sábado, 29 de novembro de 2008

Para você pessoa!!! Thiago de Mello




Poema perto do fim


A morte é indolor.

O que dói nela é o nada que a vida faz do amor.

Sopro a flauta encantada e não dá nenhum som.

Levo uma pena leve de não ter sido bom.

E no coração, neve.





Ninguém me habita


Ninguém me habita. A não ser

o milagre da matéria

que me faz capaz de amor,

e o mistério da memória

que urde o tempo em meus neurônios,

para que eu, vivendo agora,

possa me rever no outrora.

Ninguém me habita. Sozinho

resvalo pelos declives

onde me esperam, me chamam

(meu ser me diz se as atendo)

feiúras que me fascinam,

belezas que me endoidecem.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Bel, Colaboradora em férias e colaborando!!! Boas férias Belzinha!!




A Hora do Cansaço



As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poderde respirar a eternidade.


Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.


Do sonho de eterno fica esse gosto acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.



REFERÊNCIA: Carlos Drummond de Andrade em Corpo de 1984

Contribuição de Aleph.





Amar


Que pode uma criatura senão;
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e mal
amar,amar,
desamar,amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?


Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar tambem, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisao de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inospito, o áspero,um vaso sem flor,
um chao de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas perfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidao,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.


Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implicita, e o beijo tácito, e a sede infinita.



Sobre o poema de Drummond, a liberdade poetica foi demais, sorry...conseguiresgatá-lo na integra, foi publicado em Claro enigma, econsta da Seleta em Prosa e Verso p.163, 1973. Record



O que lembra Cecilia,

"Pus meus sonhos num barquinho,
e meu barquinho em cima do mar
abri o mar com as maos,
para o meu barquinho navegar..."



Fico devendo Cecilia...

domingo, 23 de novembro de 2008

Contribuição de Aleph


Leitura em Braille


É estranho escrever um poema, sem que meus dedos reconheçam o traçado das letras, sem que minhas mãos não se sujem, com a tinta queteima em sair da caneta. É estranho escrever um poema, sem que estas letras, apesar declaras, denunciem que não são as minhas próprias letras que, nomínimo, agora estariam trêmulas, quase como as de uma criança.
Assim é estranho também, quando percorro com meus dedos o seucorpo. Seu corpo duro, seu corpo áspero, o seu queijo quadrado, seuslábios grossos, os pêlos em seu peito, seguindo até sua virilha, enela encontrando o gozo, um gozo sim, porque não dizer, mas de gostoamargo, gosto forte, um gozo que sempre me deixa mais só, ao final damadrugada, mesmo estando ali, deitada ao seu lado, colada à sua pele.
Agora, percorrendo com as pontas destes meus mesmos dedos, commeus olhos fechados, os longos fios que descem em seu rosto, marcandoseu testa, tocando a sua pele macia, cheirando a orvalho... e com otoque dos meus dedos reconhecendo seus seios, passo a ler o seu corpopelas minhas mãos, pelos meus lábios, como se seu corpo fosse umaescrita em Braille.
Ah! Como é fácil e familiar esta leitura... eu chego a metocar ao te tocar, tamanha é a cumplicidade dos nosso corpos, tamanhaé a união de nossa pele. Da suavidade de suas formas, ao final donosso gozo, o sentimento é um estado de "sollitude", de comunicaçãonão verbal, de cumplicidade.
Do toque dos seus lábios, ao encontro de nossos ventres, tudoé feroz e familiar, num cavalgar de desejos.
São duas escritas, duas leituras, feitas pelos mesmos dedos,pelas minhas mesmas mãos.
Mas quando passamos da leitura em Braille de nossos espíritos,para a escrita de nossos amores, tudo fica borrado. De difícilentendimento.
Se da leitura em Braille do seu corpo eu chego à minha alma,da convivência diária, áspera, do dia- a- dia, tudo se perde.
Eu me perco.
Este é o meu meio do caminho, sagitarianamente como sou.
Estou continuando a escrever, para me reconhecer em Braillequem sou eu. Confusa, atrapalhada, uma mulher que se vê e se querdiante do espelho.
Mas volto à repetir, esta metade do caminho não percorrido,do desejo que é feminino dói. É solitária.


