sábado, 31 de janeiro de 2009

Simplesmente Mario Quintana!!!

Oi, Belzinha!!
Agora não tenho dívidas com você e muito menos com Mario Quintana!!





SIMULTANEIDADE

- Eu amo o mundo! Eu detesto o mundo! Eu creio em Deus! Deus é um absurdo! Eu vou me matar! Eu quero viver! - Você é louco? - Não, sou poeta.
Mario Quintana - A vaca e o hipogrifo

SE EU FOSSE UM PADRE

Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,

não falaria em Deus nem no Pecado

- muito menos no Anjo Rebelado

e os encantos das suas seduções,
não citaria santos e profetas:

nada das suas celestiais promessa

sou das suas terríveis maldições...

Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,
Rezaria seus versos, os mais belos,

desses que desde a infância me embalaram

e quem me dera que alguns fossem meus!
Porque a poesia purifica a alma...

a um belo poema

- ainda que de Deus se aparte -

um belo poema sempre leva a Deus!
Mario Quintana

CARTAZ PARA UMA FEIRA DO LIVRO

Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não lêem.
Mario Quintana (Caderno H)



http://www.fabiorocha.com.br/mario.htm

Podemos ter tempestades com final feliz!!!Podemos, chorar e depois cantar, rir ou simplesmente viver!! Vamos cantar na chuva?Assistir?Rir?!Ler?Vamos!



Singin' In The Rain
Gene Kelly
Composição: Indisponível
I'm singing in the rain
Just singin' in the rain
What a glorious feeling
I'm happy again
I'm laughing at clouds
So dark up above
The sun's in my heart
And I'm ready for love
Let the stormy clouds chase
Everyone from the place
Come on with the rain
I have a smile on my face
I walk down the lane
With a happy refrain
Just Singin', singin' in the rain
Dancing in the rain
I'm happy again
I'm singin' and dancin' in the rain
I'm dancin' and singin' in the rain






http://www.youtube.com/watch?v=6mDTn-QvO9I&feature=related ( A cena sem a chuva ....vamos rirrrrrrrkkk)


Tradução:




Cantando na Chuva

Eu estou cantando na chuva
Apenas cantando na chuva
Que sentimento maravilhoso
Estou feliz novamente
Estou sorrindo nas nuvens
Tão escuro, bem acima
O sol está em meu coração
Estou pronto para o amor
Deixe as nuvens perseguirem
Todos daqui
Vamos com a chuva
Tenho um sorriso em meu rosto
Eu passeio rua abaixo
Com um refrão feliz
Apenas cantando, cantando na chuva.
Dançando na chuva
Eu estou feliz novamente
Estou cantando e dançando na chuva.
















Rosas
(Ana Caroliana)

Você pode me ver do jeito que quiser
Eu não vou fazer esforço pra te contrariar
De tantas mil maneiras que eu posso ser
Estou certa que uma delas vai te agradar

Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés
E não faço outra coisa do que me doar
Se causei alguma dor não foi por querer
Nunca tive a intenção de te machucar

Porque eu gosto é de rosas e rosas e rosas
Acompanhadas de um bilhete me deixam nervosa
Toda mulher gosta de rosas e rosas e rosas
Muitas vezes são vermelhas mas sempre são rosas

Se o teu santo por acaso não bater com o meu
Eu retomo o meu caminho e nada a declarar
Meia culpa cada um que vá cuidar do seu
Se for só um arranhão não vou nem soprar

Porque eu sou feita pro amor da cabeça aos pés
E não faço outra coisa do que me doar
Se causei alguma dor não foi por querer
Nunca tive a intenção de te machucar


Um edifício no meio do mundo
(Ana Carolina)

Os meus olhos cheios dágua
Seu mar vazio
Qual é o fio que nos une e nos separa?

Eu quero seu sorriso
No correr da minha hora
E não falta nada pra gente ser feliz agora

Só por você eu dei até o que eu não tive
Há tantos que vivem, sem viver um grande amor
Eu que sonhei por tanto tempo em ser livre
Me prenda em seus braços
É o que eu te peço

Somos um barco no meio da chuva
Um edifício no meio do mundo
Fortes e unidos como a imensidão
Num passeio no meio da rua
Vamos dias e noites afora
Agora podemos ver na escuridão

Só por você eu dei até o que eu não tive
Há tantos que vivem, sem viver um grande amor
Eu que sonhei por tanto tempo em ser livre
Me prenda em seus braços
É o que eu te peço

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Colaboração de Bel.




