domingo, 25 de dezembro de 2011

Poema Falado: então é Natal!

Como diria a Simone, então é Natal! Mais uma vez, Natal! Até onde sei nessa data os cristãos se reúnem para celebrar o nascimento do verbo que se fez carne e sangue a fim de nos redimir por meio do amor, o seu maior legado. Esse é o verdadeiro espírito do Natal, ou ao menos deveria ser. Entretanto, o que temos visto ultimamente é uma festa que a cada ano se distancia mais e mais da sua essência, tornando-se uma verdadeira orgia consumista. Orgia esta que pouco a pouco mata o Menino Jesus, assim como todos os meninos e meninas que em cada um de nós existe. Eu digo “mata” porque precisamos crescer com urgência para que, com urgência, nos tornemos consumidores ávidos e eficientes. Não tenho nada contra o consumo, tampouco odeio o bom velhinho. Quero apenas lembrar que o Natal existe porque o Menino Jesus nasceu. E é justamente para celebrar esse nascimento que o Poema Falado deste mês traz os Versos de Natal do Manuel Bandeira, escritos em 1939, que nos dizem: “Espelho, amigo verdadeiro / Tu refletes as minhas rugas, / Os meus cabelos brancos, / Os meus olhos míopes e cansados. / Espelho, amigo verdadeiro, / Mestre do realismo exato e minucioso, / Obrigado, obrigado! / Mas se fosses mágico, / Penetrarias até o fundo desse homem triste, / Descobririas o menino que sustenta esse homem, / Que não morrerá senão comigo, / O menino que todos os anos na véspera do Natal / Pensa ainda em pôr os seus chinelinhos atrás da porta”. Boa áudio-leitura e Feliz Natal! (por Silvio Benevides)

sábado, 24 de dezembro de 2011

Se Deus tivesse falado, ele teria dito:

“Pára de ficar rezando
e de bater no peito! O que eu quero é que saias pelo mundo
e desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas
e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a certos templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste
e que acreditas serem a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias
e no coração das pessoas. Ali é onde eu, de fato, vivo
e ali expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: eu nunca te disse que há algo mau
em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.
O sexo é um presente que eu te dei e com o qual podes expressar teu amor,
teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo.
Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar de amigos,
nos olhos de teu filhinho. Sim, me encontrarás em um bom livro,
uma poesia, uma obra de arte e, quem sabe, em um mendigo.

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu me dirás como fazer meu trabalho?
Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz, eu te enchi
de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades,
de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti? Como posso te castigar por ser como és, se eu sou quem te fez?

Crês que eu poderia criar um lugar para queimar todos meus filhos,
pelo resto da eternidade, porque não se comportaram bem?
Que tipo de Deus poderia fazer isso?

Esquece qualquer mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas
a fim de manipular-te, para te controlar - que só geram culpa em ti. Respeita
teu próximo e não faças o que não queres para ti. A única coisa que te peço
é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.
Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho,
nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso. Esta vida é o único que há,
aqui e agora; isto é único de que precisas para crer em mim e receber da vida.

Eu te fiz livre, isto é, relativamente responsável. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém preenche um placar. Ninguém leva
um registro. Tu és condicionalmente livre para fazer
de tua vida uma dádiva ou uma ameaça, um céu ou um inferno.

Eu não te posso dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse... Como se esta fosse tua única oportunidade
de existir, de aproveitar, de amar. Assim, se não há nada, terás aproveitado
da oportunidade que te dei, sendo correto e vivendo feliz.

E se houver, tem certeza de que eu não te vou perguntar se foste comportado
ou não. Só vou te perguntar se tu gostaste: se te divertiste e do que mais gostaste? O que aprendeste? O bem que fizeste?

Pára de apelar para mim - isto é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero
que, assim, acredites em mim. Quero que me sintas em ti.
Sim, quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas
tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de me louvar! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que eu seja?
Aborreço-me quando me pedem desculpa. Canso-me quando me agradecem.
Tu te sentes grato? Basta isto.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram
sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo
e que este mundo está cheio de maravilhas.

Demonstra-o, cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.
Te sentes olhado, surpreendido, admirado? Expressa tua alegria!
Este é o jeito, o único, de me louvar. Entendeste?

Para que precisas de mais milagres? Para que tantas explicações?
Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro de ti, nos outros,
nas coisas e, sobretudo, nas relações que vives.
Aí é que estou, sempre estarei, abraçado contigo.

BARUCH SPINOZA

Filósofo
1732 - 1777
 
 
 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Desculpa ai, mas tô ficando de saco cheio!!!