Texto de Aleph.

Colabaroção de Coccienelle




Segue abaixo um conto retirado do livro CUENTOS PARA PENSAR, do escritor-psicanalista argentino Jorge Bucay. Esse é o meu conto preferido, o que mais me emociona. Espero que apreciem.


O BUSCADOR


Esta é a história de um homem que poderia ser chamado de Buscador. Um buscador é alguém que busca, não necessariamente alguém que encontra. Tampouco é alguém que sabe o que está procurando. É simplesmente alguém cuja vida é uma eterna busca.


Certo dia, o buscador sentiu que deveria ir para o povoado de Kammir. Ele havia aprendido a ouvir sua intuição. Assim, deixou tudo e partiu.


Depois de dois dias trilhando caminhos poeirentos, ele avistou Kammir, ao longe. Um pouco antes de chegar ao povoado, uma colina à sua direita lhe chamou a atenção. Estava recoberta por um verde maravilhoso e havia muitas árvores, pássaros e flores encantadoras; era rodeada por uma espécie de cerca pequena de madeira lustrada. Uma porta de bronze cerrava a entrada. Prontamente, esqueceu o povoado e sucumbiu perante a tentação de descansar por um momento naquele lugar.


O buscador atravessou o portão e começou a caminhar lentamente entre as pedras brancas que estavam aleatoriamente dispostas entre as árvores. Deixou seus olhos pousarem como mariposas em cada detalhe daquele paraíso.


Seus olhos eram olhos de um buscador e talvez por isso descobriram, sobre uma das pedras, a seguinte inscrição:


ABDUL TAREG, viveu 8 anos, 6 meses, 2 semanas e 3 dias.


Surpreendeu-se ao se dar conta de que aquela pedra não era uma pedra qualquer, mas sim uma lápide. Sentiu pena ao pensar que um garoto de tão pouca idade estava enterrado naquele lugar. Observando ao seu redor o buscador se deu conta de que a pedra ao lado também tinha uma inscrição que dizia:



YAMIR KALIB, viveu 5 anos, 8 meses e 3 semanas.



O buscador se sentiu terrivelmente comovido. Aquele lugar tão bonito era um cemitério e sob cada pedra havia uma tumba. Uma por uma leu as lápides. Todas tinham inscrições similares. Um nome e o tempo de vida exato do falecido. Para seu espanto, a pessoa mais velha ali enterrada tinha pouco mais de onze anos. Tomado por uma grande dor, sentou-se e pôs-se a chorar.


O administrador do cemitério que por ali passava, aproximou-se. Vendo-o chorar, perguntou-lhe se chorava por algum parente.


– Não! Nenhum parente, disse o buscador. O que aconteceu a esse povo? Que coisa terrível se abateu sobre esta cidade? Por que tantas crianças mortas enterradas neste lugar? Que horrível maldição pesa sobre esse povo que o obrigou a construir um cemitério só para crianças?


O administrador do cemitério sorriu e disse:


– Calma. Não existe maldição nenhuma. Acontece que aqui temos um velho costume. Quando um jovem completa quinze anos, seus pais o presenteiam com uma caderneta, como esta que trago pendurada ao pescoço. É uma tradição entre nós que a partir daí, cada vez que desfrutamos intensamente de algo, abrimos a caderneta e anotamos na margem esquerda o que foi desfrutado; na margem direita, quanto tempo durou o gozo que tal desfrute proporcionou. Conheceu uma garota e se apaixonou por ela. Quanto tempo durou essa paixão e o prazer em conhecê-la? A emoção do primeiro beijo. Quanto durou? Um minuto e meio? Dois dias? Uma semana? E a gravidez ou o nascimento do primeiro filho? E as festas com os amigos? E a viagem mais desejada? E o reencontro com o irmão que retorna de um país distante? Quanto tempo durou o desfrutar dessas situações? Horas? Dias? Assim, vamos anotando na caderneta cada momento que desfrutamos. Quando alguém morre, é nosso costume, abrir sua caderneta para somar o tempo desfrutado a fim de escrevê-lo sobre sua tumba, porque esse é, para nossa tradição, o único e verdadeiro tempo vivido.



