domingo, 29 de novembro de 2009

Colabaroção de Coccienelle


A MINHA AMANTE
(Judith Teixeira)

Dizem que eu tenho amores contigo!
Deixa-os dizer!…
Eles sabem lá o que há de sublime
Nos meus sonhos de prazer…
De madrugada, logo ao despertar,
Há quem me tenha ouvido gritar
Pelo teu nome…

Dizem
- e eu não protesto -
Que seja qual for o meu aspecto
tu estás
na minha fisionomia
e no meu gesto!

Dizem que eu me embriago toda em cores
Para te esquecer…
E que de noite pelos corredores
Quando vou passando para te ir buscar,
Levo risos de louca, no olhar!

Não entendem dos meus amores
contigo


- Não entendem deste luar de beijos…
- Há quem lhe chame a tara perversa,
Dum ser destrambelhado e sensual!
Chamam-te o génio do mal -
O meu castigo…
E eu em sombras alheio-me dispersa…
E ninguém sabe que é de ti que eu
vivo…


Que és tu que doiras ainda,
O meu castelo em ruína…
Que fazes da hora má, a hora linda
Dos meus sonhos voluptuosos -
Não faltes aos meus apelos dolorosos
- Adormenta esta dor que me domina!




SAUDADE
(Judidith Teixeira )

Segue-me noite e dia o teu desejo!...
Oiço a tua voz rúbida e cantante
Suplicar-me a carícia do meu beijo,
numa teima exigente e perturbante!

E o meu corpo vencido, dominado,
vai tombar doloroso, inconsciente,
sobre a lembrança morna do passado
- e fica-se a sonhar... perdidamente!

Colabaroção de Coccienelle

Pensionnaire

(Paul Verlaine)

L'une avait quinze ans, l'autre en avait seize;
Toutes deux dormaient dans la même chambre
C'était par un soir très lourd de septembre
Frêles, des yeux bleus, des rougeurs de fraise.

Chacune a quitté, pour se mettre à l'aise,
La fine chemise au frais parfum d'ambre,
La plus jeune étend les bras, et se cambre,
Et sa soeur, les mains sur ses seins, la baise,

Puis tombe à genoux, puis devient farouche
Et tumultueuse et folle, et sa bouche
Plonge sous l'or blond, dans les ombres grises;

Et l'enfant, pendant ce temps-là, recense
Sur ses doigts mignons des valses promises.
Et, rose, sourit avec innocence.



PENSIONISTAS
(Paul Verlaine – trad.: Carla Reis)

Uma tinha quinze anos, a outra dezesseis ;
As duas dormiam no mesmo quarto
Foi uma noite muito pesada de setembro
Frágil, de olhos azuis, as vezes vermelhos de morango.

Cada uma saiu, por se sentir à vontade,
A fina camisa ao fresco perfume de âmbar ,
A mais jovem estende os braços, debruça
E a irmã, as mãos sobre seus seios a beija.

Depois de cair de joelhos, então torna-se selvagem
e tumultuosa e louca, e sua boca,
mergulha sob o ouro loiro, nas sombras cinzas;

E a criança , durante esse tempo , identifica
sobre seus dedos queridos as valsas prometidas.
e rosa, sorri com inocência .

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Aprendizado e ensino no mundo contemporâneo.

Durante o IV Interculte – Encontro Interdisciplinar de Cultura, Tecnologias e Educação, evento acadêmico promovido pelo Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE) de Salvador (BA), o jornalista Gilberto Dimenstein falou para a Rádio JA sobre jornalismo, educação e novos métodos de aprendizado e ensino no mundo contemporâneo, marcado pelo informacionalismo.

