domingo, 28 de outubro de 2012

Eleição em Salvador - 2012

Inútil- Ultraje a Rigor

A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dente
Tem gringo pensando que nóis é indigente

(Refrão)

Inútil
A gente somos inútil
Inútil
A gente somos inútil
Inútil
A gente somos inútil
Inútil
A gente somos inútil

A gente faz carro e não sabe guiar
A gente faz trilho e não tem trem prá botar
A gente faz filho e não consegue criar
A gente pede grana e não consegue pagar

(Refrão)

A gente faz música e não consegue cantar
A gente escreve livro e não consegue publicar
A gente escreve peça e não consegue encenar
A gente joga bola e não consegue ganhar

segunda-feira, 9 de julho de 2012


Carne
Vinícius de Moraes


Que importa se a distância estende entre nós léguas e léguas
Que importa se existe entre nós muitas montanhas?
O mesmo céu nos cobre
E a mesma terra liga nossos pés.
No céu e na terra é tua carne que palpita
Em tudo eu sinto o teu olhar se desdobrando
Na carícia violenta do teu beijo
Que importa a distância e que importa a montanha
Se tu és a extensão da carne
Sempre presente?


TARDE

Vinícius de Moraes

Na hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas
Meu espírito te sentiu.
Ele te sentiu imensamente triste
Imensamente sem Deus
Na tragédia da carne desfeita.
Ele te quis, hora sem tempo
porque tu eras a sua imagem, sem Deus e sem tempo.
Ele te amou
E te plasmou na visão da manhã e do dia
Na visão de todas as horas
Ó hora dolorosa e roxa das emoções silenciosas


Rio de Janeiro, 1933

Tão bom aqui
Adélia Prado

Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui para rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
Tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestionamos elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
O de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
Em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
Alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
Refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
Eu nada sei de mim.

sábado, 7 de abril de 2012

XI Encontro de Psicopedagogia da Bahia





PSICOPEDAGOGIA:
ENTRE OS TRATAMENTOS
E A ESCOLARIZAÇÃO

Nesse espaço de tempo entre o X e o XI Encontro
de Psicopedagogia da Bahia, o CETIS continuou
mobilizado para a construção de uma prática
psicopedagógica cada vez mais fundamentada.

No dia a dia do fazer psicopedagógico, nos deparamos
com vários questionamentos e descobertas que nos
fazem querer estar “em encontro”.
Somos sistematicamente convocados a pensar.

• O que o psicopedagogo tem feito para fundamentar
sua formação e identidade?
• Como sustentar a prática psicopedagógica de forma
ética, cuidando da singularidade e do social?
• Quais as possibilidades e limites do diálogo entre a
psicopedagogia e as outras especialidades?
O nosso convite é para refletir e partilhar conosco
a respeito do tema Psicopedagogia: Entre os
Tratamentos e a Escolarização e outras questões
que certamente serão provocadas a partir do nosso
diálogo.
Esperamos você!
Direção do CETIS
Tereza Cristina Marinho
Comissão Organizadora do
XI Encontro de Psicopedagogia da Bahia
Milena Marinho
Scheila Fontes
Sumaia Leão
Vânia Campos.