Jorge Bucay (In: Cuentos para pensar). Tradução Coccinelle (http://www.jesuiscoccinelle.blogspot.com/)


Coccinlle pregunta: ¿Cuanto tiempo hemos vivido?

sábado, 22 de novembro de 2008

Para Tia Charlotte. Finalmente!!




Ainda Uma Vez Adeus
(Gonçalves Dias)


I

Enfim te vejo! - enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhado A não lembrar-me de ti!


II

Dum mundo a outro impelido, Derramei os meus lamentos Nas surdas asas dos ventos, Do mar na crespa cerviz! Baldão, ludíbrio da sorte Em terra estranha, entre gente, Que alheios males não sente, Nem se condói do infeliz!


III

Louco, aflito, a saciar-me D'agravar minha ferida, Tomou-me tédio da vida, Passos da morte senti; Mas quase no passo extremo, No último arcar da esperança, Tu me vieste à lembrança: Quis viver mais e vivi!


IV

Vivi; pois Deus me guardava Para este lugar e hora! Depois de tanto, senhora, Ver-te e falar-te outra vez; Rever-me em teu rosto amigo, Pensar em quanto hei perdido, E este pranto dolorido Deixar correr a teus pés.


V

Mas que tens? Não me conheces? De mim afastas teu rosto? Pois tanto pôde o desgosto Transformar o rosto meu? Sei a aflição quanto pode, Sei quanto ela desfigura, E eu não vivi na ventura... Olha-me bem, que sou eu!


VI

Nenhuma voz me diriges!... Julgas-te acaso ofendida? Deste-me amor, e a vida Que me darias - bem sei; Mas lembrem-te aqueles feros Corações, que se meteram Entre nós; e se venceram, Mal sabes quanto lutei!


VII

Oh! se lutei!... mas devera Expor-te em pública praça, Como um alvo à populaça, Um alvo aos dictérios seus! Devera, podia acaso Tal sacrifício aceitar-te Para no cabo pagar-te, Meus dias unindo aos teus?


VIII

Devera, sim; mas pensava, Que de mim t'esquecerias, Que, sem mim, alegres dias T'esperavam; e em favor De minhas preces, contava Que o bom Deus me aceitaria O meu quinhão de alegria Pelo teu, quinhão de dor!


IX

Que me enganei, ora o vejo; Nadam-te os olhos em pranto, Arfa-te o peito, e no entanto Nem me podes encarar; Erro foi, mas não foi crime, Não te esqueci, eu to juro: Sacrifiquei meu futuro, Vida e glória por te amar!


X

Tudo, tudo; e na miséria Dum martírio prolongado, Lento, cruel, disfarçado, Que eu nem a ti confiei; "Ela é feliz (me dizia) "Seu descanso é obra minha." Negou-me a sorte mesquinha... Perdoa, que me enganei!


XI

Tantos encantos me tinham, Tanta ilusão me afagava De noite, quando acordava, De dia em sonhos talvez! Tudo isso agora onde pára? Onde a ilusão dos meus sonhos? Tantos projetos risonhos, Tudo esse engano desfez!


XII

Enganei-me!... - Horrendo caos Nessas palavras se encerra, Quando do engano, quem erra. Não pode voltar atrás! Amarga irrisão! reflete: Quando eu gozar-te pudera, Mártir quis ser, cuidei qu'era... E um louco fui, nada mais!


XIII

Louco, julguei adornar-me Com palmas d'alta virtude! Que tinha eu bronco e rude C'o que se chama ideal? O meu eras tu, não outro; Stava em deixar minha vida Correr por ti conduzida, Pura, na ausência do mal.


