sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Colaboração de Bel.



Aqui

Tenho um lugar em mim,
Em que me meto, Deus meu,
Na busca desatinada de mim.

Aqui estou, agora. Aqui, no meu lugar,
Aqui, sozinho, comigo, me argüindo
Nesta busca sem fim, de mim.

Aqui, metido em mim.
Consolado de me ser, qual sou,
Só quero saber quem sou.

REFERÊNCIA: Darcy Ribeiro em Eros e Tanatos a poesia de Darcy Ribeiro de 1998


SONETOS DA AUSÊNCIA

I

Se a saudade que vem é passageira
e o amor é fogo a arder em breve instante,
deixa que eu leve ao coração sangrante
minha palavra amiga e companheira.

Deixa que eu chore e sofra e ria e cante
e colha a paz na lágrima primeira,
pois o lembrar-te é como uma fogueira
que me persegue em frêmito incessante.

Deixa que eu sofra nas corolas, ria
nas madrugadas, me desfolhe em sinos,
e me perca no céu como no mar...

Deixa que eu me desfaça em melodia,
que eu me alucine em risos de meninos,
que eu me procure para não me achar!

XXXIII

Onde estás já não sei. Senti bem perto
teu corpo desejado e sempre esquivo.
O amor é um sonho tanto mais incerto
quanto se faça latejante e vivo.

Procuro em mim a estrela e nada vejo.
Quando foi que a perdi? Não me lamento.
Mas o desejo, a febre do desejo,
uiva no vento e se desfaz no vento...

Tudo é saudade em mim. Se estendo os braços,
não colho o teu silêncio. E estás distante...
Mas como em mim não sonhas, não insistes

em superar insônias e cansaços
e colocar no coração amante
coisas da infância, muito embora tristes.


REFERÊNCIA: Alphonsus de Guimaraens Filho em Só a noite é que amanhece 2003


A Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus - ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

REFERÊNCIA: MANUEL BANDEIRA em O melhor da Poesia Brasileira 2005

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