Porta da frente continua sendo a serventia da casa

Teatro Amazonas
Teatro Amazonas (MICHAEL DANTAS/ACRÍTICA)
Pero Vaz de Caminha, na famosa carta na qual relata o “achamento” da Terra de Vera Cruz, faz especial referência a maneira cordata com que o invasor foi recebido pelos nativos e tirante os poucos relatos de ataque - ao Bispo Sardinha e a uns poucos desbravadores - sempre quem aporta nessas terras é bem recebido. Sérgio Buarque de Holanda confirmou na teoria o que Caminha viu na pratica e formulou o conceito do brasileiro cordial.
Essa longa tradição de bem receber está na alma de Manaus, provavelmente por ser a Capital do Estado com a maior população indígena do País. Aqui somos pródigos no bom receber, na cordialidade, e há relatos dos mais emocionantes sobre pessoas que chegaram aqui sem nada, receberam apoio de desconhecidos; um prato de comida, um quarto para dormir, provaram um jaraqui frito e nunca mais saíram daqui. Tenho orgulho da minha cidade por isso. Sou um dos autores da coletânea “100 Histórias de Paixão Por Manaus”, da Editora Amazônia Cultural, um belo livro com belas histórias contadas por gentes de todas as partes que vivem e contribuem para o desenvolvimento dessa terra encantada de Ajuricaba. Há muitos imigrantes que contribuem para a grandeza dessa cidade da Barra de São José do Rio Negro. A eles devemos os melhores agradecimentos.
Acontece, porém, que de uns tempos para cá, certamente por conta da pujança econômica da cidade, que atraí todo tipo de pessoa, Manaus vem sofrendo ataques sórdidos e de toda ordem e a todo momento. Reclamam estes desafetos da cidade do nosso calor, reclamam do prefeito, do governador, dos senadores, dos deputados, e até ai tudo bem, eles não são daqui mesmo, só e apenas nos representam, são da casa por assim dizer. Ocorre que esses ataques estão ficando virulentos de mais. Passaram a criticar o povo, as gentes simples que fazem a terra. Criticam nossos hábitos, criticam nossa cultura, nosso estilo de vida, nosso rio, nosso trânsito, nossa culinária, enfim! Tá um bombardeio só! Em todo lugar que vou ouço, ainda calado, esses ataques. Decidi mudar. Portanto cuidado antes de falar mal de Manaus perto de mim. Poderá ser perigoso. Não vou mais ficar calado, até porque viajado que estou, vejo problemas similares em todos os lugares por onde já passei. E tem mais, não me venham com essa de que estou tolhendo o direito à crítica que todos têm. Pelo contrário, prometo ouvi-las com respeito dentro do razoável e do sensato. Não me venham com magoas por não estarem perto dos que gostam, das coisas que amam. Porta da frente senhores continua sendo a serventia da casa. Se definitivamente não gostam da cidade, não querem trabalhar para nos ajudar a construir soluções, por favor vão embora, voltem para suas origens. É o mais sensato!
Portanto, gravem ai detratores: Meu nome é Gerson Severo Oliveira Dantas, tenho 44 anos, sou nascido e criado em Manaus. Sou mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia, formado em quase todos os ciclos escolares em escolas públicas de Manaus. Trabalho para um grupo genuinamente amazonense, dou aulas numa faculdade amazonense, tenho filhos nascidos em Manaus, moro e vou morrer em Manaus se nenhum acidente de percurso acontecer. Amo Manaus como amo minha esposa cujos defeitos do tempo só a tornam mais bela diante de meus olhos. Parodiando uma colega, Manaus é como sexo: “até quando é ruim é bom”.

 http://acritica.uol.com.br/blogs/blog_do_severo/

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Cachoeira mais uma vez em cena com o II CachoeiraDoc


Entre os dias 07 e 11 de dezembro de 2011 acontecerá no Centro de Artes, Humanidades e Letras (CAHL), da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), na histórica cidade de Cachoeira, o II CachoeiraDoc – Festival de Documentários de Cachoeira. Na origem do CachoeiraDoc está o desejo de provocar um deslocamento nas rotas tradicionais dos documentários brasileiros para fazê-los chegar a Cachoeira, contribuindo, ao mesmo tempo, para fortalecer esta cidade como um espaço de produção de imagens e sons articulado com o mundo. No ano passado, quando a primeira edição do festival inaugurou esse movimento e fez circular por aqui documentários de muitos tempos e lugares, tivemos a certeza de sua força. Há algo de muito especial que se produz num lugar de encontro em que se cruzam filmes e pessoas, reunidas pela vontade de cinema, pela vontade de acessar (outros) mundos pelo cinema. E é por acreditarmos na potência dessa partilha, que começa na sala escura e se estende pelas ruas em cortejos de conversas animadas, que temos a alegria de apresentar o II CachoeiraDoc.

Escolhemos começar esta edição com um ato de memória e uma celebração do centenário de um dos grandes homens da história do país. Na sessão de abertura, Marighella, filme de Isa Grispum Ferraz, será exibido na praça. Embalado pela presença – afetiva e política – da família Marighella, o documentário projetará na cidade, entre casas e gente, seu gesto necessário de escritura da história.

E se o documentário povoa as praças da memória, ele também nos leva às praias dos afetos, da política dos afetos. Como sopros de brisa, uma pequena mas preciosa coleção de filmes de Agnès Varda, uma das mais inventivas documentaristas da história do cinema, atravessará o festival. A Mostra Documentários Experimentais reunirá filmes de realizadores brasileiros que compuseram também experiências documentais desafiadoras, articulando vida e invenção e aproximando o documentário das artes visuais. Esse diálogo será ainda festejado no encerramento do CachoeiraDoc com uma intervenção artística em que o movimento siderante das ruas da Moscou de Vertov vai transmutar os muros de Cachoeira.

Como um dos nossos desejos é contribuir para promover o encontro dos documentários com as pessoas, programamos uma sessão especial de Bahêa, minha vida, documentário baiano sobre o time de futebol que mobiliza paixões, inédito em Cachoeira, onde ainda não há sala de cinema.