XIV

Pensar eu que o teu destino Ligado ao meu, outro fora, Pensar que te vejo agora, Por culpa minha, infeliz; Pensar que a tua ventura Deus ab eterno a fizera, No meu caminho a pusera... E eu! eu fui que a não quis!


XV

És doutro agora, e pr'a sempre! Eu a mísero desterro Volto, chorando o meu erro, Quase descrendo dos céus! Dói-te de mim, pois me encontras Em tanta miséria posto, Que a expressão deste desgosto Será um crime ante Deus!


XVI

Dói-te de mim, que t'imploro Perdão, a teus pés curvado; Perdão!... de não ter ousado Viver contente e feliz! Perdão da minha miséria, Da dor que me rala o peito, E se do mal que te hei feito, Também do mal que me fiz!


XVII

Adeus qu'eu parto, senhora; Negou-me o fado inimigo Passar a vida contigo, Ter sepultura entre os meus; Negou-me nesta hora extrema, Por extrema despedida, Ouvir-te a voz comovida Soluçar um breve Adeus!


XVIII

Lerás porém algum dia Meus versos d'alma arrancados, D'amargo pranto banhados, Com sangue escritos; - e então Confio que te comovas, Que a minha dor te apiade Que chores, não de saudade, Nem de amor, - de compaixão.

Lindinha, dedicado a você com todo carinho!!




Arte de amar


(Thiago de Mello)


Não faço poemas como quem chora,

nem faço versos como quem morre.

Quem teve esse gosto foi o bardo Bandeira

quando muito moço; achava que tinha os dias contados pela tísica

e até se acanhava de namorar.

Faço poemas como quem faz amor.

É a mesma luta suave e desvairada

enquanto a rosa orvalhada

se vai entreabrindo devagar.

A gente nem se dá conta, até acha bom,

o imenso trabalho que amor dá para fazer.

Perdão, amor não se faz. Quando muito, se desfaz.

Fazer amor é um dizer

(a metáfora é falaz)

de quem pretende vestir

com roupa austera a beleza

do corpo da primavera.

O verbo exato é foder.

A palavra fica nua para todo mundo ver

o corpo amante cantando a glória do seu poder.


La main de le destinée.


Colaboração de Christiane Viens.




Un vieux paysan chinois avait un cheval.Un jour, l’animal s’enfuit et ne rentra pas.Les voisins disent : " C’est pas de chance ! "L’homme répond :" Chance ou malchance, qui pourrait le dire ? "
Et voilà que quinze jours plus tard,le cheval revient à la ferme suivi d’une dizaine de chevaux sauvages.On dit au paysan : " Tu as bien de la chance ! "L’homme déclare :" Chance ou malchance, qui le sait ? "
Le fils du paysan saute sur une des montures,part à fond de train, tombe et se casse la jambe.Pour sûr, c’est de la malchance.Mais le père branle la tête :" Chance ou malchance, on verra bien. "
La guerre civile faisait rage dans la province.Une bande de soldats passe dans le village,emmenant de forcetous les jeunes gens en âge de porter un fusil.Seul le garçon à la jambe brisée ne part pas.Chance ou malchance, qui pouvait le dire ?
" Les choses ne sont pas toujours ce qu’elles semblent être. "
On ne sait jamais si tel événement est chance ou malchance,il faut attendre la fin de l’histoire et peut-être la fin de la vie.Alors, en se retournant, on verra mieux ce qu’il en était.
Em effet, souvenons-nous de cette parabole :
" Les choses ne sont pas toujours ce qu’elles semblent être. "
On ne sait jamais si tel événement est chance ou malchance,il faut attendre la fin de l’histoire et peut-être la fin de la vie.Alors, en se retournant, on verra mieux ce qu’il en était.

(Rapporté par D.H. Munich)

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Por Nossa Colaboradora Bel





EQUILÍBRIO

Por amar e sofrer e ser feliz
sei que tive da vida o natural
e se ela não me deu tudo o que quis
foi, talvez, porque eu quis sempre o irreal.

