
Alguns haikais de Paulo Leminski
rio do mistério
que seria de mim
se me levassem a sério?
tudo claro
ainda não era o dia
era apenas o raio
esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem
cortinas de seda
o vento entra
sem pedir licença
jardim da minha amiga
todo mundo feliz
até a formiga
não discuto
com o destino
o que pintar
eu assino.
amar é um elo
entre o azul
e o amarelo
a palmeira estremece
palmas pra ela
que ela merece
nada me demove
ainda vou ser o pai
dos irmaos Karamazov
na rua
sem resistir
me chamam
torno a existir
casa com cachorro brabo
meu anjo da guarda
abana o rabo- as folhas tantas
o outono
nem sabe a quantas - amei em cheio
meio amei-o
meio nao amei-o
pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando
abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno
- tudo dito,
nada feito,
fito e deito
- tarde de vento
até as árvores
querem vir pra dentro - nadando num mar de gente
deixei lá atrás
meu passo a frente - noite alta lua baixa
pergunte ao sapo
o que ele coaxa - acabou a farra
formigas mascam
restos da cigarra - relógio parado
o ouvido ouve
o tic tac passado - a estrela cadente
me caiu ainda quente
na palma da mão - de colchão em colchão
chego à conclusão
meu lar é no chão - meio dia três cores
eu disse vento
e caíram todas as flores
O haikai é um poema originário do Japão.
Como fazer haikai, de acordo com Paulo Leminski
- Você tem a fórmula do conteúdo
-Escolha temas simples: natureza, primavera, verão, outono, inverno;
- O primeiro verso expressa algo permanente, eterno
- O segundo, introduz uma novidade, um fenômeno;
- O terceiro e último, é a síntese;
http://www.revista.agulha.nom.br/pl.html#haicai
Nenhum comentário:
Postar um comentário