Temário
• Psicopedagogia, os Tratamentos e a Aprendizagem
• Escola e Tratamento: Interlocução Possível?
• A Escola Regular e a Criança com Autismo
• Educação e a Constituição do Sujeito
• A Formação do Psicopedagogo
• Superexigências, Hiperpermissividades e a Patologização
do Infantil
• Propostas de Intervenção em Equipes Interdisciplinares
• O Professor e seu Espaço de Reflexão
• A Prática Institucional com Grupos
Curso
A INCLUSÃO NA ESCOLA
Maria da Paz Castro (SP)
Coordenadora de Práticas Inclusivas da Escola da Vila
Nossos Convidados
Alessandro Marimpietri (BA)
Ana Aurélia Mota Carvalho (BA)
Carmen das Graças Fernandes (BA)
Cláudia Mascarenhas Fernandes (BA)
Daniele de Brito Wanderley (BA)
Deibe Barbosa de Moraes – Espaço Escuta (PR)
Denise Sampaio Martins (BA)
Fernanda Burgos (BA)
Isabella Regina Gomes de Queiroz (BA)
Júlia Brito (BA)
Karine Araújo (BA)
Lilia Rezende (BA)
Maria Angélica Moreira Rocha – ABPp (BA)
Maria da Paz Castro – Escola da Vila (SP)
Maribel de Salles de Melo – Espaço Escuta (PR)
Scheila Bastos S. Fontes (BA)
Sonia Madi (SP)
Sumaia Leão (BA)
Valéria Aguiar – CPPL (PE)
Valesca Victor – CPPL (PE)



Nossos Convidados

ABPp (Associação Brasileira de Psicopedagogia – Seção Bahia)
Maria Angélica Moreira Rocha (BA)
Psicopedagoga com especialização em Educação Especial, Psicodrama,
Neuropsicologia e Representante da ABPp.
Alessandro Marimpietri (BA)
Psicólogo. Professor. Doutorando em Ciências da Educação (UNCUYOArgentina).
Ana Aurélia Mota Carvalho (BA)
Psicopedagoga clínica e institucional. Coordenadora das Oficinas
Ludoterapêuticas do Centro Estadual de Prevenção e Reabilitação de
Deficiências da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia – CEPRED.
Carmen das Graças Fernandes (BA)
Fonoaudióloga (UCP – Petrópolis – RJ). Pós-graduada em Linguagem
(UFBA). Mestre (MINTER PUC-SP/UNIME – BA). Docente do curso de
graduação em Fonoaudiologia e Coordenadora do Curso de Especialização
em Motricidade Orofacial (UNIME – Lauro de Freitas).
Cláudia Mascarenhas Fernandes (BA)
Psicanalista. Presidente do Instituto Viva Infância. Doutora em psicologia
clínica pela USP. Membro do Espaço Moebius. Co-coordenadora nacional
do PREAUT Brasil (Pesquisa em Autismo).
CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem)
Valéria Aguiar (PE)
Psicóloga. Psicanalista. Diretora Presidente do CPPL. Atuação profissional
em clínica, ensino, consultoria em gestão a instituições e equipes nas áreas
de educação, saúde e assistência social.
CPPL (Centro de Pesquisa em Psicanálise e Linguagem)
Valesca Victor (PE)
Psicóloga. Diretora Secretária do CPPL. Sócia do Círculo Psicanalítico de
Pernambuco – Formação em Psicanálise. Atuação profissional em clínica,
ensino, consultoria em gestão a instituições e equipes nas áreas de educação,
saúde e assistência social.
Daniele de Brito Wanderley (BA)
Psicóloga. Psicanalista. Coordenadora do NIIP – Núcleo Interdisciplinar de
Intervenção Precoce da Bahia.
Denise Sampaio Martins (BA)
Psicanalista. Psiquiatra Infantil.
ESCOLA DA VILA
Maria da Paz Castro (SP)
Formada pelo Instituto Singularidades. Orientadora de práticas inclusivas
na Escola da Vila. Formadora na área de educação inclusiva, atendendo
educadores das redes pública e privada, em diversas regiões do país.



Nossos Convidados

ESPAÇO ESCUTA

Deibe Barbosa de Moraes (PR)
Professora. Psicopedagoga. Especialista em Educação Especial. Especialista
em Transtornos do Desenvolvimento Infantil e Adolescência. Especialista
em Gestão Escolar.
ESPAÇO ESCUTA
Maribel de Salles de Melo (PR)
Psicóloga. Psicanalista. Membro fundadora da Associação Psicanalítica de
Curitiba e do Espaço Escuta. Especialista em Transtornos do Desenvolvimento
Infantil e Adolescência. Especialista em Estimulação Precoce.
Fernanda Burgos (BA)
Pedagoga. Especialista em Educação pela UNEB. Pós-graduanda em
Coordenação Pedagógica pela Unifacs. Atua há 15 anos como professora,
coordenadora pedagógica e diretora nos seguimentos da Educação Infantil e
Ensino Fundamental I e II. Realiza formação de professores em instituições
de educação no Brasil e em Portugal.
Isabella Regina Gomes de Queiroz (BA)
Psicóloga. Psicopedagoga. Especialista em Saúde na Infância. Atuação
profissional como psicóloga do NAPP e da APAE. Professora do curso de
Psicologia da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública.
Júlia Brito (BA)
Pedagoga formada pela UFBa. Professora de Educação Infantil.
Karine Araújo (BA)
Pedagoga (UNEB). Psicopedagoga (CETIS). Sociopsicomotricista Ramain-
Thiers (CESIR-RJ).
Lilia Rezende (BA)
Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional. Membro
do Conselho Diretor da Vila Criar – Escola e Centro de Estudos. Integrante
do Grupo UQT – Uma Questão de Texto – CETIS.
Scheila Bastos S. Fontes (BA)
Pedagoga (UFBA). Psicopedagoga (CETIS). Atuação profissional como
psicopedagoga clínica.
Sumaia Leão (BA)
Psicóloga (UFBA). Psicopedagoga (CETIS). Atuação profissional como
psicopedagoga clínica. Coordenadora da Oficina de Leitura Entreprofessores
e Formação de Professores da Educação Infantil.
Sonia Madi (SP)
Coordenadora do Programa Olímpíadas da Língua Portuguesa Escrevendo o
Futuro (CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisa em Educação, Cultura e
Ação Comunitária). Mestre em Didática pela Universidade Federal de São
Paulo.
Tereza Cristina Marinho (BA)
Diretora do CETIS. Psicopedagoga. Psicomotricista. Especialista em
Psicolinguística. Membro do Colégio de Psicanálise da Bahia.




11 de maIo – sexta –feira

13:00 às 14:00 Entrega de material
14:00 às 14:15 Abertura
Tereza Cristina Marinho (CETIS)
14:15 às 14:30 Apresentação Art ística
14:30 às 15:45 MESA REDONDA 1
Encontros para Aprender
Ana Aurélia Mota Carvalho
Lilia Rezende
Scheila Bastos S. Fontes
Sumaia Leão
15:45 às 16:00 Intervalo
16:00 às 17:00 PALESTRA 1
Entre o Psíquico e o Pedagógico: Construções
a partir da Prática Institucional
Valéria Aguiar (CCPL)
17:00 às 18:30 PALESTRA 2
Aprender a Contar: Ponto de Partida da
Prática Pedagógica
Sonia Madi
18:30 às 19:00 Intervalo
19:00 às 20:30 CURSO – Parte 1
A Inclusão na Escola
Maria da Paz Castro (Escola da Vila)
20:30 às 21:30 MESA REDONDA 2
O Problema é a Dificuldade de Aprendizagem?
Carmen das Graças Fernandes
Isabella Regina Gomes de Queiroz
Júlia Brito

12 de maIo – sábado

8:00 às 9:30 CURSO – Parte 2
A Inclusão na Escola
Maria da Paz Castro (Escola da Vila)
9:30 às 10:00 Intervalo COM APRESENTAÇÃO DE
pôsteres
10:00 às 11:30 Mesa Redonda 3
Um Tratamento Entre Tantos
Cláudia Mascarenhas Fernandes
Deibe Barbosa de Moraes (Espaço Escuta)
Fernanda Burgos
11:30 às 12:30 Palestra 3
Reinventamos a Infância? – Superexigências,
Hiperpermissividades e a Patologização
do Infantil
Alessandro Marimpietri
14:00 às 15:00 Mesa Redonda 4
O Social Circulando no Cuidado com o Singular
Denise Sampaio Martins
Karine Araújo
Valesca Victor (CPPL)
15:00 às 16:00 Palestra 4
A Inclusão do Autista na Rede Regular
Daniele de Brito Wanderley
16:00 às 16:15 Intervalo
16:15 às 17:15 Palestra 5
Novas Propostas de Intervenção em Equipe
Interdisciplinar
Deibe Barbosa de Moraes e
Maribel de Salles de Mello (Espaço Escuta)
17:15 às 18:45 Espaço Interativo
Deibe Barbosa de Moraes
Maria da Paz Castro
Maria Angélica Moreira Rocha
Sonia Madi
Valéria Aguiar
18:45 às 19:00 Enceramento
Tereza Cristina Marinho (CETIS)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um cordel nada encantado