Ao lhe pedir amor nunca supus
Que lhe estava pedindo o bem e o mal,
que ora teria aos ombros uma cruz
ora ao céu subiria, imaterial.

Pois o amor tem nuances imprevistas
quem dele vive nunca faz conquistas
que possam ter feição definitiva.

São premissas do amor: o céu, o inferno;
e entre os dois sofro e gozo o amor eterno
e é por amar demais que inda estou viva.

REFERÊNCIA: Maria Braga Horta em Caminho de Estrelas 1996

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Esse Poema é Colabaroção de Coccienelle




GOVERNAR


(Carlos Drummond de Andrade)


Os garotos da rua resolveram brincar de Governo, escolheram o Presidente e pediram-lhe que governasse para o bem de todos.
- Pois não - aceitou Martim. - Daqui por diante vocês farão meus exercícios escolares e eu assino. Clóvis e mais dois de vocês formarão a minha segurança. Januário será meu Ministro da Fazenda e pagará o meu lanche.
- Com que dinheiro? - atalhou Januário.
- Cada um de vocês contribuirá com um cruzeiro por dia para a caixinha do Governo.
- E o que é que nós lucramos com isso? - perguntaram em coro.
- Lucram a certeza de que tem um bom Presidente. Eu separo as brigas, distribuo tarefas, trato de igual para igual com os professores. Vocês obedecem, democraticamente.
- Assim não vale. O Presidente deve ser nosso servidor, ou pelo menos saber que todos somos iguais a ele. Queremos vantagens.
- Eu sou o Presidente e não posso ser igual a vocês, que são presididos. Se exigirem coisas de mim, serão multados e perderão o direito de participar da minha comitiva nas festas. Pensam que ser Presidente é moleza? Já estou sentindo como este cargo é cheio de espinhos.
Foi desposto e dissolvida a República.

Como te amo?



Como te amo? Deixa-me contar de quantas maneiras.

Amo-te até ao mais fundo, ao mais amplo e ao mais alto que a minha alma pode alcançar buscando, para além do visível dos limites do Ser e da Graça ideal.

Amo-te até às mais ínfimas necessidades de todosos dias à luz do sol e à luz das velas.

Amo-te com liberdade, enquanto os homens lutampela Justiça;

Amo-te com pureza, enquanto se afastam da lisonja.

Amo-te com a paixão das minhas velhas mágoase com a fé da minha infância.

Amo-te com um amor que me parecia perdido - quando

perdi os meus santos - amo-te com o fôlego, os

sorrisos, as lágrimas de toda a minha vida!

E, se Deus quiser, amar-te-ei melhor depois da morte.






Elizabeth Barrett Browning

Lua adversa(Cecília Meireles )






Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Por Nossa Colaboradora Bel 3 Poemas





Se ela quisesse


Se ela tivesse
A coragem de morrer de amor
Se não soubesse
Que a paixão traz sempre muita dor
Se ela me desse
Toda devoção da vida
Num só instante
Sem momento de partida

Pudesse ela me dizer
O que eu preciso ouvir
Que o tempo insiste
Porque existe um tempo que há de vir
Se ela quisesse, se tivesse essa certeza
De repente, que beleza
Ter a vida assim ao seu dispor
Ela veria, saberia que doçura
Que delícia, que loucura
Como é lindo se morrer de amor
REFERÊNCIA: Vinícius de Moraes em Poesia Completa e Prosa “Cancioneiro” editora nova aguilar 1998



CONFISSÃO

Sejamos sinceros,
meu bem,
dispamos o pijamadas mitologias:
a eternidade não conhece o amor.



O amor também não sabe
verdadeiramente
o que é o amor


e, no fundo, nós nunca acreditamos muito
em parto
sem dor.

REFERÊNCIA: Iacyr Anderson Freitas em A soleira e o Século 2002



LXII


Que as barcaças do Tempo me devolvam
A primitiva urna de palavras.
Que me devolvam a ti e o teu rosto
Como desde sempre o conheci: pungente
Mas cintilando de vida, renovado
Como se o sol e o rosto caminhassem
Porque vinha de um a luz do outro.


