domingo, 30 de agosto de 2009

Poema Falado: Filosofia do Gesto ou Pernambucobucolismo







Lembro-me bem do que escreveu Fernando Pessoa no seu Palavras do Pórtico. Disse ele: Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: “Navegar é preciso; viver não é preciso”*. Quero para mim o espírito [d]esta frase, transformada a forma para a casar como eu sou: Viver não é necessário; o que é necessário é criar. Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso. Só quero torná-la grande, ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo. Só quero torná-la de toda a humanidade; ainda que para isso tenha de a perder como minha. Cada vez mais assim penso. Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade. É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça. Quero para mim o espírito dessas palavras a fim de transformá-las em minhas e, desta forma, poder dizer: DESCOLAR-SE É PRECISO!

O Poema Falado deste mês discorre sobre o bucólico ato de descolar-se. Reúne quatro poemas: Filosofia do Gesto, de Mel de Carvalho, falado por Sílvio Benevides; Poema para Amsterdam, de Sérgio LDS; Lisboa, de Coimbra de Resende; Vielas de Alfama, belíssimo fado de Maximiano de Sousa e Arthur Ribeiro; e, por fim, Pernambucobucolismo, canção viandante composta por Marisa Monte e Rodrigo Campelo, interpretada pela própria Marisa Monte. Boa Leitura!







*NOTA: “Navigare necesse; vivere non est necesse”, frase atribuída a Pompeu (106-48 aC.), general romano, dita aos marinheiros que, amedrontados, recusavam viajar durante a guerra.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009


Canção do Amor-Perfeito

(Cecília Meireles)


O tempo seca a beleza.
seca o amor, seca as palavras.
Deixa tudo solto, leve,
desunido para sempre
como as areias nas águas.
O tempo seca a saudade,
seca as lembranças e as lágrimas.
Deixa algum retrato, apenas,
vagando seco e vazio
como estas conchas das praias.
O tempo seca o desejo
e suas velhas batalhas.
Seca o frágil arabesco,
vestígio do musgo humano,
na densa turfa mortuária.
Esperarei pelo tempo
com suas conquistas áridas.
Esperarei que te seque,
não na terra, Amor-Perfeito,
num tempo depois das almas.
________________________________________
Melhores Poemas, Global Editora, 1977 - SP, Brasil

ÚLTIMO POEMA DO MARINHEIRO

(Thiago de Mello)

O marinheiro encontrou o seu caminho no mar.
Mas uma noite, de repente,
o mar foi vazando, vazando,
até que secou completamente.

Seu barco, solitário
sobre o fundo do abismo,
torna-se uma coisa grotesca e sem sentido.

Estrangeiro entre os homens da terra,
caminha o marinheiro por estradas inúteis,
levando nos olhos um mistério verde
e na boca o amargor de tanto sal.

Contudo, nas noites de muito vento,
debruça-se na murada do tempo
e, enquanto espera o retorno do mar,
inaugura caminhos de cinza e de nada.

domingo, 16 de agosto de 2009

Colabaroção de Coccienelle



ELOGIO DO PECADO
(Bruna Lombardi)

Ela é uma mulher que goza
celestial sublime
isso a torna perigosa
e você não pode nada contra o crime
dela ser uma mulher que goza
você pode persegui-la, ameaçá-la
tachá-la, matá-la se quiser
retalhar seu corpo, deixá-lo exposto
pra servir de exemplo.
É inútil. Ela agora pode resistir
ao mais feroz dos tempos
à ira, ao pior julgamento
repara, ela renasce e brota
nova rosa
Atravessou a história
foi queimada viva, acusada
desceu ao fundo dos infernos
e já não teme nada
retorna inteira, maior, mais larga
absolutamente poderosa.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Parabéns,Doutor Silvio Benevides!



