quinta-feira, 26 de agosto de 2010


Metade
Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos
suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

Video de autor desconhecido.

domingo, 1 de agosto de 2010

Poema Falado - Depois do Filme


No panteão das antigas lendas gregas as deusas dançarinas, seguidoras de Vênus, receberam a alcunha de Graças. Consta que três elas eram: Aglaia, Tália e Eufrosina. A suavidade dos seus gestos, a leveza dos seus movimentos enchia de beleza, encantamento e alegria a alma de deuses e mortais. No panteão das minhas paixões, três são as graças: a Música, a Literatura e o Cinema. Do mesmo modo que as Cárites gregas, também estas, que dentro de mim habitam, inundam minha alma de beleza, encantamento e alegria, sobretudo, quando se encontram e, ao invés de três, tornam-se um único ser. Para celebrar esse encontro, o Poema Falado deste mês discorre com música e poesia toda a beleza, encantamento e alegria que o cinema é capaz de nos proporcionar. Com texto de Heitor Ferraz e música de Ennio Morricone, na voz graciosa da Dulce Pontes, este Poema Falado presta uma homenagem a filmes e artistas inesquecíveis. Boa leitura! (por Sílvio Benevides)