quinta-feira, 25 de junho de 2009

Poema Falado – Retrato do artista quando coisa

Vídeo produzido por Sílvio Benevides especialmente para o blog da Papillon.






RETRATO DO ARTISTA QUANDO COISA

Aprendo com abelhas do que com aeroplanos.
É um olhar para baixo que eu nasci tendo.
É um olhar para o ser menor, para o insignificante que eu nasci tendo.
O ser que na sociedade é chutado como uma barata – cresce de importância para o meu olho.
Ainda não entendi por que herdei esse olhar para baixo.
Sempre imagino que venha de ancestralidades machucadas.
Fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do chão – Antes que das coisas celestiais.
Pessoas pertencidas de abandono me comovem:
Tanto quanto as soberbas coisas ínfimas.

MANOEL DE BARROS. In: Retrato do artista quando coisa. Rio de janeiro: Record, 2001.

Nenhum comentário: