terça-feira, 21 de outubro de 2008






A lágrima súbita.

(Soares Feitosa)


Nenhuma grande chuva jamais encheu o mar; nenhuma seca do Ceará conseguiu baixar o nível das águas deste mar-oceano; logo, esta lágrima súbita, neste mar salgado, é inútil como volume.
— De que medos tenho coisa?
Transito eu - ela disse - entre o abismo e a lembrança; que agora, neste borrifo de espuma e brisa, os escorridos da minha face me confundem:
— serão de mim, serão do mar? —
— De que medos tenho eu?
Por que agora uma lágrima, nascida num canto de minha face, quando lágrimas só as conheço de alegre?
Seria este azul de mar profundo, fundo, cheio, soturno, a fonte obscura do meu terror?
Se eu chamar a reflexão, aplacadas serão minhas aflições?
Ou, mais prudente clamar pelo sonho, que prefiro imaginar, agora:
(optei pelo sonho, claro que é sonho)
esta vontade de fugir e cavalgar horizonte e brisa, tanger os ventos no corcel dos meus cabelos, navegar os azuis e céus na esquina de minha face e quando gritar por lágrima, venha, senhora lágrima, eu quero eu preciso chorar, e de surpresa, quando olhar de lado, é sonho, claro que é, reencontrar, no vento ligeiro, a fuga dos teus olhos!?

2 comentários:

Charlotte disse...

"...venha, senhora lágrima, eu quero eu preciso chorar..."
Aqui, li e viajei... Muito lindo!

Beijos meninas!

Anônimo disse...

É lágrima não consigo me desgrudar de ti nem como alegria tristeza ou desencanto...que venha traga a força por detrás de ti!!

Papillon tô achando que não precisa mais de mim... mesmo chorando...adorei!! Rss

bjs