Uma vergonha histórica! É como podemos resumir esses dois mandatos do atual prefeito de Salvador, João Henrique. Em oito anos de governo a cidade mudou de razoável para muito ruim ou péssima. O transporte público é uma porcaria, as vias públicas uma lástima, saúde e educação um horror. Os versos “Triste Bahia”, escritos por Gregório de Matos no século XVII, parecem ter sido inspirados na atual gestão municipal soteropolitana. Vivemos tempos mui tristes e toda essa tristeza, desalento e indignação foram muito bem traduzidos pelo cordelista, natural de Santa Bárbara, Antonio Barreto na sua CARTA DE UM CORDELISTA BAIANO AO PREFEITO JOÃO HENRIQUE, abaixo reproduzida e fartamente divulgada no Facebook. Eis a carta:
 I 
Meu querido João Henrique
Prefeito de Salvador
Eu escrevo essa cartinha
Para traduzir o clamor
Que não é somente meu
Mas de todo o eleitor.
 II 
Não escrevo com rancor
Nem busco aqui confusão
Falo pela maioria
Da nossa população
Que quer ver nossa cidade
Em melhor situação. 
III 
Não vou aqui relatar
Tudo detalhadamente
Quero apenas atentar
Para o desmando presente
De coisas essenciais
Dessa cidade carente. 
IV 
Desde a primeira gestão
Que o senhor nos prometeu
Cuidar bem da nossa urbis
Mas parece que esqueceu
Pois já são quase seis anos
Porém nada floresceu.
V  No Brasil de Norte a Sul
E também no além mar
A imagem de Salvador
Começou a declinar
Por culpa da sua gestão
Que não pode piorar. 
VI 
O abandono é total
Da Ribeira a Itapuã
De Cajazeira a Paripe
Sob os olhos de Iansã
Parece até que o senhor
Está pra lá de Teerã! 
VII 
Acho que vossa excelência
Está dormindo demais
A cada dia que passa
Vem se mostrando incapaz.
E a querida Salvador
Vai ficando para trás! 
VIII 
A sua avaliação
É bastante negativa
Porque você colocou
Nossa cidade à deriva.
Dê no pé, desapareça
Levando sua comitiva. 
IX 
Falhas no transporte público
Os salários atrasados
Débito aos fornecedores
Os bairros abandonados
Buracos, lixo na rua
E os turistas assustados.
Aquele “velho metrô”
Aliás, digo atual,
Pelo andar da carruagem
É uma obra irreal
E agora representa
O seu grande inferno astral! 
XI 
Será que o senhor conhece
A Praça da Piedade?
Pois ali é o coração
Dos poetas, da cidade
Mas durante o seu governo
Tornou-se favelidade. 
XII 
O Jardim da Piedade
O antro da poesia
Transformou-se em favela
E agora é moradia
De pedintes e drogados
Seja noite ou luz do dia. 
XIII 
Não queira dizer que eu
Estou criando barulho
Perceba que o Pelourinho
Carlos Gomes, 2 de Julho
Campo Grande, Rua Chile
Parecem mais um entulho. 
XIV 
Vá visitar Nazaré,
Avenida Sete, Barra…
Veja de perto a desordem
Todo clima de algazarra.
Mas cuidado seo Prefeito
Ali o povo te agarra!
XV 
Procure fazer a hora
Não espere acontecer.
Mas o senhor é teimoso
Não dá o braço a torcer
Sabe que já fracassou
E não quer reconhecer. 
XVI 
Esse tal PDDU
Rima com desarmonia
Favorece aos empresários
Vai de encontro à ecologia
E o IPTU, prefeito,
Haja tanta carestia! 
XVII 
Essa troca de partido
Já virou foi brincadeira
E o senhor não se dá conta
Que já está na ribanceira
Pois devolva a prefeitura
E volte a morar em Feira. 
XVIII 
Cadê o trem do subúrbio,
Não vai mais funcionar?
O povo da suburbana
Não aguenta mais penar
Justamente o eleitor
Que ajudou você ganhar. 
XIX 
E a prestação de contas
O que foi que aconteceu?
Conte logo essa estória
O povo não esqueceu.
O dinheiro foi torrado
Ou o “gato” então comeu?
XX 
A SUCOM já não atende
Às queixas dos moradores
Que passam noites insones
Embaixo dos cobertores
A sofrer com o barulho
Dos barzinhos infratores. 
XXI 
Querido prefeito João
O senhor caiu no sono:
Salvador rima com lixo
Com sujeira e abandono
Tem cara de favelão
Parece terra sem dono. 
XXII 
O senhor é um sortudo
Conseguiu ser reeleito…
Tudo isso é brincadeira
Querido e nobre prefeito
O maluco aqui sou eu:
Um eleitor com despeito! 
XXIII 
O desgaste é tão visível
Que não dá para enganar.
Acho que o senhor precisa
Uma decisão tomar:
Entregar o cargo agora
Pra Luiza governar! 
XXIV 
Pois aqui eu me despeço
Do Astral Superior
Desejando paciência
Ao povo de Salvador:
O velho Tomé de Sousa
Com carinho e com amor! 
FIM                                                                                 
                                                                                              Postado Por  Salvador na sola do pé

