VOCÊ ENGOLE BORBOLETAS
EU TENHO O SOL NA BARRIGA
Você engole borboletas
eu tenho o sol na barriga
Você sempre anda de óculos
eu leio coisas antigas
Você vara a noite
eu desenho cataventos
Você gosta de ficção
eu tenho outros inventos
Você anda desligado
e eu busco perspectivas
Você me conta seus sonhos
e me ri e me cativa
Eu tenho medo da noite
Você ama a solidão
o meu amor se reflete
nas pupilas dos olhos de um cão
Você teoriza a matéria
e eu adoro hidrantes
Você quer a liberdade
e eu só vivo o instante
A gente faz uma viagem
e vê estrelas cadentes
e eu sonho um mar onde nado
e me afundo contra a corrente
Você geme e se revolta
e eu penso no seu beijo
e enquanto você conversa
me dói no corpo o desejo
me arde o corpo o desejo
eu me espreguiço me espicho
e me chego e te provoco
meio anjo meio bicho
Você me conta um segredo
eu te mostro um encanto
enquanto você toca flauta
desafinada eu canto
Você absorve a paisagem
eu procuro a maravilha
Você deixa alguns vestígios
e eu vou seguindo a trilha
Você fala em liberdade
e eu me prendo no seu traço
você é abstrato divaga
eu te olho e te embaraço
Ando na rua devagar
Você corre na avenida
Você tem melancolia
eu tenho medo da vida
Você fala ao telefone
cercado dos seus amigos
eu passo os dias muito só
e só entendo depois que digo
De repente vem o encontro
sem que a gente entenda o nexo
eu te vejo e me compreendo
e me vejo em teu reflexo
Eu te transmito fluidos
de uma forte ligação
e recebo uma corrente
quando pego na tua mão
Você tem um magnetismo
eu sou dotada à magia
nossas auras se atraem
por uma questão de energia
Você cospe margaridas
tem o mundo nas entranhas
eu fico horas olhando
o orvalho na teia de aranha
E a gente se precisa
como a um aditivo
numa coisa estranha a nós
sem razão e sem motivo
São coisas transcendentais
é inútil que eu lhe diga
Você engole borboletas
eu tenho o sol na barriga.
REFERÊNCIA: Bruna Lombardi em NO RITMO DESSA FESTA
Do Viver
Urge viver. Minutos audaciosos
Armam cilada aos passos repetidos.
Qualquer coisa acontece nestes idos
De tempo estranho, e nós, seres porosos,
De argila e sangue, tristes e jocosos,
Com lágrimas e risos ressentidos,
Sacudimos os guizos comovidos
Como sinal de luz sobre danosos
Desertos de aquiescência e de rotina.
Urge viver. O tempo nos apela
No fim de cada rua. Em cada esquina
Há um encontro fatal, o gesto incrível
Do pintor produzindo em nossa tela,
Algo de cotidiano e de terrível.
REFERÊNCIA: Paulo Bomfim em LIVRO DE SONETOS DE 2006
EU TE AMO TANTO
Eu te amo tanto que não pode o peito
conter dentro de si amor tão vasto.
E te amo há tanto que do amor me basto,
sem fêmea alguma que arda no meu leito
ou lembrança que ali sirva de pasto
às larvas de um desejo satisfeito
e que, farto de si, seja perfeito,
como perfeito é o vértice onde o engasto.
Eu te amo desde aquele agudo instante
em que tudo se faz irreal e eterno,
pouco importa se o céu ou o duro inferno,
posto que um nunca do outro está distante.
E assim é porque a mim tocou-me a sina
deste amor que me cega e me ilumina.
REFERÊNCIA: Ivan Junqueira em O Outro Lado. Poemas 1998-2006
COM TANTO ESPANTO
Estou aprendendo
Urge viver. Minutos audaciosos
Armam cilada aos passos repetidos.
Qualquer coisa acontece nestes idos
De tempo estranho, e nós, seres porosos,
De argila e sangue, tristes e jocosos,
Com lágrimas e risos ressentidos,
Sacudimos os guizos comovidos
Como sinal de luz sobre danosos
Desertos de aquiescência e de rotina.
Urge viver. O tempo nos apela
No fim de cada rua. Em cada esquina
Há um encontro fatal, o gesto incrível
Do pintor produzindo em nossa tela,
Algo de cotidiano e de terrível.
REFERÊNCIA: Paulo Bomfim em LIVRO DE SONETOS DE 2006
EU TE AMO TANTO
Eu te amo tanto que não pode o peito
conter dentro de si amor tão vasto.
E te amo há tanto que do amor me basto,
sem fêmea alguma que arda no meu leito
ou lembrança que ali sirva de pasto
às larvas de um desejo satisfeito
e que, farto de si, seja perfeito,
como perfeito é o vértice onde o engasto.
Eu te amo desde aquele agudo instante
em que tudo se faz irreal e eterno,
pouco importa se o céu ou o duro inferno,
posto que um nunca do outro está distante.
E assim é porque a mim tocou-me a sina
deste amor que me cega e me ilumina.
REFERÊNCIA: Ivan Junqueira em O Outro Lado. Poemas 1998-2006
COM TANTO ESPANTO
Estou aprendendo
A suportar a falta de sono de olhos bem abertos,
A não sucumbir à falta de fome e à falta de afeto,
A não resistir ao que em mim se mantém desperto,
Tanto quanto tenho andado insone
Estou aprendendo
A não fugir da dor que dilacera,
A não temer o tempo que leva até passar,
Pois ela passa!
E quando passa, ainda resto
Estou aprendendo
A esvanecer a imagem de tantas fotos,
A entrar em casa mesmo quando esta me parece um desconhecido deserto,
A fechar todas as minhas portas
Sem medo de me sentir trancada:
É o que quero
Estou aprendendo
A ouvir músicas queridas distorcendo as lembranças,
Substituindo as metáforas,
Sublimando a saudade,
E a falta da outra voz me acompanhando
Estou aprendendo
Que nada disso era sabido,
Mas sobremodo necessário
E bem por isto aprendo
Com tanto espanto
2 comentários:
"Perfeito é o vértice onde o engasto". Adoro isso!!! Esse Ivan Junqueira sabe das coisas. Engastar é algo divino e por que não dizer, MARAVILHOSO também!!!Viva o engastamento!!!! Engastemos todos, pois!!! Vou roubar esse poema pra mim.
Rsrsrs Cocci querida saiba que se esses poemas estão aqui são pra serem seus também!! Divirta-se!!
Bjs
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