sexta-feira, 29 de março de 2013


Sete Poemas para homenagear Salvador




Sob o signo de Áries nasceu a cidade de São Salvador da Bahia. Sua fundação se deu pelo comando do português Tomé de Souza, primeiro Governador-Geral do Brasil, que aos 29 de março de 1549 aportou na antiga capitania do donatário Francisco Pereira Coutinho, devorado pelos indígenas da Ilha de Itaparica num ritual antropofágico. Salvador extrapolou os muros da antiga fortaleza que lhe deu origem para se esparramar por entre morros, vales e pradarias, fincando suas raízes num imenso e belo sítio. Ao longo da sua história, enfrentou a toda sorte de intempéries; das invasões estrangeiras às revoltas e rebeliões passageiras, passando por escandalosos descalabros político-administrativos, que lhe marcaram com profundas e horrendas cicatrizes. Ainda assim, sua beleza e seus encantos resistiram e chegaram aos nossos dias com alguma altivez. Não sabemos, porém, se ela resistirá a tanta estupidez. Mas como hoje é dia de comemorar, o Salvador na sola do pé traz o Poemaintitulado “Sete Poemas” (VII), da escritora soteropolitana Myriam Fraga, para homenagear os 464 anos de existência desta cidade tão progressista, moderna e contraditória que se chama SALVADOR, capital da Bahia. Boa áudio-leitura (por Silvio Benevides).

SETE POEMAS (VII)
Myriam Fraga
Caminhos, encruzilhadas,
Becos, vielas, quebradas,
Ladeiras que se despencam,
Caminhos que se bifurcam,
Beijo salobro das praias,
Beijo doce das nascentes,
Brejos, diques, atalaias...
Uma cidade é como gente
Que se alisa e maltrata,
Como uma fêmea deitada
Que o amante navega e sente...
Assim se fez de meu sangue
Esta cidade encantada,
Este burgo, esta alimária
Como uma fera empinada,
Esfinge que espia o Outro
Surgindo da encruzilhada...
Me devoras, te devoro,
No fim não restará nada.
Só a sombra na parede,
Somente o nó da laçada,
Ou melhor:
Resta o que resta,
A tua boca de brasa,
O sinal desta passagem
Como uma gesta tatuada.
Como um vendaval de açoite,
Vento sul de madrugada.
Resta a poesia nascendo
De tua língua danada, 
Resta o poema crescendo 
Como flor e como espada,
Resta o que resta, restolho,
Que de mim não restou nada
Além do verso e da mágoa.
 
Imagem: Nilton Souza