domingo, 23 de novembro de 2008

Contribuição de Aleph


Leitura em Braille


É estranho escrever um poema, sem que meus dedos reconheçam o traçado das letras, sem que minhas mãos não se sujem, com a tinta queteima em sair da caneta. É estranho escrever um poema, sem que estas letras, apesar declaras, denunciem que não são as minhas próprias letras que, nomínimo, agora estariam trêmulas, quase como as de uma criança.
Assim é estranho também, quando percorro com meus dedos o seucorpo. Seu corpo duro, seu corpo áspero, o seu queijo quadrado, seuslábios grossos, os pêlos em seu peito, seguindo até sua virilha, enela encontrando o gozo, um gozo sim, porque não dizer, mas de gostoamargo, gosto forte, um gozo que sempre me deixa mais só, ao final damadrugada, mesmo estando ali, deitada ao seu lado, colada à sua pele.
Agora, percorrendo com as pontas destes meus mesmos dedos, commeus olhos fechados, os longos fios que descem em seu rosto, marcandoseu testa, tocando a sua pele macia, cheirando a orvalho... e com otoque dos meus dedos reconhecendo seus seios, passo a ler o seu corpopelas minhas mãos, pelos meus lábios, como se seu corpo fosse umaescrita em Braille.
Ah! Como é fácil e familiar esta leitura... eu chego a metocar ao te tocar, tamanha é a cumplicidade dos nosso corpos, tamanhaé a união de nossa pele. Da suavidade de suas formas, ao final donosso gozo, o sentimento é um estado de "sollitude", de comunicaçãonão verbal, de cumplicidade.
Do toque dos seus lábios, ao encontro de nossos ventres, tudoé feroz e familiar, num cavalgar de desejos.
São duas escritas, duas leituras, feitas pelos mesmos dedos,pelas minhas mesmas mãos.
Mas quando passamos da leitura em Braille de nossos espíritos,para a escrita de nossos amores, tudo fica borrado. De difícilentendimento.
Se da leitura em Braille do seu corpo eu chego à minha alma,da convivência diária, áspera, do dia- a- dia, tudo se perde.
Eu me perco.
Este é o meu meio do caminho, sagitarianamente como sou.
Estou continuando a escrever, para me reconhecer em Braillequem sou eu. Confusa, atrapalhada, uma mulher que se vê e se querdiante do espelho.
Mas volto à repetir, esta metade do caminho não percorrido,do desejo que é feminino dói. É solitária.


Texto de Aleph.

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