Parabéns meu grande AMIGO pelo sucesso alcançado!
Que honra em anunciar: Doutor Silvio Benevides.
Quantos caminhos percorridos para chegar a esse titulo, em?
Eu bem sei quantos foram os momentos de insônia, angustia, ansiedade e de muita elaboração que você viveu.
O importante é que você venceu!
Agora é só comemorar ou melhor comemorarmos.
Saiba que tenho muito orgulho de você e me emocionei vendo a sua defesa.Uma defesa cheia de conhecimento, reconhecimento, de humildade e de muita generosidade.
Méritos seus!
Parabéns!!! Parabéns!!! Parabéns!!!




Catarse
Fernanda Pittelkow

Me coloco pra fora
Me exponho
Me lamento toda hora
Me construo Desatino
Me destruo
Desabafo
Me escorro pelos olhos
Saio de mim para esquecer a tristeza
Lavo o rosto, o corpo,
e a alma!
Choro!

sábado, 8 de agosto de 2009

As aventuras de Cacá

Gente achei no YouTube algo que adorava e queria dividir com vocês.
Adorava esse desenho.


Esse episódio conta a história de uma erupção vulcânica que aconteceu na era em que Cacá vivia. (Caso alguns ainda não tenham percebido, As aventuras de Cacá acontecem numa época da pré-história, com direito a dinossauros e criaturas fantasiosas)

Esse episódio ensina e exercita importantes valores e virtudes no ser humano como o trabalho em equipe, paciência, compaixão etc.

As dificuldades com a falta de comida leva-nos a exercitar a imaginação. Como será que eles irão se alimentar agora? o que acontecerá?

É um excelente episódio que com certeza todos irão adorar.

Parte 1




Parte 2


O vestido
Adélia Prado


No armário do meu quarto escondo de tempo e traça meu vestido estampado em fundo preto.
É de seda macia desenhada em campânulas vermelhas à ponta de longas hastes delicadas.
Eu o quis com paixão e o vesti como um rito, meu vestido de amante.
Ficou meu cheiro nele, meu sonho, meu corpo ido.
É só tocá-lo, volatiza-se a memória guardada:
eu estou no cinema e deixo que segurem minha mão.
De tempo e traça meu vestido me guarda.




My blog award

O primeiro prêmio do blog!




Estou atrasada para agradecer! Mas antes tarde do que nunca, não é?
Às vezes nós encontramos pessoas que nos fazem sentir muito bem. Devido a isto, elas são muito singulares e inesquecíveis pessoas! Não importa o que essas pessoas usam para fazer nos sentir melhor ou onde eles vivem, se perto de nós ou no outro lado do mundo.Sua bondade as torna perto de nosso coração. É somente com o coração que pode ter uma razão. Afinal: “ o essencial é invisível para os olhos”.

O Bienvenue-Ami ganhou um prêmio muito especial: o I LOVE YOUR BLOG. Esse premeio chegou a partir da indicação de um outro blog o Salvador na sola do pé. E quero dividir com vocês que fazem desse blog um lugar ainda mais especial!


Amigo, muito obrigada por essa indicação e sei o quanto você gosta desse blog ou não o indicaria apenas por nossa amizade, não é mesmo! E por esta razão, você é um amigo ainda mais especial para mim. E isso me deixa muito feliz!
Tenho que dizer que esse blog ganha muito também com suas colaborações e o premeio também é seu!
Obrigada mais uma vez!!!

Agora, em função das regras do Lonely Friend tenho de nomear outros blogs que eu amo e que faz parte do meu mundo virtual. São blogs que visito muitas vezes em busca de conhecimento,leitura, cultura e por ter um ótimo conteúdo.

Eis aqui minhas nomeações:

Jornal de Poesia: http://www.revista.agulha.nom.br/feito.html
Aqui você encontra muito mais de não sei quantos mil poetas, contistas e críticos de literatura. Adoro fazer minhas consultas como sou fã desse espaço cultural.


Mulheres que amo: http://zezepina.utopia.com.br/poesia/autoras.html
Um blog simples e que tem como proposta revelar o mundo feminino ao mostrar poemas criados apenas por mulheres. Aqui descobrir muitas mulheres interessantes e que também divulgo no meu blog.