Que me devolvam a noite, o espaço
De me sentir tão vasta e pertencida
Como se as águas e madeiras de todas as barcaças
Se fizessem matéria rediviva, adolescência e mito.
Que eu te devolva a fome do meu primeiro grito.


REFEFÊCIA: Hilda Hist em Amavisse de 1989

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Plagiando a saudade de lá estou com saudade aqui!!


Saudade.
(Iara Gonçalves!)

Sentimento que acompanha situações diferentes.


Saudade de quem partiu para não mais voltar e deixou lembranças doces guardadas como tesouro em nossos corações.




Saudade dos amores que perdemos e gostaríamos de ter guardado para sempre.


Saudade dos momentos que vivemos e das coisas que fizemos, e de muitas outras coisas que gostaríamos de ter feito.




Saudade do amigo que aos poucos foi partindo, como se lhe fosse permitido ir embora e deixar vazio seu espaço em nossas vidas.




Saudade para sempre, aquele sentimento que volta e meia nos faz parar no tempo e sussurrar ao vento, para que ele leve ao ouvido de quem perdemos, as palavras mágicas que acreditamos ser capazes de aliviar a saudade:

Volta logo, volta.







Acalanto
(Ada Ciocci.)

Vai amado.
Busca por onde quiseres,
com quem quiseres,
como quiseres,
o prazer.
Até mesmo,
aquele prazer que um dia alguém apelidou de amor.
E, se por acaso te cansares e,
do compromisso que um dia nos uniu te lembrares,
se desejares, volta.
Serei a que conforta.
Não saberás da dor, da saudade,
das lágrimas sentidas que tua ausência causou.

domingo, 9 de novembro de 2008

MOMENTOS NATIVOS




Walt Whitman
(Tradução: Coccinelle)

Momentos nativos – quando vens a mim – ah vós que aqui estais agora,
Dai-me neste instante tão somente diversões libidinosas,
Banhai-me com o líquido de minhas paixões, dai-me uma vida áspera e rançosa,
Ao dia eu me uno aos elementos da natureza, também noite a fora,
Eu estou para aqueles que acreditam em deleites livres, eu participo das orgias noturnas dos jovens varões,
Eu danço com os dançarinos e bebo com os beberrões,
Os ecos ressoam nossos clamores indecentes, eu escolho alguém frágil para meu amigo querido,
Ele deve ser delinqüente, rude, iletrado, deve ser alguém condenado pelos outros por suas faltas,
Não mais interpretarei papel algum, por que devo exilar-me de meus companheiros?
Oh vocês, marginais de toda espécie, eu não os evito,
Eu estou entre vocês, eu serei vosso poeta,
Estarei para vós mais que para os outros.

Para você lindinha!!!




Eu....
(Florbela Espanca)

Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho, e desta sorte
Sou a crucificada... a dolorida...

Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...

Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber por quê...

Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!


Florbela Espanca, Livraria Martins Fontes Editora, 1996 - S.Paulo, Brasil

sábado, 8 de novembro de 2008

Não sei




de Fátima Andersen

Não sei de mim
se daquilo que parece ser
me perdi.

Deixei que a vida me vivesse e,
perdendo-me da vida,
a vida perdeu-se.


E menti muito,
para ser melhor
poeta

sexta-feira, 7 de novembro de 2008



Para Peh e Cocci....Cora Coralina!!!






(Cora Coralina)

Nas palmas de tuas mãos


leio as linhas da minha vida.


Linhas cruzadas, sinuosas,


interferindo no teu destino.


Não te procurei, não me procurastes


– íamos sozinhos por estradas diferentes.


Indiferentes, cruzamos


Passavas com o fardo da vida...


Corri ao teu encontro.


Sorri. Falamos.


Esse dia foi marcado com a pedra branca


da cabeça de um peixe.


E, desde então, caminhamos


juntos pela vida...










