encontrar pedaços meus dispersos aqui e acolá. Foi como reavivar lembranças há muito adormecidas e despertar recordações de tempos imemoriais, quando o Brasil não existia sequer no desejo aventureiro dos destemidos corações lusos. Corações de uma gente antes de tudo brava e forte, cuja audácia redesenhou a geografia ocidental, definiu e redefiniu fronteiras, inventou e reinventou línguas, criou e recriou um mundo novo jamais imaginado. Grandes feitos comparáveis tão somente aos feitos dos mitológicos argonautas. Em homenagem ao peito ilustre lusitano, a quem Netuno e Marte obedeceram, e de onde o Brasil brotou, Bienvenue amie juntamente com os blogs O Cantinho de Coccinelle e o Salvador na sola do pé inicia nesse mês de abril uma série de homenagens ao Brasil. O poema de abertura é Os Lusíadas (Canto I, fragmento), do lusitano-mor Luis Vaz de Camões, cuja língua gosto muito de roçar. Boa leitura (por Sílvio Benevides).

Cessem do sábio Grego e do Troiano / As navegações grandes que fizeram; / Cale-se de Alexandro e de Trajano / A fama das vitórias que tiveram; / Que eu canto o peito ilustre Lusitano, / A quem Netuno e Marte obedeceram. / Cesse tudo o que a Musa antiga canta, / Que outro valor mais alto se levanta [...] // Dai-me uma fúria grande e sonorosa, / E não de agreste avena ou flauta ruda, / Mas de tuba canora e belicosa, / Que o peito acende e a cor ao gesto muda; / Dai-me igual canto aos feitos da famosa / Gente vossa, que a Marte tanto ajuda; / Que se espalhe e se cante no universo, / Se tão sublime preço cabe em verso [...] // Dai vós favor ao novo atrevimento, / Pera que estes meus versos vossos sejam, / E vereis ir cortando o salso argento / Os vossos Argonautas, por que vejam / Que são vistos de vós no mar irado, / E costumai-vos já a ser invocado. / Já no largo Oceano navegavam, / As inquietas ondas apartando; / Os ventos brandamente respiravam, / Das naus as velas côncavas inchando; / Da branca escuma os mares se mostravam / Cobertos, onde as proas vão cortando / As marítimas águas consagradas, / Que do gado de Próteu são cortadas, // — «Eternos moradores do luzente, / Estelífero Pólo e claro Assento: / Se do grande valor da forte gente / De Luso não perdeis o pensamento, / Deveis de ter sabido claramente / Como é dos Fados grandes certo intento / Que por ela se esqueçam os humanos / De Assírios, Persas, Gregos e Romanos (por Luís Vaz de Camões).



quinta-feira, 25 de março de 2010

Parabéns, Sandra!


AMIGA é um prazer ter você entre as pessoas que amo.
Você sabe o quanto é realmente muito importante na minha vida? Muito mesmo!!
Você é um ser humano admirável, muito especial e tem uma sabedoria de vida inacreditável! Sou sua fã criatura!!
Claro que não é a pessoa perfeita ou não teria a mínima graça!! Os seus defeitos são nada perto da sua humildade de saber
reconhece-los. Afinal:
“ você não tem isso com você!” kkkkk

Desejo a você uma vida repleta de saúde e um caminho de muitas realizações.
Um beijo com muito carinho nesse seu lindo coração.
Te amo amiga!!

Veja seu poema e seu video!
Pedido atendido!!

A Palavra Mágica
Carlos Drummond de Andrade

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.






Debaixo Dos Caracóis Dos Seus Cabelos
Composição: Roberto Carlos

Um dia a areia branca
Teus pés irão tocar
E vai molhar seus cabelos
A água azul do mar
Janelas e portas vão se abrir
Pra ver você chegar
E ao se sentir em casa
Sorrindo vai chorar
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante
As luzes e o colorido
Que você vê agora
Nas ruas por onde anda
Na casa onde mora
Você olha tudo e nada
Lhe faz ficar contente
Você só deseja agora
Voltar pra sua gente
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante
Você anda pela tarde
E o seu olhar tristonho
Deixa sangrar no peito
Uma saudade, um sonho
Um dia vou ver você
Chegando num sorriso
Pisando a areia branca
Que é seu paraíso
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Uma história pra contar
De um mundo tão distante
Debaixo dos caracóis dos seus cabelos
Um soluço e a vontade
De ficar mais um instante

domingo, 21 de março de 2010

Feliz Aniversário!!


Amigo.

Quero desejar um aniversário de muitas realizações!!

Que sua sorte, sua saúde e sua paz sejam multiplicadas!

Parabéns!!

Celebrar seu aniversário é também celebrar a nossa amizade!

O que seria de mim sem seu nascimento!?!

Obrigada por fazer parte dessa pequena lista de pessoas que posso chamar de amigos!!
Te amo!

Você e Eu / Eu e Você

Amigos pra valer!!

Papillon.



Nossa querida e amada Cecília para você e claro que um video ao final.