VOCÊ ENGOLE BORBOLETAS
EU TENHO O SOL NA BARRIGA

Você engole borboletas
eu tenho o sol na barriga
Você sempre anda de óculos
eu leio coisas antigas

Você vara a noite
eu desenho cataventos
Você gosta de ficção
eu tenho outros inventos

Você anda desligado
e eu busco perspectivas
Você me conta seus sonhos
e me ri e me cativa

Eu tenho medo da noite
Você ama a solidão
o meu amor se reflete
nas pupilas dos olhos de um cão

Você teoriza a matéria
e eu adoro hidrantes
Você quer a liberdade
e eu só vivo o instante

A gente faz uma viagem
e vê estrelas cadentes
e eu sonho um mar onde nado
e me afundo contra a corrente

Você geme e se revolta
e eu penso no seu beijo
e enquanto você conversa
me dói no corpo o desejo

me arde o corpo o desejo
eu me espreguiço me espicho
e me chego e te provoco
meio anjo meio bicho

Você me conta um segredo
eu te mostro um encanto
enquanto você toca flauta
desafinada eu canto

Você absorve a paisagem
eu procuro a maravilha
Você deixa alguns vestígios
e eu vou seguindo a trilha

Você fala em liberdade
e eu me prendo no seu traço
você é abstrato divaga
eu te olho e te embaraço

Ando na rua devagar
Você corre na avenida
Você tem melancolia
eu tenho medo da vida

Você fala ao telefone
cercado dos seus amigos
eu passo os dias muito só
e só entendo depois que digo

De repente vem o encontro
sem que a gente entenda o nexo
eu te vejo e me compreendo
e me vejo em teu reflexo

Eu te transmito fluidos
de uma forte ligação
e recebo uma corrente
quando pego na tua mão

Você tem um magnetismo
eu sou dotada à magia
nossas auras se atraem
por uma questão de energia

Você cospe margaridas
tem o mundo nas entranhas
eu fico horas olhando
o orvalho na teia de aranha

E a gente se precisa
como a um aditivo
numa coisa estranha a nós
sem razão e sem motivo

São coisas transcendentais
é inútil que eu lhe diga
Você engole borboletas
eu tenho o sol na barriga.

REFERÊNCIA: Bruna Lombardi em NO RITMO DESSA FESTA



Do Viver

Urge viver. Minutos audaciosos
Armam cilada aos passos repetidos.
Qualquer coisa acontece nestes idos
De tempo estranho, e nós, seres porosos,

De argila e sangue, tristes e jocosos,
Com lágrimas e risos ressentidos,
Sacudimos os guizos comovidos
Como sinal de luz sobre danosos

Desertos de aquiescência e de rotina.
Urge viver. O tempo nos apela
No fim de cada rua. Em cada esquina

Há um encontro fatal, o gesto incrível
Do pintor produzindo em nossa tela,
Algo de cotidiano e de terrível.


REFERÊNCIA: Paulo Bomfim em LIVRO DE SONETOS DE 2006



EU TE AMO TANTO

Eu te amo tanto que não pode o peito
conter dentro de si amor tão vasto.
E te amo há tanto que do amor me basto,
sem fêmea alguma que arda no meu leito
ou lembrança que ali sirva de pasto
às larvas de um desejo satisfeito
e que, farto de si, seja perfeito,
como perfeito é o vértice onde o engasto.
Eu te amo desde aquele agudo instante
em que tudo se faz irreal e eterno,
pouco importa se o céu ou o duro inferno,
posto que um nunca do outro está distante.
E assim é porque a mim tocou-me a sina
deste amor que me cega e me ilumina.

REFERÊNCIA: Ivan Junqueira em O Outro Lado. Poemas 1998-2006


COM TANTO ESPANTO

Estou aprendendo

A suportar a falta de sono de olhos bem abertos,

A não sucumbir à falta de fome e à falta de afeto,

A não resistir ao que em mim se mantém desperto,

Tanto quanto tenho andado insone


Estou aprendendo

A não fugir da dor que dilacera,

A não temer o tempo que leva até passar,

Pois ela passa!