Na nossa muito jovem trajetória, já temos alguns motivos para celebrar, e um dos mais importantes deles é o conjunto de filmes que recebemos de realizadores do Brasil inteiro, renovando a convicção fundadora de que há uma grande e rigorosa produção de documentários no país, e de que ela precisa ser vista. A Mostra Competitiva Nacional e, no âmbito local, a Mostra Competitiva Bahia constituem uma seleção que demonstra as múltiplas formas através das quais os realizadores brasileiros têm enfrentado os desafios do real. Não percam! (por Amaranta Cesar)
 
  
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Dia mundial de combate a SIDA/AIDS: a doença no Brasil

Desde o início da epidemia, em 1980, até junho de 2011, O Brasil tem 608.230 casos registrados de AIDS (condição em que a doença já se manifestou), de acordo com o último Boletim Epidemiológico. Em 2010, foram notificados 34.218 casos da doença e a taxa de incidência de aids no Brasil foi de 17,9 casos por 100 mil habitantes.

Observando-se a epidemia por região em um período de 10 anos, 2000 a 2010, a taxa de incidência caiu no Sudeste de 24,5 para 17,6 casos por 100 mil habitantes. Nas outras regiões, cresceu: 27,1 para 28,8 no Sul; 7,0 para 20,6 no Norte; 13,9 para 15,7 no Centro-Oeste; e 7,1 para 12,6 no Nordeste. Vale lembrar que o maior número de casos acumulados está concentrado na região Sudeste (56%).

Atualmente, ainda há mais casos da doença entre os homens do que entre as mulheres, mas essa diferença vem diminuindo ao longo dos anos. Esse aumento proporcional do número de casos de aids entre mulheres pode ser observado pela razão de sexos (número de casos em homens dividido pelo número de casos em mulheres). Em 1989, a razão de sexos era de cerca de 6 casos de AIDS no sexo masculino para cada 1 caso no sexo feminino. Em 2010, chegou a 1,7 caso em homens para cada 1 em mulheres.

A faixa etária em que a aids é mais incidente, em ambos os sexos, é a de 25 a 49 anos de idade. Chama atenção a análise da razão de sexos em jovens de 13 a 19 anos. Essa é a única faixa etária em que o número de casos de aids é maior entre as mulheres. A inversão apresenta-se desde 1998. Em relação aos jovens, os dados apontam que, embora eles tenham elevado conhecimento sobre prevenção da aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, há tendência de crescimento do HIV.

Quanto à forma de transmissão entre os maiores de 13 anos de idade, prevalece a sexual. Nas mulheres, 83,1% dos casos registrados em 2010 decorreram de relações heterossexuais com pessoas infectadas pelo HIV. Entre os homens, 42,4% dos casos se deram por relações heterossexuais, 22% por relações homossexuais e 7,7% por bissexuais. O restante ocorreu por transmissão sanguínea e vertical.

Apesar de o número de casos no sexo masculino ainda ser maior entre heterossexuais, a epidemia no país é concentrada. Ao longo dos últimos 12 anos, a porcentagem de casos na população de 15 a 24 anos caiu. Já entre os gays a mesma faixa houve aumento de 10,1% entre os gays da mesma faixa. Em 2010, para cada 16 homossexuais dessa faixa etária vivendo com AIDS, havia 10 heterossexuais. Essa relação, em 1998, era de 12 para 10.

Em números absolutos, é possível ver como a redução de casos de AIDS em menores de cinco anos é expressiva: passou de 863 casos, em 2000, para 482, no ano passado. Comparando-se os anos de 2000 e 2010, a redução chegou a 55%. O resultado confirma a eficácia da política de redução da transmissão vertical do HIV (da mãe para o bebê).

Quando todas as medidas preventivas são adotadas, a chance de transmissão vertical cai para menos de 1%. Às gestantes, o Ministério da Saúde recomenda o uso de medicamentos antirretrovirais durante o período de gravidez e no trabalho de parto, além de realização de cesárea para as mulheres que têm carga viral elevada ou desconhecida. Para o recém-nascido, a determinação é de substituição do aleitamento materno por fórmula infantil (leite em pó) e uso de antirretrovirais.

Atento a essa realidade, o governo brasileiro tem desenvolvido e fortalecido diversas ações para que a prevenção se torne um hábito na vida dos jovens. A distribuição de preservativos no país, por exemplo, cresceu mais de 60% entre 2005 e 2010 (de 202 milhões para 327 milhões de unidades). Os jovens são os que mais retiram preservativos no Sistema Único de Saúde (37%) e os que se previnem mais. Modelo matemático, calculado a partir dos dados da PCAP de 2008, mostra que quanto maior o acesso à camisinha no SUS, maior o uso do insumo. A PCAP é a Pesquisa de Conhecimentos, Atitudes e Práticas relacionada às DST e AIDS da População Brasileira de 15 a 64 anos de idade.

Em relação à taxa de mortalidade, o Boletim também sinaliza queda. Em 12 anos, a taxa de incidência baixou de 7,6 para 6,3 a cada 100 mil pessoas. A queda foi de 17%.

Questões de vulnerabilidade – O levantamento feito entre jovens, realizado com mais de 35 mil meninos de 17 a 20 anos de idade, indica que, em cinco anos, a prevalência do HIV nessa população passou de 0,09% para 0,12%. O estudo também revela que quanto menor a escolaridade, maior o percentual de infectados pelo vírus da AIDS (prevalência de 0,17% entre os meninos com ensino fundamental incompleto e 0,10% entre os que têm ensino fundamental completo).

