sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Contribuição de Aleph.





Amar


Que pode uma criatura senão;
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e mal
amar,amar,
desamar,amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar tambem, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisao de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inospito, o áspero,um vaso sem flor,
um chao de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas perfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidao,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implicita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Sobre o poema de Drummond, a liberdade poetica foi demais, sorry...conseguiresgatá-lo na integra, foi publicado em Claro enigma, econsta da Seleta em Prosa e Verso p.163, 1973. Record



O que lembra Cecilia,

"Pus meus sonhos num barquinho,
e meu barquinho em cima do mar
abri o mar com as maos,
para o meu barquinho navegar..."



Fico devendo Cecilia...

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