Timidez

Cecília Meireles


Basta-me um pequeno gesto,

feito de longe e de leve,

para que venhas comigoe

eu para sempre te leve...


— mas só esse eu não farei.


Uma palavra caída

das montanhas dos instantes

desmancha todos os marese

une as terras mais distantes...


— palavra que não direi.


Para que tu me adivinhes,

entre os ventos taciturnos,

apago meus pensamentos,

ponho vestidos noturnos,


— que amargamente inventei.


E, enquanto não me descobres,

os mundos vão navegando

nos ares certos do tempo,

até não se sabe quando...


— e um dia me acabarei.

domingo, 7 de março de 2010

Poema Falado


“Ontem de manhã quando acordei, olhei a vida e me espantei: eu tenho mais de vinte anos”. Pois é, o tempo passa. E como bem disseram a Suely Costa e o Vitor Martins na música imortalizada pela Elis Regina, o tempo passa e repassa, ad infinitum, na velocidade de um átimo de respiro, restando-nos, apenas, o espanto. Pois é, o tempo passa. E o que fazer com o que foi feito da vida? Celebrar? Recordar? Lamentar? E o que fazer com o tempo vindouro? Percorrer os caminhos já trilhados ou buscar novas trilhas para prosseguir? Sim, eu tenho mais de vinte anos e trago em mim, ainda, “mais de mil perguntas sem respostas”. Se as veredas que virão serão blue isso não sei. Só sei que os espelhos já não refletem a minha face de outrora. Por essa razão o Poema Falado desse mês apresenta o texto Retrato, da Cecília Meireles que diz: “Eu não tinha este rosto de hoje, / assim calmo, assim triste, assim magro, / nem estes olhos tão vazios, / nem o lábio amargo. // Eu não tinha estas mãos sem força, / tão paradas e frias e mortas; / eu não tinha este coração / que nem se mostra. // Eu não dei por esta mudança, / tão simples, tão certa, tão fácil: / Em que espelho ficou perdida a minha face?” Essas palavras são lindamente ditas no vídeo abaixo pelo inesquecível Paulo Autran e ilustradas por retratos de personalidades admiravelmente notáveis. Boa Leitura!


domingo, 31 de janeiro de 2010

Poema Falado.

Iemanjá: senhora e rainha do mar.

Na tradição do candomblé, Iemanjá é a mãe suprema, pois de seu ventre nasceram todos os orixás. De acordo com Pierre Verger (Orixás. São Paulo: Corrupio, 1981), “Iemanjá, é o orixá dos Egbá, uma nação iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemanjá. As guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokuta, no início do século XIX. Não lhes foi possível levar o rio, mas, transportaram consigo os objetos sagrados, suportes do axé da divindade, e o rio Ogun, que atravessa a região, tornou-se, a partir de então, a nova morada de Iemanjá. Este rio Ogun não deve, entretanto, ser confundido com Ogun, o orixá do ferro e dos ferreiros”. No Brasil, o culto a Iemanjá voltou-se para as águas salgadas. Aqui, seus fiéis voltam-se, preferencialmente, para os mares quando desejam dirigir pedidos à grande mãe. E Iemanjá jamais nega um pedido de quem o faz com o coração limpo, como já demonstrou o Dorival Caymmi quando escreveu: “Eu mandei um bilhete pra ela pedindo para ela me ajudar. Ela, então, me respondeu que eu tivesse paciência de esperar. O presente que eu mandei pra ela de cravos e rosas vingou”. Como se pode perceber o segredo é ter paciência de esperar para que o presente vingue. E ele sempre vinga.




A Festa para Iemanjá no Rio Vermelhor-Salvador-Bahia

Excepcionalmente, o Poema Falado de fevereiro está a ser publicado não no primeiro domingo do mês, mas, sim, na primeira segunda-feira, pois amanhã será o grande dia, o dia de Iemanjá. Para homenageá-la, o poema “Canto de Iemanjá”, do Vinícius de Moraes: “Iemanjá, lemanjá. lemanjá é dona Janaína que vem. Iemanjá, Iemanjá. lemanjá é muita tristeza que vem. Vem do luar no céu. Vem do luar no mar coberto de flor, meu bem, de Iemanjá. De lemanjá a cantar o amor e a se mirar na lua triste no céu, meu bem, triste no mar. Se você quiser amar, se você quiser amor, vem comigo a Salvador para ouvir lemanjá, a cantar, na maré que vai e na maré que vem. Do fim, mais do fim, do mar. Bem mais além. Bem mais além do que o fim do mar. Bem mais além”. Vale a pena conferir o vídeo abaixo, nosso presente para Iemanjá, senhora e rainha do mar. Louvemos, então, Iemanjá! Odóiyá! (por Sílvio Benevides, Coccinelle e Papillon).

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Colaboração de Coccinelle.


