segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um cordel nada encantado

Uma vergonha histórica! É como podemos resumir esses dois mandatos do atual prefeito de Salvador, João Henrique. Em oito anos de governo a cidade mudou de razoável para muito ruim ou péssima. O transporte público é uma porcaria, as vias públicas uma lástima, saúde e educação um horror. Os versos “Triste Bahia”, escritos por Gregório de Matos no século XVII, parecem ter sido inspirados na atual gestão municipal soteropolitana. Vivemos tempos mui tristes e toda essa tristeza, desalento e indignação foram muito bem traduzidos pelo cordelista, natural de Santa Bárbara, Antonio Barreto na sua CARTA DE UM CORDELISTA BAIANO AO PREFEITO JOÃO HENRIQUE, abaixo reproduzida e fartamente divulgada no Facebook. Eis a carta:
 I 
Meu querido João Henrique
Prefeito de Salvador
Eu escrevo essa cartinha
Para traduzir o clamor
Que não é somente meu
Mas de todo o eleitor.
 II 
Não escrevo com rancor
Nem busco aqui confusão
Falo pela maioria
Da nossa população
Que quer ver nossa cidade
Em melhor situação. 
III 
Não vou aqui relatar
Tudo detalhadamente
Quero apenas atentar
Para o desmando presente
De coisas essenciais
Dessa cidade carente. 
IV 
Desde a primeira gestão
Que o senhor nos prometeu
Cuidar bem da nossa urbis
Mas parece que esqueceu
Pois já são quase seis anos
Porém nada floresceu.
V  No Brasil de Norte a Sul
E também no além mar
A imagem de Salvador
Começou a declinar
Por culpa da sua gestão
Que não pode piorar. 
VI 
O abandono é total
Da Ribeira a Itapuã
De Cajazeira a Paripe
Sob os olhos de Iansã
Parece até que o senhor
Está pra lá de Teerã! 
VII 
Acho que vossa excelência
Está dormindo demais
A cada dia que passa
Vem se mostrando incapaz.
E a querida Salvador
Vai ficando para trás! 
VIII 
A sua avaliação
É bastante negativa
Porque você colocou
Nossa cidade à deriva.
Dê no pé, desapareça
Levando sua comitiva. 
IX 
Falhas no transporte público
Os salários atrasados
Débito aos fornecedores
Os bairros abandonados
Buracos, lixo na rua
E os turistas assustados.
Aquele “velho metrô”
Aliás, digo atual,
Pelo andar da carruagem
É uma obra irreal
E agora representa
O seu grande inferno astral! 
XI 
Será que o senhor conhece
A Praça da Piedade?
Pois ali é o coração
Dos poetas, da cidade
Mas durante o seu governo
Tornou-se favelidade. 
XII 
O Jardim da Piedade
O antro da poesia
Transformou-se em favela
E agora é moradia
De pedintes e drogados
Seja noite ou luz do dia. 
XIII 
Não queira dizer que eu
Estou criando barulho
Perceba que o Pelourinho
Carlos Gomes, 2 de Julho
Campo Grande, Rua Chile
Parecem mais um entulho. 
XIV 
Vá visitar Nazaré,
Avenida Sete, Barra…
Veja de perto a desordem
Todo clima de algazarra.
Mas cuidado seo Prefeito
Ali o povo te agarra!
XV 
Procure fazer a hora
Não espere acontecer.
Mas o senhor é teimoso
Não dá o braço a torcer
Sabe que já fracassou
E não quer reconhecer. 
XVI 
Esse tal PDDU
Rima com desarmonia
Favorece aos empresários
Vai de encontro à ecologia
E o IPTU, prefeito,
Haja tanta carestia! 
XVII 
Essa troca de partido
Já virou foi brincadeira
E o senhor não se dá conta
Que já está na ribanceira
Pois devolva a prefeitura
E volte a morar em Feira. 
XVIII 
Cadê o trem do subúrbio,
Não vai mais funcionar?
O povo da suburbana
Não aguenta mais penar
Justamente o eleitor
Que ajudou você ganhar. 
XIX 
E a prestação de contas
O que foi que aconteceu?
Conte logo essa estória
O povo não esqueceu.
O dinheiro foi torrado
Ou o “gato” então comeu?
XX 
A SUCOM já não atende
Às queixas dos moradores
Que passam noites insones
Embaixo dos cobertores
A sofrer com o barulho
Dos barzinhos infratores. 
XXI 
Querido prefeito João
O senhor caiu no sono:
Salvador rima com lixo
Com sujeira e abandono
Tem cara de favelão
Parece terra sem dono. 
XXII 
O senhor é um sortudo
Conseguiu ser reeleito…
Tudo isso é brincadeira
Querido e nobre prefeito
O maluco aqui sou eu:
Um eleitor com despeito! 
XXIII 
O desgaste é tão visível
Que não dá para enganar.
Acho que o senhor precisa
Uma decisão tomar:
Entregar o cargo agora
Pra Luiza governar! 
XXIV 
Pois aqui eu me despeço
Do Astral Superior
Desejando paciência
Ao povo de Salvador:
O velho Tomé de Sousa
Com carinho e com amor! 
FIM                                                                                 
                                                                                              Postado Por  Salvador na sola do pé

domingo, 29 de janeiro de 2012

Poema Falado: POEMA EM LINHA RETA



Dizem que um poeta é universal quando ele ou ela consegue transpor os limites da sua individualidade, da sua gente, do seu espaço e do seu tempo. Se é assim, o Fernando Pessoa é um dos poetas mais universais da história da poesia. Seus versos falam de sentimentos particulares que são partilhados por muita gente de ontem, de hoje e, certamente, de amanhã também. Quando há muito li os versos do POEMA EM LINHA RETA, o Poema Falado deste mês, o primeiro de 2012, logo me identifiquei. Relendo-o agora vejo como ele é tão atual, nesses tempos em que todos buscam nada menos que a perfeição, querendo a todo custo ser (ou ao menos aparentar ser) sexualmente plenos, felizes, belos, fortes, destemidos, saudáveis, inteligentes e eternamente jovens. Em outras épocas me sentia um estranho estrangeiro nesse mundo de gente “tão perfeita”. Hoje, ao deparar-me com essas pessoas tenho “sido vil, literalmente vil, vil no sentido mesquinho e infame da vileza”. E é para homenagear mais uma vez o Fernando Pessoa na pessoa do Álvaro de Campos que o Poema Falado traz o POEMA EM LINHA RETA: “Nunca conheci quem tivesse levado porrada. / Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. // E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, / Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, / Indesculpavelmente sujo, / Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, / Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, / Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, / Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, / Que tenho sofrido enxovalhos e calado, / Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; / Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, / Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, / Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, / Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado / Para fora da possibilidade do soco; / Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, / Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. // Toda a gente que eu conheço e que fala comigo / Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, / Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida... // Quem me dera ouvir de alguém a voz humana / Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; / Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! / Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. / Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? / Ó príncipes, meus irmãos, // Arre, estou farto de semideuses! / Onde é que há gente no mundo? // Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? // Poderão as mulheres não os terem amado, / Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! / E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, / Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? / Eu, que venho sido vil, literalmente vil, / Vil no sentido mesquinho e infame da vileza”.Boa áudio-leitura!