E quando passa, ainda resto



Estou aprendendo

A esvanecer a imagem de tantas fotos,

A entrar em casa mesmo quando esta me parece um desconhecido deserto,

A fechar todas as minhas portas

Sem medo de me sentir trancada:

É o que quero



Estou aprendendo

A ouvir músicas queridas distorcendo as lembranças,

Substituindo as metáforas,

Sublimando a saudade,

E a falta da outra voz me acompanhando



Estou aprendendo

Que nada disso era sabido,

Mas sobremodo necessário

E bem por isto aprendo

Com tanto espanto




REFERÊNCIA: Marina Porteclis em http://www.marinaporteclis.blogspot.com/

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Muito EROS! Dedicado a uma amiga muito amada.




"Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram." (Drummond)

Antes vamos consultar nossa wikipédia e saber qual a definição para Amor e Lascívia:
A palavra amor (do latim amor) presta-se a múltiplos significados na língua portuguesa. Pode significar afeição, compaixão, misericórdia, ou ainda, inclinação, atração, apetite, paixão, querer bem, satisfação, conquista, desejo, libido, etc. O conceito mais popular de amor envolve, de modo geral, a formação de um vínculo emocional com alguém, ou com algum objeto que seja capaz de receber este comportamento amoroso e alimentar as estimulações sensoriais e psicológicas necessárias para a sua manutenção e motivação.

A palavra Lascívia(do grego)aselgeia que significa licenciosidade sensualidade exagerada.
Definição de Lascívia no Aurélio:
Sensual, libidinoso, lúbrico; desregrado; luxúria.
Luxúria: Dissolução, corrução, libertinagem, Incontinência.



Amor X Lascívia





Objeto de Amar
(Adélia Prado)
De tal ordem é e tão precioso
o que devo dizer-lhes
que não posso guardá-lo
sem que me oprima a sensação de um roubo:
cu é lindo!
Fazei o que puderdes com esta dádiva.
Quanto a mim dou graças
pelo que agora sei
e, mais que perdôo, eu amo.

As Sem-Razões do Amor
(Carlos Drummond de Andrade)
Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo Amor é estado de graça e com amor não se paga.
Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Sugar e ser sugado pelo amor
(Carlos Drummond de Andrade )

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um o gozo pleno
Que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusãoo lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.

A lingua que Lambe
(Carlos Drummond de Andrade )

A língua lambe as pétalas vermelhas
da rosa pluriaberta;
a língua lavracerto oculto botão, e vai tecendo
lépidas variações de leves ritmos.
E lambe, lambilonga, lambilenta,
a licorina gruta cabeluda,
e, quanto mais lambente, mais ativa,
atinge o céu do céu, entre gemidos,
entre gritos, balidos e rugidos
de leões na floresta, enfurecidos.

As mulheres gulosas
(Carlos Drummond de Andrade)
As mulheres gulosas
que chupam picolé
— diz um sábio que sabe —
são mulheres carentese o chupam lentamente
qual se vara chupassem,
e ao chupá-lo já sabem
que presto se desfaz
na falácia do gozoo picolé fuginte
como se esfaz na mente
o imaginário pênis.
Sob o chuveiro de amar
(Carlos Drummond de Andrade)

Sob o chuveiro amar, sabão e beijos,
ou na banheira amar, de água vestidos,
amor escorregante, foge, prende-se,
torna a fugir, água nos olhos, bocas,
dança, navegação, mergulho, chuva,
essa espuma nos ventres, a brancura
triangular do sexo - é água, esperma,
é amor se esvaindo, ou
nos tornamos fontes?

sábado, 24 de janeiro de 2009

Sampa(Caetano Veloso)