Saber Viver


(Cora Coralina)




Não sei... Se a vida é curta Ou longa demais pra nós,


Mas sei que nada do que vivemos Tem sentido,


se não tocamos o coração das pessoas.




Muitas vezes basta ser:


Colo que acolhe,


Braço que envolve,


Palavra que conforta,


Silêncio que respeita,


Alegria que contagia,


Lágrima que corre,


Olhar que acaricia,


Desejo que sacia,


Amor que promove.


E isso não é coisa de outro mundo,


É o que dá sentido à vida.


É o que faz com que ela


Não seja nem curta,


Nem longa demais,


Mas que seja intensa,


Verdadeira, pura...


Enquanto durar





Por nossa colaboradora Bel 3 lindos poemas:


Poema da Eternidade

Eternidade...
Os que vão morrer te saúdam
Com as mãos crispadas de frio
E os olhos vidrados pela contemplação da noite;
Nós que sentimos a solidão crescer na alma,
Planta vinda das raízes do ser,
Regada pelo pranto que nunca chega aos olhos;
Nós que possuímos a intuição do efêmero,
A seiva das árvores seculares
E a tristeza dos lobos da floresta;
Nós que deixamos nossos corpos
Plantados como marcos
À beira das estradas;
Nós, os transitórios caminheiros,
Que morremos na arena do espaço
Dilacerados pelos búfalos do tempo;
Nós, os escravos da vida e o alimento da morte,
Que entramos no anfiteatro de pedra
Com os pulsos atados pela dúvida,
Com os olhos cobertos pela poeira dos séculos
E a palavra cimentando os lábios partidos
-Nós, os mortos de amanhã,
Te saudamos,
Primeira e última Rainha do Silêncio!

Paulo Bonfim em 50 Anos de Poesia pág. 63 de 2000




PRESENÇA



É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas,

teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento

das horas ponha um frêmito em teus cabelos

...É preciso que a tua ausência trescales

utilmente, no ar, a trevo machucado,

as folhas de alecrim desde há muito guardadas

não se sabe por quem nalgum móvel antigo

...Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janelae

respirar-te, azul e luminosa, no ar.

É preciso a saudade para eu sentir

como sinto - em mim - a presença misteriosa da vida

...Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista

que nunca te pareces com o teu retrato

...E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te.


Mario Quintana em Apontamentos de História Natural de 1976




Amém


Hoje acabou-se-me a palavra,

e nenhuma lágrima vem

Ai, se a vida se me acabara

também.



A profusão do mundo, imensa,

tem tudo, tudo - e nada tem.

Onde repousar a cabeça?

No além?



Fala-se com os homens, com os santos,
Consigo com Deus

...E ninguém entende o que se está contando

e a quem...



Mas terra e sol, luas e estrelas

giram de tal maneira bem

que a alma desanima de queixas.

Amém.


Cecília Meireles em Vaga Música de 1942

terça-feira, 4 de novembro de 2008




Poemas dos Dois Exílios


Análogo começo

(Fernando Pessoa)


Análogo começo.

Uníssono me peço.

Gaia ciência o assomo

— Falha no último tomo.




Onde prolixo ameaço

Paralelo transpasso

O entreaberto haver

Diagonal a ser.




E interlúdio vernal,

Conquista do fatal,

Onde, veludo, afaga

A última que alaga.




Timbre do vespertino.

Ali, carícia, o hino

O utonou entre preces,

Antes que, água, comeces.



segunda-feira, 3 de novembro de 2008




A contribuição de Coccinelle para o blog‏.
Um verso que é pura lascívia dedicado a BEL.

Como Adão ao amanhecer

Como Adão ao amanhecer
Deixando a sombra dos arvoredos, refrescado pelo sono,
Observa-me quando eu passar, ouça minha voz, aproxima-te
Toca-me, coloca a palma da tua mão sobre meu corpo quando eu passar
Não tenhas receio de meu corpo.

Walt Whitman (Folhas da relva / Leaves of grass). Tradução Coccinelle.