Orgasmo

(Liz Christine)


Sexo

adorável

palavra

Ato

delicioso

incansável

Corpo

curvas derrapantes

maravilhoso

Você

estou condenada

você é a culpada

De desejos ardentes

Noite gelada

Inverno na madrugada

Parece verão

Corpo febril

Culpa da paixão

Seu rosto infantil

Sorrindo

Não pare...


Estou quase atingindo.




Masturbação

(Maria Tereza Horta)



Eis o centro do corpo

o nosso centro

onde os dedos escorregam devagar

e logo tornam onde nesse

centro

os dedos esfregam - correm

e voltam sem cessar

e então são os meus

já os teus dedos

e são meus dedos

já a tua boca

que vai sorvendo os lábios

dessa boca

que manipulo - conduzo

pensando em tua boca

Ardência funda

planta em movimento

que trepa e fende fundidas

já no tempo

calando o grito nos pulmões da tarde

E todo o corpo

é esse movimento

que trepa e fende fundidas

já no tempo

calando o grito nos pulmões da tarde

E todo o corpo

é esse movimento

em torno

em volta

no centro desses lábios

que a febre toma

engrossa

e vai cedendo a pouco e pouco

nos dedos e na palma

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Parabéns LINDINHA!!



Parabéns LINDINHA!!
Desejamos que você tenha uma vida de muitas conquistas e com inúmeras descobertas.
Que seu caminho seja trilhado a cada dia com muita vontade de crescer na busca do saber e sem medo de ser feliz!!
Beijos no seu coração.
Feliz vida nova!!


Acordar, viver
Carlos Drummond de Andrade

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpurademente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?




Ninguém responde, a vida é pétrea.



Um vídeo para você.



Bola de Meia, Bola de Gude
Composição: Milton Nascimento

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão

Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão

E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor
Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

domingo, 3 de janeiro de 2010

O Corpo

Verão em Salvador é tempo de muito calor, água de coco, festa e praia. Também é tempo de exibir e apreciar o corpo. Os antigos gregos definiam o corpo como instrumento da alma. Essa definição possibilitou duas visões bem distintas em relação ao corpo: em alguns momentos ele é visto com apreço pela função que exerce, sendo elogiado ou exaltado; ora é criticado por não corresponder a seu objetivo ou por implicar limites ao crescimento da alma devido a seus instintos, desejos e pulsões. Nesse sentido, o corpo é condenado, oprimido e execrado como túmulo ou prisão da alma, sempre nobre e sublime. Apesar dessa visão, durante séculos corpo e alma foram concebidos como duas substâncias indissociáveis. A partir do dualismo cartesiano, entretanto, aparecem como substâncias distintas uma da outra. Para Descartes, ao corpo pertence todo calor e todos os movimentos existentes em nós, não dependendo, em absoluto, do pensamento. O corpo é, portanto, visto como uma máquina que se move por si, não estando relacionado a qualquer força externa ou de natureza distinta da sua, pois traz consigo “o princípio corpóreo dos movimentos para os quais foi projetado, juntamente com todos os requisitos para agir”. Tal perspectiva abriu espaço para que o corpo pudesse, enfim, ser visto não com desprezo, como o foi por muito tempo, especialmente ao longo da Idade Média, mas, sim, com admiração, pois corpo é também beleza, desejo e paixão, como demonstraram os gênios do Renascimento.

No mês que dá início ao novo ano e em que o verão na capital da Bahia pega fogo, O Salvador na sola do pé, O cantinho de Coccinelle e o Bienvenue-Amie faz uma reverência ao corpo esplêndido de todos nós por meio do poema do Arnaldo Antunes que diz: “O corpo existe e pode ser pego. É suficientemente opaco para que se possa vê-lo. Se ficar olhando o ânus você pode ver crescer o cabelo. O corpo existe porque foi feito. Por isso tem um buraco no meio. O corpo existe dado que exala cheiro e em cada extremidade existe um dedo. O corpo se cortado espirra um líquido vermelho. O corpo tem alguém como recheio”. Boa leitura e bom deleite! (por Sílvio Benevides)

sábado, 2 de janeiro de 2010


Receita de ano novo

Carlos Drummond de Andrade

Para você ganhar belíssimo Ano Novo

cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,

Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido

(mal vivido talvez ou sem sentido)

para você ganhar um ano

não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,

mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;

novo

até no coração das coisas menos percebidas

(a começar pelo seu interior)

novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,

mas com ele se come, se passeia,

se ama, se compreende, se trabalha,

você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,

não precisa expedir nem receber mensagens

(planta recebe mensagens?

passa telegramas?)


Não precisa

fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.

Não precisa chorar arrependido

pelas besteiras consumidas

nem parvamente acreditar

que por decreto de esperança

a partir de janeiro as coisas mudem

e seja tudo claridade, recompensa,

justiça entre os homens e as nações,

liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,

direitos respeitados, começando

pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo

que mereça este nome,

você, meu caro, tem de merecê-lo,

tem de fazê-lo novo,

eu sei que não é fácil,

mas tente, experimente, consciente.

É dentro de você que o Ano Novo

cochila e espera desde sempre.