Alguma coisa acontece no meu coração


Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João


É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi


Da dura poesia concreta de tuas esquinas


Da deselegância discreta de tuas meninas


Ainda não havia para mim Rita Lee


A tua mais completa tradução


Alguma coisa acontece no meu coração


Que só quando cruza a Ipiranga e a avenida São João


Quando eu te encarei frente a frente não vi o meu rosto


Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto


É que Narciso acha feio o que não é espelho


E à mente apavora o que ainda não é mesmo velho


Nada do que não era antes quando não somos mutantes


E foste um difícil começoAfasto o que não conheço


E quem vende outro sonho feliz de cidade


Aprende depressa a chamar-te de realidade


Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso


Do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas


Da força da grana que ergue e destrói coisas belas


Da feia fumaça que sobe, apagando as estrelas


Eu vejo surgir teus poetas de campos, espaços


Tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva


Pan-Américas de Áfricas utópicas, túmulo do samba


Mais possível novo quilombo de Zumbi


E os novos baianos passeiam na tua garoa


E novos baianos te podem curtir numa boa



Colaboração de Bel dedicada a São Paulo.


São Paulo comemora os 454 anos de sua fundação, em 25/01.


Parabéns a você Bel e todos os paulistanos, baianos, paraibanos, japoneses, italianos, portugueses etc. Ou seja, PARABÉNS a todas essas misturas de naturalidades e nascionalidades que fazem de São Paulo essa cidade de Brasil e de Mundo!! Viva a São Paulo!!!





INSPIRAÇÃO

São Paulo! comoção de minha vida...
Os meus amores são flores feitas de original...
Arlequinal!...Traje de losangos...Cinza e ouro...
Luz e bruma...Forno e inverno morno...
Elegâncias sutis sem escândalos, sem ciúmes...
Perfumes de Paris... Arys!
Bofetadas líricas no Trianon... Algodoal!...

São Paulo! comoção de minha vida...
Galicismo a berrar nos desertos da América!

REFERÊNCIA: Mário de Andrade em DE PAULICEIA DESVAIRADA de


Quando eu morrer

Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade
Saudade.

Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.

No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
O meu coração vivo e um defunto
Bem juntos.

Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.

O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...

Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...

As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram ,
As tripas atiram pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.

Referência: Mario de Andrade em Lira Paulistana de

domingo, 18 de janeiro de 2009

Amanhecimento



Amanhecimento
(Elisa Lucinda)


De tanta noite que dormi contigono

sono acordado dos amores

de tudo que desembocamos em amanhecimento

a aurora acabou por virar processo.


Mesmo agora


quando nossos poentes se acumulam

quando nossos destinos se torturam

no acaso ocaso das escolhasas

ternas folhas roçama

dura parede.


nossa sede se esconde

atrás do tronco da árvoree

geme muda de modo asó nós ouvirmos.


Vai assim seguindo o desfile das tentativas de não

so pio de todas as asneirastodas as besteiras se acumulam em vão ao pé da montanha

para um dia partirem em revoada.


Ainda que nos anoiteça

tem manhã nessa invernada

Violões, canções, invenções de alvorada...Ninguém repara,

nossa noite está acostumada.


Colabaroção de Coccienelle


Balada do Louco
(Arnaldo Baptista / Rita Lee)

Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz

Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu

Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz

Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz

Colaboração de Bel.


XXXII


Era um momento sem cor
pequeno que dava dó.
Corria rapidamente
para esconder-se na noite
possuir um manto de estrelas
e não ser tão triste e só.

De repente, não sei como,
nos encontramos no nada.
Tranqüilo, calmo, tão sério
você parecia distante.
Não sabia, e eu também não
o que traria a alvorada.

Havia tanto a dizer
- nem foi preciso falar.
Quem marcou o nosso encontro?
Era dia de Iemanjá...
Eu quero dizer seu nome
mas acho melhor calar.



XXVII

Eu te amei tão fácil, simplesmente
como se tivesses nascido para mim.
Sem saber, sem perguntar, sem querer nada
e sem imaginar porque estava agindo assim.

O mar silenciou o tumulto
parou o tempo de repente.
Céu e terra se encontraram
ficou tudo diferente.

Não houve prece ou renúncia
injustiça ou covardia.
Um só beijo, um só abraço
e um passado em agonia.

Abriu-se novo horizonte
colorindo nossa estrada.
Construímos nosso mundo
e não queremos mais nada.