O resultado positivo para o HIV está relacionado, principalmente, ao número de parcerias (quanto mais parceiros, maior a vulnerabilidade), à coinfecção com outras doenças sexualmente transmissíveis e às relações homossexuais. O estudo é representativo da população masculina brasileira nessa faixa etária e revela um retrato das novas infecções. Veja também o BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO 2011 (Fonte: Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde do Brasil).

Imagem: GUGDesign
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Por que usar a camisinha?

A camisinha é o método mais eficaz para se prevenir contra muitas doenças sexualmente transmissíveis, como a aids, alguns tipos de hepatites e a sífilis, por exemplo. Além disso, evita uma gravidez não planejada. Por isso, use camisinha sempre.

Mas o preservativo não deve ser uma opção somente para quem não se infectou com o HIV. Além de evitar a transmissão de outras doenças, que podem prejudicar ainda mais o sistema imunológico, previne contra a reinfecção pelo vírus causador da aids, o que pode agravar ainda mais a saúde da pessoa.

Guardar e manusear a camisinha é muito fácil. Treine antes, assim você não erra na hora. Nas preliminares, colocar a camisinha no(a) parceiro(a) pode se tornar um momento prazeroso. Só é preciso seguir o modo correto de uso. Mas atenção: nunca use duas camisinhas ao mesmo tempo. Aí sim, ela pode se romper ou estourar.

A camisinha é impermeável – A impermeabilidade é um dos fatores que mais preocupam as pessoas. Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos esticaram e ampliaram 2 mil vezes o látex do preservativo masculino (utilizando-se de microscópio eletrônico) e não foi encontrado nenhum poro. Em outro estudo, foram examinadas as 40 marcas de camisinha mais utilizadas em todo o mundo. A borracha foi ampliada 30 mil vezes (nível de ampliação que possibilita a visão do HIV) e nenhum exemplar apresentou poros.

Em 1992, cientistas usaram microesferas semelhantes ao HIV em concentração 100 vezes maior que a quantidade encontrada no sêmen. Os resultados demonstraram que, mesmo nos casos em que a resistência dos preservativos mostrou-se menor, os vazamentos foram inferiores a 0,01% do volume total. Ou seja, mesmo nas piores condições, os preservativos oferecem 10 mil vezes mais proteção contra o vírus da aids do que a sua não utilização.

Onde pegar – O preservativo masculino é distribuído gratuitamente em toda a rede pública de saúde. Caso não saiba onde retirar, ligue para o Disque Saúde (0800 61 1997). Também é possível pegar camisinha em algumas escolas parceiras do projeto Saúde e Prevenção nas Escolas.

Você sabia... Que o preservativo começou a ser distribuído pelo Ministério da Saúde em 1994?

Como é feita a distribuição – A compra da maior parte de preservativos e géis lubrificantes disponíveis é feita pelo Ministério da Saúde. Aos governos estaduais e municipais cabe a compra e distribuição de, no mínimo, 10% do total de preservativos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e de 20% nas regiões Sudeste e Sul. Veja a distribuição nos estados.

Após a aquisição, os chamados insumos de prevenção saem do Almoxarifado Central do Ministério da Saúde, do Almoxarifado Auxiliar de São Paulo e da Fábrica de Preservativos Natex e seguem para os almoxarifados centrais dos estados e das capitais (Fonte: Departamento de DST, AIDS e Hepatites Virais do Ministério da Saúde do Brasil).
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domingo, 13 de novembro de 2011



 O Instituto ABCD, em parceria com o Instituto Cefac, disponibilizará o acesso a uma série de vídeos informativos sobre Dislexia, com a participação de especialistas da área. Os temas e vídeos abordados são os seguintes:

1) Dificuldades ou Transtornos de Aprendizagem? Renata Mousinho e Jaime Zorzi.



2) Transtorno específico de aprendizagem: Dislexia. Simone Capellini e Ana Luiza Navas.



3) Transtorno específico de aprendizagem: Dislexia e comorbidades (discalculia e TDAH). Rubens Wajnsztejn e Mônica Weinstein.



4) Transtorno específico de aprendizagem: estratégias para o acompanhamento educacional. Sônia Moojen e Giseli Germano.



5) Aspectos comportamentais e emocionais relacionados aos transtornos de aprendizagem. Noemi Takiuchi e Ana Luiza Borba.



6) Importância da família no acompanhamento dos transtornos de aprendizagem. Consuelo Mazzini e Vania Pavão.

A dislexia, transtorno de aprendizagem que afeta a leitura e a escrita de 3% a 5% da população brasileira, foi o tema de diversas atividades desenvolvidas entre os dias 31 de outubro a 06 de novembro de 2011.
Acesse no Portal do Instituto ABCD todo material compilado sobre a Semana: uma série de vídeos informativos, matérias publicadas, depoimentos de especialistas internacionais, os eventos realizados por outras organizações e depoimentos do público em geral."