O cantinho de Coccinelle: http://www.jesuiscoccinelle.blogspot.com/
E como o proprio blog diz: “esse cantinho foi concebido com o propósito de fazer ecoar os acordes dissonantes e de contemplar o BELO nas suas mais variadas formas de expressão.” Estou sempre bebendo da fonte desse cantinho e fazendo minhas colaborações quando possível.

Haikai





Alguns haikais de Paulo Leminski



  • rio do mistério
    que seria de mim
    se me levassem a sério?

  • tudo claro
    ainda não era o dia
    era apenas o raio

  • esta vida é uma viagem
    pena eu estar
    só de passagem


  • cortinas de seda
    o vento entra
    sem pedir licença

  • jardim da minha amiga
    todo mundo feliz
    até a formiga


  • não discuto
    com o destino
    o que pintar
    eu assino.

  • amar é um elo
    entre o azul
    e o amarelo

  • a palmeira estremece
    palmas pra ela
    que ela merece

  • nada me demove
    ainda vou ser o pai
    dos irmaos Karamazov

  • na rua
    sem resistir
    me chamam
    torno a existir

  • casa com cachorro brabo
    meu anjo da guarda
    abana o rabo

  • as folhas tantas
    o outono
    nem sabe a quantas

  • amei em cheio
    meio amei-o
    meio nao amei-o

  • pelos caminhos que ando
    um dia vai ser
    só não sei quando

  • abrindo um antigo caderno
    foi que eu descobri
    antigamente eu era eterno
  • tudo dito,
    nada feito,
    fito e deito

  • tarde de vento
    até as árvores
    querem vir pra dentro

  • nadando num mar de gente
    deixei lá atrás
    meu passo a frente

  • noite alta lua baixa
    pergunte ao sapo
    o que ele coaxa

  • acabou a farra
    formigas mascam
    restos da cigarra

  • relógio parado
    o ouvido ouve
    o tic tac passado

  • a estrela cadente
    me caiu ainda quente
    na palma da mão

  • de colchão em colchão
    chego à conclusão
    meu lar é no chão

  • meio dia três cores
    eu disse vento
    e caíram todas as flores






O haikai é um poema originário do Japão.
Como fazer haikai, de acordo com Paulo Leminski
- Você tem a fórmula do conteúdo
-Escolha temas simples: natureza, primavera, verão, outono, inverno;
- O primeiro verso expressa algo permanente, eterno
- O segundo, introduz uma novidade, um fenômeno;
- O terceiro e último, é a síntese;

http://www.revista.agulha.nom.br/pl.html#haicai

domingo, 2 de agosto de 2009

Poema Falado.



Um poema é mais que um poema. Um poema é a senha que nos permite acessar o recôndito das almas, seja a alma de quem o escreve, seja a alma de quem o aprecia. Os poemas nos revelam. Vamos, pois, revelarmo-nos através dos poemas falados que doravante o Bienvenue-Ami outros dois blogs, O cantinho de Coccinelle e o Salvador na sola do pé, apresentarão sempre no primeiro domingo de cada mês. Pretendemos formar uma rede tecida por versos e sons magníficos, afinal, como disse o Carlos Drummond de Andrade, “uma pessoa que tem hábitos intelectuais ou artísticos, uma pessoa que gosta de ler nunca está sozinha. Ela terá sempre uma companhia: a companhia imensa de todos os artistas, todos os escritores que ela ama, ao longo dos séculos”. Se quiser fazer parte dessa rede é só entrar em contato. O primeiro poema da série que hoje se inaugura é o Smile, letra composta por John Turner e Geoffrey Parsons para a música do Charles Chaplin. No Brasil ela foi lindamente traduzida por João de Barro, o Braguinha, nome fundamental da música brasileira. É esta tradução que aparece no vídeo abaixo. Boa leitura!



SORRI (SMILE)











Sorri quando a dor te torturar

E a saudade atormentar

Os teus dias tristonhos vazios



Sorri quando tudo terminar

Quando nada mais restar

Do teu sonho encantador



Sorri quando o sol perder a luz

E sentires uma cruz

Nos teus ombros cansados doridos



Sorri vai mentindo a tua dor

E ao notar que tu sorris

Todo mundo irá supor
Que és feliz!