REFERÊNCIA: DINAH NASCIMENTO EM MINHA PEQUENA HORA GRANDE DE 1976

AUSÊNCIA

Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são docesPorque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vidaE eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminadoQuero só que surjas em mim como a fé nos desesperadosPara que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoadaQue ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra faceTeus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugadaMas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noitePorque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosaPorque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaçoE eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciososMas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partirE todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelasSerão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.

Referência: Vinícius de Moraes em Nova Antologia Poética de 2003.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Colabaroção de Coccienelle





P A I e M Ã E
(Gilberto Gil)

Eu passei muito tempo
aprendendo a beijar
outros homens
como beijo meu pai
eu passei muito tempo
pra saber que a mulher
que eu amei, que amo
e que amarei
será sempre a mulher
como é minha mãe
como é minha mãe
como vão seus temores
meu pai, como vai?
diga a ele que não
se aborreça comigo
quando me vir beijar
outro homem qualquer
diga a ele que eu
quando beijo um amigo
estou certo de ser alguém
como ele é
alguém com sua força
pra me proteger
alguém com seu carinho
pra me confortar
alguém com olhos
e coração bem abertos
pra me compreender.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Colaboração de Bel.





XIII

É tempo para dizer
Se prefiro o teu amor
Àqueles, aos doces ares
Da minha campina em flor.
Tu que projetas e inventas
Estruturas ascendentes
E sonhas com superfícies
Além deste continente,
Tu que conheces melhor
As coisas do querer bem
(Porque até agora te quis
E antes não quis ninguém)
Tu, bem o sei, me pressentes.
E mais ainda, me vês
Tão perto do querer ser
Deste amor sempre contente.
Ah, descantares, lamentos,
As leves coisas do tempo
Têm seu tempo e seus altares.
É tempo para escolher
O anoitecer nas planuras
E o contemplar luaceiros
E é tempo para calar
A estória dos meus roteiros.
Paisagem, tu me alimentas
De verde, de sol, de amor.
E numa tarde tranqüila,
Nos longes, seja onde for
Lembra-te um pouco de mim:
Que eu morra olhando as alturas.
E que a chuva no meu rosto
Faça crescer tenro caule
De flor. (Ainda que obscura)

REFERÊNCIA: Hilda Hist em Do Amor. São Paulo, Edith Arnhold/Massao Ohno Editor, 1999

TEMA E VARIAÇÕES

Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.
Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
O de ter sonhado
Que estava sonhando.
Sonhei ter sonhado...
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado
Estar com você.
Estar? Ter estado,
Que é tempo passado.
Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente,
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.
REFERÊNCIA: Manuel Bandeira em Opus 10 de 1952 hoje integrado a obra Estrela da Vida Inteira.


Soneto

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se a arder no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.
Pobre, no bem como no mal padeces;
E rolando num vórtice insano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.
Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas com as virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:
E no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.

REFERÊNCIA: OLAVO BILAC em Poesias Olavo Bilac da Virtual Books www.terra.com.br/virtualbooks

sábado, 3 de janeiro de 2009

Pra me conquistar...





Pra me conquistar...
(Martha Medeiros)

pra me conquistar
basta dizer tudo aquilo
que nunca ouvi de ninguém
vestir como homem e não como gay
me tocar sem medo, sem segredo
entrar e sair da rotina sem que eu note
me levar para lugares exóticose lugares comuns
saber ficar em silêncio e assim me dizer tudo
gostar de rock como eu gostoe de coisas que eu não gosto
compreender a vida como é
e buscar o outro lado
saber a hora exata de ficare ir embora
mas não vá


Poesia Reunida, L&PM Editores, 1999 - Porto Alegre, Brasil


quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Colaboração de Bel!!









Canção da escuta

O sonho na prateleira
me olha com seu ar
de boneco quebrado.
Passo diante dele muitas vezes
e sorrimos um para o outro,
cúmplices de nossos desastres cotidianos,
Mas quando o pego no colo
(como às bonecas tão antigamente)
para avaliar se tem conserto
ou se ficará para sempre como está,
sinto sem estranheza
que dentro dele ainda bate
um pequeno tambor obstinado
e marca - timidamente -
um doce ritmo nos meus passos.



Canção do amor sereno

Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto
Que decretaram minha trégua , e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.


Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.


Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.


Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina.


Referência: Lya Luft em Secreta Mirada de 1997