Post retirado para divulgação do Portal do Instituto ABCD: http://www.institutoabcd.org.br/portal/

domingo, 6 de novembro de 2011

Poema Falado: O NAVIO NEGREIRO



O mês de novembro é considerado o Mês da Consciência Negra, pois foi no dia 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, que morreu o líder negro Zumbi dos Palmares, ícone da luta negra no Brasil contra a escravidão e a opressão dela decorrente. O Mês da Consciência Negra é também um período para reflexão. A escravidão pode fazer parte do nosso passado, mas o racismo, não. Mesmo que alguns insistam em dizer o contrário, a sociedade brasileira ainda está impregnada de idéias e valores racistas. E esse racismo que insiste em persistir tem suas origens, obviamente, no nosso passado escravocrata, passado este retratado nos versos de um dos maiores poetas românticos da língua portuguesa – e, também, abolicionista – o nosso Antônio Frederico de Castro Alves. Refiro-me ao magistral poema O NAVIO NEGREIRO, que pode ser contemplado no Poema Falado abaixo, mais uma vez na voz do magnífico Paulo Autran. O texto de Castro Alves pode ser acessado na íntegra no sítio DOMÍNIO PÚBLICO http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000068.pdf. Boa áudio-leitura! (por Silvio Benevides)

“Não podemos fechar os olhos para a veracidade de nossa história. Esta é uma delas” (KellenFMS).


[...] Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

[...] No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...

Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

CASTRO ALVES

domingo, 9 de outubro de 2011

POEMA FALADO: Oração de São Francisco de Assis



No mês de São Francisco de Assis, Bienvenue-Ami homenageia este que foi, sem dúvida, uma dos maiores homens que a humanidade gerou, o Pobrezinho de Assis. Tal qual Jesus Cristo, o legado de São Francisco é um legado de amor, respeito e paz entre os seres que habitam este planeta, como pode ser visto na sua Oração pela Paz, que traz em seus versos uma mensagem cunhada na era medieval, mas cada vez mais urgente e necessária no mundo contemporâneo.

Eis o texto: 

Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.
Onde houver ódio, que eu leve o amor.
Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.
Onde houver discórdia, que eu leve a união.
Onde houver dúvida, que eu leve a fé.
Onde houver erro, que eu leve a verdade.
Onde houver desespero, que eu leve a esperança.
Onde houver tristeza, que eu leve a alegria.
Onde houver trevas, que eu leve a luz.
Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar,
que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado, pois, é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna”.




É dando que se recebe


Há duas economias: a dos bens materiais e a dos bens espirituais. Elas seguem lógicas diferentes. Na economia dos bens materiais, quanto mais você dá bens, roupas, casas, terras e dinheiro, menos você tem. Se alguém dá sem prudência e esbanja perdulariamente acaba na pobreza.

Na economia dos bens espirituais, ao contrario, quanto mais dá, mais recebe, quanto mais entrega, mais tem. Quer dizer, quanto mais dá amor, dedicação e acolhida (bens espirituais) mais ganha como pessoa e mais sobe no conceito dos outros. Os bens espirituais são como o amor: ao se dividirem, se multiplicam. Ou como o fogo: ao se espalharem, aumentam.

Compreendemos este paradoxo se atentarmos para a estrutura de base do ser humano. Ele é um ser de relações ilimitadas. Quanto mais se relaciona, vale dizer, sai de si em direção do outro, do diferente, da natureza e até de Deus, quer dizer, quanto mais dá acolhida e amor mais se enriquece, mais se orna de valores, mais cresce e irradia como pessoa.

Portanto, é “dando que se recebe”. Muitas vezes se recebe muito mais do que se dá [...] Quando alguém de posses dá de seus bens materiais dentro da lógica da economia dos bens espirituais para apoiar aos que tudo perderam e ajudá-los a refazer a vida e a casa, experimenta a satisfação interior de estar junto de quem precisa e pode testemunhar o que São Paulo dizia: “maior felicidade é dar que receber”(At 20,35). Esse que não é pobre se sente espiritualmente rico.

Vigora, portanto, uma circulação entre o dar e o receber, uma verdadeira reciprocidade. Ela representa, num sentido maior, a própria lógica do universo como não se cansam de enfatizar biólogos e astrofísicos. Tudo, galáxias, estrelas, planetas, seres inorgânicos e orgânicos, até as partículas elementares, tudo se estrutura numa rede intrincadíssima de inter-retro-relações de todos com todos. Todos co-existem, inter-existem, se ajudam mutuamente, dão e recebem reciprocamente o que precisam para existir e co-evoluir dentro de um sutil equilíbrio dinâmico.

Nosso drama é que não aprendemos nada da natureza. Tiramos tudo da Terra e não lhe devolvemos nada nem tempo para descansar e se regenerar. Só recebemos e nada damos. Esta falta de reciprocidade levou a Terra ao desequilíbrio atual.

Portanto, urge incorporar, de forma vigorosa, a economia dos bens espirituais à economia dos bens materiais. Só assim restabeleceremos a reciprocidade do dar e do receber. Haveria menos opulência nas mãos de poucos e os muitos pobres sairiam da carência e poderiam sentar-se à mesa comendo e bebendo do fruto de seu trabalho. Tem mais sentido partilhar do que acumular, reforçar o bem viver de todos do que buscar avaramente o bem particular. Que levamos da Terra? Apenas bens do capital espiritual. O capital material fica para trás.

O importante mesmo é dar, dar e mais uma vez dar. Só assim se recebe. E se comprova a verdade franciscana segundo a qual “é dando que recebe” ininterruptamente amor, reconhecimento e perdão. Fora disso, tudo é negócio e feira de vaidades (por Leonardo Boff).