Para Dimenstein uma das principais características do mundo atual é a geração de uma enorme quantidade de conhecimento em prazos cada vez mais curtos. Como as pessoas não foram treinadas para acompanhar todo esse movimento na mesma velocidade, passamos a vivenciar um mundo com um excesso de confusão, pois há muita informação sem que tenhamos capacidade para selecionar o que nos interessa de fato ou não. No que tange à educação, todo esse processo obriga o professor a rever o seu papel. Segundo ele, hoje, o profissional de educação não pode mais atuar como um transmissor de conteúdo, mas, sim, como um mestre que deve auxiliar o indivíduo a ter estrutura para selecionar as informações e conteúdos relevantes para o seu processo de formação/aprendizagem. Essa percepção sobre o papel do professor, embora atual, norteou os trabalhos do Anísio Teixeira, o baiano mais contemporâneo e inovador de todos os tempos, de acordo com Dimenstein, pois na visão deste educador, não se educa para se ter um bom desempenho escolar, mas, sim, para o desenvolvimento do intelecto e da capacidade de julgamento. Em outras palavras, educa-se para a vida. “Estudar pedagogia sem conhecer o Anísio Teixeira, é o mesmo que estudar física sem conhecer o Einstein ou biologia sem conhecer o Mendel, o Darwin”, disse o jornalista.

Sobre o papel da educação no desenvolvimento de uma nação Dimenstein foi categórico. Não há como construir um país crítico com uma população dotada de um baixo nível de raciocínio lógico abstrato. Segundo ele, com uma educação pública e privada deficitária, como é o caso da brasileira, com salas de aula lotadas, entre outros graves problemas, não pode haver distribuição de renda em níveis desejados, pessoas não se capacitam para ingressar em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e a população não se torna apta para analisar criticamente uma proposta de governo. “Não há nação independente com pessoas dependentes devido à ignorância do conhecimento”, enfatizou. Por tudo isso ele sustenta a idéia de que a luta por educação de qualidade é a nova campanha abolicionista brasileira. Na sua visão, o modelo atual de escola (pública e, também, privada) que se tem no Brasil é um sucesso “porque foi feito para não funcionar e não funciona” (por Sílvio Benevides).

A Rádio JA da UNIJORGE, sob a produção de Cleber Silva, Eliaquim Aciole e Renato Silva e orientação do Prof. Max Bittencourt, realizou entrevista com o jornalista Gilberto Dimenstein. Clique aqui para acessar a entrevista na íntegra.


Imagem: Gilberto Dimenstein (autoria não encontrada).

Postado por SB-SSA e permitido a Bienvenue-Ami postar.

http://salvadornasoladope.blogspot.com/

domingo, 1 de novembro de 2009

Poema Falado



Liberdade

Uma antiga propaganda de jeans dizia que liberdade é uma calça velha azul e desbotada que se deve usar do jeito que o indivíduo quiser. Essa idéia além de indicar que a liberdade não requer elucubrações sofisticadas para ser compreendida, indica também que ela significa uma possibilidade de se fazer aquilo que se quer conforme se escolha. Ser livre, portanto, consiste na possibilidade de escolha, que, uma vez feita, pode ser repetida sempre que se queira de acordo com a situação. O poeta Fernando Pessoa traduziu esse pensamento da seguinte maneira: “Ai que prazer não cumprir um dever. Ter um livro para ler e não o fazer! Ler é maçada. Estudar é nada. O sol doira sem literatura. O rio corre, bem ou mal, sem edição original. E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal, como tem tempo não tem pressa... Livros são papéis pintados com tinta. Estudar é uma coisa em que está indistinta a distinção entre nada e coisa nenhuma. Quanto é melhor, quando há bruma, esperar por D. Sebastião, quer venha ou não! Grande é a poesia, a bondade e as danças... Mas o melhor do mundo são as crianças, flores, música, o luar, e o sol, que peca só quando, em vez de criar, seca. O mais do que isto é Jesus Cristo, que não sabia nada de finanças nem consta que tivesse biblioteca...” LIBERDADE é o tema do poema falado deste mês. Boa Leitura!