domingo, 29 de janeiro de 2012

Poema Falado: POEMA EM LINHA RETA



Dizem que um poeta é universal quando ele ou ela consegue transpor os limites da sua individualidade, da sua gente, do seu espaço e do seu tempo. Se é assim, o Fernando Pessoa é um dos poetas mais universais da história da poesia. Seus versos falam de sentimentos particulares que são partilhados por muita gente de ontem, de hoje e, certamente, de amanhã também. Quando há muito li os versos do POEMA EM LINHA RETA, o Poema Falado deste mês, o primeiro de 2012, logo me identifiquei. Relendo-o agora vejo como ele é tão atual, nesses tempos em que todos buscam nada menos que a perfeição, querendo a todo custo ser (ou ao menos aparentar ser) sexualmente plenos, felizes, belos, fortes, destemidos, saudáveis, inteligentes e eternamente jovens. Em outras épocas me sentia um estranho estrangeiro nesse mundo de gente “tão perfeita”. Hoje, ao deparar-me com essas pessoas tenho “sido vil, literalmente vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza”. E é para homenagear mais uma vez o Fernando Pessoa na pessoa do Álvaro de Campos que o Poema Falado traz o POEMA EM LINHA RETA: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. / Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. // E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, / Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, / Indesculpavelmente sujo, / Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, / Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, / Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, / Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, / Que tenho sofrido enxovalhos e calado, / Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; / Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, / Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, / Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, / Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado / Para fora da possibilidade do soco; / Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, / Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. // Toda a gente que eu conheço e que fala comigo / Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, / Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... // Quem me dera ouvir de alguém a voz humana / Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; / Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! / Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. / Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? / Ó príncipes, meus irmãos, // Arre, estou farto de semideuses! / Onde é que há gente no mundo? // Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? // Poderão as mulheres não os terem amado, / Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! / E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, / Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? / Eu, que venho sido vil, literalmente vil, / Vil no sentido mesquinho e infame da vileza”.Boa áudio-leitura!