Postado por Salvador na Sola do Pé

domingo, 25 de setembro de 2011

Poema Falado - Poema dos olhos da Amada


Il n'y a pas de Garbo! Il n'y a pas de Dietrich! Il n'y a que Louise Brooks!” (Henri Langlois). O Poema Falado deste mês visa homenagear a mais bela, magnífica e fascinante atriz que o cinema já revelou ao mundo em todos os tempos. Refiro-me a LOUISE BROOKS, estrela maior do cinema mudo e uma personalidade a quem muito admiro. Para lhe render tributos mil, o não menos magnífico texto do Vinícius de Moraes, Poema dos olhos da Amada, traduzido e interpretado pela igualmente fascinante atriz francesa Jeanne Moreau. 
 


Ô bien-aimée, quels yeux tes yeux
Embarcadères la nuit, bruissant de mille adieux
Des digues silencieuses
Qui guettent les lumières
Loin... si loin dans le noir
Ô bien-aimée, quels yeux... tes yeux
Tous ces mystères dans tes yeux
Tous ces navires, tous ces voiliers
Tous ces naufrages dans tes yeux
Ô ma bien-aimée aux yeux païens
Un jour, si Dieu voulait
Un jour... dans tes yeux
Je verrais de la poésie, le regard implorant
Ô ma bien-aimée, quels yeux... tes yeux

(VINÍCIUS DE MORAES - JEANNE MOREAU/DOMINIQUE DREYFUS)
 
Ó minha amada
Que olhos os teus
São cais noturnos
Cheios de adeus
São docas mansas
Trilhando luzes
Que brilham longe
Longe dos breus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Quanto mistério
Nos olhos teus
Quantos saveiros
Quantos navios
Quantos naufrágios
Nos olhos teus...
Ó minha amada
Que olhos os teus
Se Deus houvera
Fizera-os Deus
Pois não os fizera
Quem não soubera
Que há muitas era
Nos olhos teus.
Ah, minha amada
De olhos ateus
Cria a esperança
Nos olhos meus
De verem um dia
O olhar mendigo
Da poesia
Nos olhos teus.

(VINÍCIUS DE MORAES/PAULO SOLEDAE)



Tomei a liberdade de publicar nesse espaço o texto abaixo, de autoria do economista Carlos Eduardo A. Martins, sobre a fenomenal Louise Brooks(por Sílvio Benevides).
Diz o texto aqui reproduzido de forma resumida:

Seria fácil mitificar “Brooksie”. Não é qualquer atriz que, naqueles tempos, tinha coragem de mandar o establishment dos grandes estúdios de Hollywwod às favas. Não é qualquer mulher que se tornou um ícone visual dos anos 20, a “melindrosa” par excellence. Ou que serviu de inspiração para não menos do que duas personagens de quadrinhos, separadas por quase quatro décadas – Dixie Dugan, de John H. Striebel (por sua vez derivada de um folhetim baseado em Brooks, Show Girl, de J. P. McEvoy ), e Valentina, de Guido Crepax -, além de músicas e vídeos. E, contrariando o estereótipo hollywoodiano, sem ter sequer completado o segundo grau era uma ávida leitora cuja dieta literária incluía Schopenhauer e Nietzsche, Goethe e Proust, e mais tarde se revelaria uma ótima articulista. Mas qualquer mitificação significaria reduzir a mero clichê uma personalidade riquíssima, complexa e contraditória.

Mary Louise Brooks nasceu em Cherryvale, Kansas, EUA em 14 de novembro de 1906. De sua mãe Myra e de sua vizinha Marcella “Tot” Strickler, ambas talentosas pianistas, Louise herdou o amor pela música. E logo desenvolveu uma nova paixão: a dança. Sua estréia como dançarina se deu aos quatro anos, numa produção beneficente da igreja local. Aos dez, já se apresentava em vários espetáculos em Cherryvale e nas cidades vizinhas, e foi nessa época que, por iniciativa de Myra, adotou o corte “pajem” que se tornaria uma de suas marcas distintivas.

Ainda adolescente, Louise entrou como estudante para a então jovem companhia de dança Denishawn, de Ted Shawn, Ruth St. Denis, Charles Weidman e Martha Graham, pioneiros da dança moderna nos Estados Unidos, e com eles deixou Wichita, para onde sua família tinha se mudado, rumo a New York.

Ser uma “denishawner” significava entrega total. Aos contínuos exercícios e ensaios numa ampla variedade de técnicas e estilos, às exaustivas turnês anuais por dezenas de cidades, e a uma estética que enfatizava graça e expressividade, atributos que para Louise eram dons naturais. Nesses aspectos, a participação de Louise foi brilhante. Em apenas seis meses, passou de estudante a contratada. E no segundo ano já era co-protagonista ou solista de vários números do crescente repertório, cujas coreografias igualmente se tornavam mais e mais elaboradas.

Juntamente com o talento, Louise logo demonstrou ter uma personalidade forte, impetuosa, refratária à autoridade e muitas vezes intratável, o que a levaria a um confronto com Ruth St. Denis. Pois Denishawn requeria mais: de um lado, a estrita obediência a um rígido código moral, ao qual Louise, de há muito sexualmente ativa, não aceitava se submeter; de outro, uma veneração quase servil a St. Denis, o que a personalidade altiva de Louise igualmente rejeitava. Foi St. Denis que a despediu - publicamente, diante de todo o grupo –, antes de Louise completar seu segundo ano com a companhia. Não por falta de empenho ou talento; por não ter a “atitude” correta.

