domingo, 18 de janeiro de 2009

Colaboração de Bel.


XXXII


Era um momento sem cor
pequeno que dava dó.
Corria rapidamente
para esconder-se na noite
possuir um manto de estrelas
e não ser tão triste e só.

De repente, não sei como,
nos encontramos no nada.
Tranqüilo, calmo, tão sério
você parecia distante.
Não sabia, e eu também não
o que traria a alvorada.

Havia tanto a dizer
- nem foi preciso falar.
Quem marcou o nosso encontro?
Era dia de Iemanjá...
Eu quero dizer seu nome
mas acho melhor calar.



XXVII

Eu te amei tão fácil, simplesmente
como se tivesses nascido para mim.
Sem saber, sem perguntar, sem querer nada
e sem imaginar porque estava agindo assim.

O mar silenciou o tumulto
parou o tempo de repente.
Céu e terra se encontraram
ficou tudo diferente.

Não houve prece ou renúncia
injustiça ou covardia.
Um só beijo, um só abraço
e um passado em agonia.

Abriu-se novo horizonte
colorindo nossa estrada.
Construímos nosso mundo
e não queremos mais nada.

REFERÊNCIA: DINAH NASCIMENTO EM MINHA PEQUENA HORA GRANDE DE 1976

AUSÊNCIA

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são docesPorque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vidaE eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminadoQuero só que surjas em mim como a fé nos desesperadosPara que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoadaQue ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra faceTeus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugadaMas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noitePorque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosaPorque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaçoE eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciososMas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partirE todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelasSerão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Referência: Vinícius de Moraes em Nova Antologia Poética de 2003.

Um comentário:

vivi disse...

Nossa!!!... Que lindo!!! Me emocionei... "...Havia tanto a dizer
- nem foi preciso falar. Quem marcou o nosso encontro? Era dia de Iemanjá... Eu quero dizer seu nome
mas acho melhor calar.
Eu te amei tão fácil, simplesmente
como se tivesses nascido para mim.
Sem saber, sem perguntar, sem querer nada e sem imaginar porque estava agindo assim."... Gente!!! Demais... Beijus.