Injustiçada (ou pelo menos assim se sentindo), rejeitada, humilhada e desempregada, só restaria a Louise voltar para Wichita - não fosse por Barbara Bennett (irmã das futuras atrizes Constance e Joan), de quem se tornara amiga. No mesmo dia Barbara lhe arranjou uma entrevista com George White, produtor da revista musical Scandals, o qual imediatamente contratou Louise como corista. Scandals era o segundo mais famoso e luxuoso espetáculo do gênero, perdendo apenas para as Follies de Florenz Ziegfeld. No ano seguinte, depois de uma curta, bem sucedida e solitária temporada solo em Londres após deixar Scandals, Louise estava no elenco da versão de 1925 de Follies.

Em plena Era do Jazz, New York fervilhava - nos bares clandestinos e nos clubes sofisticados, nos palcos da Broadway e nos salões dos milionários. O dinheiro corria solto, e, pelo menos entre os endinheirados, os costumes corriam frouxos e a promiscuidade e a inconsqüência imperavam, um Zeitgeist captado à perfeição por Cole Porter em 1927: Let's Misbehave. Não faltavam cavalheiros que assediassem coristas – e as de Ziegfeld eram as mais requisitadas.

Em princípio, a função das coristas era se deixar exibir como troféu e adornar as mesas de seus patronos. Nem sempre o compromisso se estendia até a cama, mas quando tal acontecia, o que não era raro, estava implícito no acordo tácito. Em contrapartida, as acompanhantes eram generosamente presenteadas com peles e jóias ou mesmo confortavelmente instaladas em hotéis luxuosos. Para Louise, tanto fazia. Sexo, desde que o parceiro lhe agradasse, nunca foi problema para ela. Ao longo da vida, teve incontáveis romances – breves, longos ou interminentes –, incluindo um curto e tórrido caso com Charles Chaplin no verão de 1925. Da mesma forma, embora gostasse da “boa vida” (e, confessadamente, tivesse um fraco por roupas), jamais se preocupou em amealhar bens. Era uma sensualista, e a ela interessava a satisfação momentânea, emocional, sexual e material, não a posse.

Não eram só os pretendentes que rondavam os bastidores das revistas. Os olheiros dos estúdios cinematográficos também estavam permanentemente à cata de novas caras – e novos corpos. Ao contrário de suas colegas, Louise não tinha grande interesse pelo cinema, que considerava um meio menor, opinião que era compartilhada pelo pessoal direta ou indiretamente ligado ao teatro. Assim como, com razão, achava o trabalho como corista incomparavelmente pobre em comparação com a dança, em particular o que havia realizado em sua temporada com Denishawn.

Talvez tenha sido essa insatisfação que a levou a, finalmente, aceitar fazer um teste para o cinema, talvez tenha sido um capricho, talvez tenha sido a insistência de seu amante Walter Wanger, um dos principais produtores da Paramount, talvez tenha sido outro traço de sua personalidade, a inconstância, talvez tenha sido a perspectiva de uma fonte adicional de renda (segundo a própria Louise, o dinheiro foi sua única motivação para ingressar na carreira cinematográfica). A indústria cinematográfica estava se transferindo de New York para Hollywood, mas ainda mantinha escritórios e estúdios na Costa Leste. Isso significava que Louise poderia filmar durante o dia, atuar nas Follies durante a noite, e ainda aproveitar as noitadas novaiorquinas.

Seja como for, Louise um dia se viu fazendo o teste para uma figuração em O Mendigo Elegante (The Street of Forgotten Men). Extremamamente crítica com relação a seu próprio desempenho, Louise achou seu teste péssimo. Mas o estúdio teve outra opinião, e a participação de Louise foi mantida na montagem final. Logo em seguida não só a Paramount como também a MGM lhe ofereceram contratos. Louise optou pela primeira, e foi logo escalada para uma ponta em Vênus Americana (The American Venus).

Louise não tinha muito a fazer senão enfeitar o cenário, o que fez além das expectativas. Uma foto promocional em que aparecia quase nua da cintura para cima, com apenas duas estreitas faixas lhe cobrindo parcialmente os seios, numa pose desafiadora, mãos nos quadris, foi fartamente reproduzida pela imprensa. A partir daí, era impossível ignorar a novata. E os críticos, longe de a ignorarem, destacaram sua presença em cena embora o filme não tenha sido muito bem recebido.

Nos três anos seguintes Louise fez mais doze filmes, todos - com uma única exceção - comediolas bobas, no máximo um melodrama. Muitos desses filmes se perderam ou só existem em cinematecas, e portanto não accessíveis ao público de hoje. Louise fora contratada pela beleza, e dela não se esperavam grandes dotes dramáticos. Mas gradativamente, por uma mistura de intuição, observação e talento natural, e apesar de não ter qualquer treinamento formal como atriz, foi dominando a arte de representar. O que não escapou aos críticos, que logo passaram a elogiar-lhe o desempenho, mesmo quando o papel não exigia muito dela.

A exceção veio em 1928 com Mendigos da Vida (Beggars of Life), de William Wellman, sobre um grupo de hoboes, vagabundos que viviam em vagões de carga de um canto para outro, e pela primeira vez Louise teve a oportunidade de realmente mostrar que sabia atuar. O papel de Louise, de uma fugitiva disfarçada de rapaz, implicava que aparecesse desglamorizada, o que enfatizava seu desempeho como atriz. Nesse meio tempo, os fãs também se haviam apaixonado pela jovem de olhar magnético e cabelos à la Príncipe Valente. Louise era uma das campeãs de correspondência da Paramount. Seu rosto aparecia repetidamente nas capas das mais prestigiosas revistas especializadas. De “novidade interessante”, havia passado à categoria de “estrela ascendente”.

Seu casamento com o diretor Eddie Sutherland, marcado por repetidas infidelidades de parte a parte, havia fracassado (também tipicamente, Louise recusou a pensão alimentícia a que teria direito bem como qualquer outra compensação material). A frivolidade e a pobreza intelectual de Hollywood, para onde tinha se mudado, lhe eram insuportáveis, e sempre que podia fugia para seu círculo de amigos novaiorquinos e para os braços de seu mentor e amante recorrente George Marshall.

No ano seguinte, Louise voltaria ao padrão dominante em sua carreira. Em O Drama de uma Noite (The Canary Murder Case), de Malcolm St. Clair, fez o papel de uma corista de teatro de revista, a "canária" do título original. Embora a personagem fosse crucial para a trama, de novo o papel não exigia muito de Louise como atriz. Baseado num popularíssimo romance de mistério escrito por S. S. Van Dyne (pseudônimo de Willard Huntington Wright), Drama era uma grande aposta da Paramount, mas ficou longe de ser o sucesso de bilheteria esperado. Mesmo assim, foi indiretamente um divisor de águas na vida de Louise.

O contrato de Louise com a Paramount estava chegando ao fim, e cabia ao estúdio optar por renová-lo ou não. Louise estava em ascensão, e o estúdio não tinha por que a dispensar. Era praxe, nos casos de renovação, conceder aos contratados um aumento de salário, e era o que Louise esperava quando foi chamada para uma reunião com o chefão da Paramount, B. P. Schulberg. Para sua surpresa, Schulberg declarou sumariamente que ou ela aceitava renovar pelo mesmo salário ou seria dispensada. E, para pasmo de Schulberg, Louise optou pela segunda alternativa.

Não foi apenas uma decisão voluntariosa. Na véspera, George Marshall lhe havia dito que não cedesse à pressão, pois ele sabia que um diretor alemão estava interessado em contratá-la para um filme “muito famoso” – e por um salário maior. Marshall sabia do que estava falando. No momento em que Louise deixou a sala do chefão da Paramount, sem contrato e sem emprego, a secretária de Schulberg lhe entregou um telegrama que havia sido endereçado ao estúdio. Era um convite do diretor Georg Whilhelm Pabst para que ela fizesse um teste para o papel de Lulu em A Caixa de Pandora.

Louise nunca tinha ouvido falar de Pabst, muito menos das peças de Frank Wedekind nas quais se baseava o roteiro do filme. E nem de longe supunha que a escolha da atriz que faria Lulu havia se tornado na Alemanha o objeto de uma busca frenética só comparável à que, dez anos depois, cercaria a escolha da intérprete de Scarlett O'Hara em E o Vento Levou.

Se a escolha da inglesa Vivien Leigh como Scarlett foi polêmica, muito mais celeuma causou Pabst ao optar por uma pouco conhecida atriz estadunidense para o papel de Lulu. Pabst havia entrevistado dezenas de atrizes, incluindo a Marlene Dietrich pré-Anjo Azul, mas nenhuma correspondia à visão que tinha de sua Lulu. Até que, já desesperado, viu umas poucas cenas de Louise em A Girl in Every Port, e teve seu estalo.

Pabst, Lulu e Louise foram feitos um para o outro. Pabst não sabia que Louise, assim como a personagem, era dançarina. O inverso se dava, já que Louise não havia lido o roteiro. Louise tampouco sabia que Pabst dava a seus filmes um tratamento coreográfico, da direção de cena à montagem. Ou que era um expoente do estilo que seria rotulado de “nova objetividade” (que conservava algumas inovações formais de expressionismo, mas lhe rejeitava o hiper-artificialismo e a hiper-estilização, buscando em vez disso uma abordagem mais “natural” e “realista”), do qual A Caixa de Pandora se tornaria marco e síntese.

Vista hoje, a atuação de Louise é surpreendentemente moderna. Numa época em que o cinema ainda estava se livrando das caras e bocas caricaturais à la Rodolfo Valentino, Louise impressiona pelo comedimento. Com um pequeno gesto, um sorriso, um franzir de rosto, e principalmente um olhar, é capaz de transmitir toda a gama de emoções e a ambigüidade de Lulu sem jamais cair no exagero. Muito se deve a Pabst, que era um soberbo diretor (e manipulador) de atores, e mais ainda de atrizes. Notando logo que Louise era uma atriz intuititva, Pabst, em vez de a soterrar sob detalhadas instruções de como agir diante da câmera, concentrou-se em lhe passar concisas instruções sobre as emoções envolvidas na cena, e deixar que Louise as desenvolvesse.

As filmagens de Pandora foram concluídas exatamente na data prevista. No dia seguinte, Louise estava de partida para New York. Tinha gostado de trabalhar com Pabst, a quem viera a devotar grande admiração, mas para ela Pandora era apenas mais um trabalho concluído, e como tal página virada (por Carlos Eduardo A. Martins).

Imagem: George Grantham Bain Collection